domingo, 17 de dezembro de 2017

Vinicius Torres Freire: Lula e os pobres na eleição bananeira

- Folha de S. Paulo

Da eleição de 2018, o que se pode dizer de menos incerto é que deve ser uma disputa bananeira, que se ignoram obviedades sobre o sucesso de Lula e que a maioria da elite, nós, está se lixando para o que os pobres estão a dizer.

Nessa democracia esmolambada, Lula pode ser um tumulto judicial até 20 dias antes do primeiro turno, partidos sem voto podem apelar a forasteiros da política, um ferrabrás das cavernas é assunto nacional e parlamentares federais serão candidatos a fugir da polícia, metade deles, por aí.

A conversa política por enquanto trata de: 1) como enganar o eleitor a respeito da dureza que será o próximo governo; 2) como caçar e cassar Lula; 3) quem pode ser a marionete à frente de um programa ou candidato liberal por ora sem voto: o "novo", o "outsider". Este também seria o problema de um programa ou candidato social-democrata sem voto. "Seria": não há programa social-democrata.

Lula não seria o social-democrata? Por ora, é apenas o candidato de si mesmo e o líder entre os mais pobres (leva o voto de 46% dos eleitores que dizem ter renda familiar até dois salários mínimos, metade do eleitorado). Na sua caravana de campanha, limita-se a dizer disparates eleitoreiros ou a insultar a decência, como no dia em que lamentou a sorte dos ex-governadores encarcerados do Rio.

Ser o preferido dos mais pobres pode ser parte de um programa, que não é apenas um plano escrito de governo, mas também um conjunto de alianças, lideranças e quadros dirigentes. Lula ainda não apresentou planos, alianças etc. Mas os pobres continuam com ele.

Corre a lenda de que Lula tem um terço do eleitorado, nem muito mais nem menos, em uma eleição "polarizada". Hum.

No Datafolha de final de novembro, Lula teve em média 36% dos votos e 39% de rejeição absoluta, eleitor que não vota nele de jeito nenhum. Mas, convém prestar atenção, cerca de 25% dos eleitores admitiam a hipótese de votar no ex-presidente: não votam nele por agora, mas não o rejeitam. Trata-se, portanto, de um eleitorado tripartido.

Lula lidera disparado no Nordeste e no Norte. Mas, mesmo que essas regiões derivassem pelo oceano Atlântico e não votassem, Lula ainda assim venceria hoje um primeiro turno.

A obviedade sobre Lula é que ele lidera entre os deserdados, a metade do país. Lidera entre aquelas pessoas que mais dizem sofrer com a crise, as mais pessimistas sobre a economia, as que mais dizem ser o desemprego o principal problema.

O jornalista parece um pateta ao comentar notícia tão velha. Mas, além de planos de lançar uma criatura midiática de apelo popular, o que se tem ouvido sobre um programa para os pobres? Essas pessoas pouco vão melhorar de vida até a eleição. Reclamam mais da falta de hospital, remédio e emprego. Quase 90% delas por ora não votam no capitão do mato. O que Alckmin, Marina, Ciro ou "x" vão dizer de eficaz a esse povo?

RECORDAR É VIVER
Em dezembro de 1993, pouco menos de um ano antes da vitória de FHC, Lula liderava as pesquisas, todo o mundo sabe. Quem vinha nos segundos lugares de cada cenário? José Sarney ou Antônio Britto, pelo PMDB, e Paulo Maluf, PPB.

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