quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Zeina Latif*: Precisamos falar sobre Lula

- O Estado de S.Paulo

Se Lula ganhar a eleição, será um presidente com credibilidade comprometida

A participação ou não do ex-presidente Lula nas eleições presidenciais poderá afetar profundamente o quadro eleitoral e as estratégias de partidos e candidatos, bem com o sentimento de investidores.

A avaliação de muitos analistas é que Lula será condenado em segunda instância. Sua inelegibilidade, no entanto, não é automática. Poucos arriscam o timing para isso, pois há muitas incertezas sobre os procedimentos judiciais. Ainda que muitos apontem o senso de urgência da Justiça para reduzir a incerteza eleitoral, haveria probabilidade relevante de Lula pelo menos participar da campanha eleitoral.

Ao menos na economia, não há sinais de discurso incendiário, ameaçando com retrocessos e guinadas bruscas na política econômica. Lula provavelmente reconhece que não há apelo para isso, uma vez que o País vem entrando nos trilhos. Ele afirma que Dilma errou (apesar de ser algo amplamente apontando, vindo de Lula, tem outro peso), questiona a legitimidade do presidente Michel Temer para conduzir reformas estruturais (muitos o fazem) e, ao defender seu legado, critica a agenda do governo, que supostamente teria perdido o foco no social. Nada muito além disso.

Lula é um político pragmático. A julgar por suas declarações e seu passado, ele reconhece que para ser competitivo precisará de discurso contundente (como tem feito na defesa de sua inocência), porém responsável na economia. Nada diferente, a propósito, do que vem sendo feito pela maioria dos candidatos.

Em 2002 a campanha gerou enorme volatilidade nos mercados, mas eram outras circunstâncias. O discurso de Lula foi mais ponderado do que nas campanhas anteriores, mas ele era considerado pouco crível, afinal, o passado o condenava. Lula venceu a desconfiança rapidamente, adotando discurso e política econômica ainda mais conservadores do que de FHC – elevou as metas fiscais e subiu os juros. Na área social, deixou de lado a cartilha petista e adotou políticas de cunho liberal. Na economia e no social, seu primeiro mandato teve muitos méritos. Inquestionável, contudo, a piora do segundo mandato, bem como os escândalos de corrupção.

Do ponto de vista institucional, a candidatura de Lula seria ruim para o País. Qualquer que seja seu envolvimento com os graves escândalos de corrupção (para alguns faltam provas, para outros, sobram), o ideal seria o ex-presidente enfrentar a Justiça e só depois de absolvido concorrer. Como explicar a quem quer produzir e investir no Brasil que um político com várias acusações contra ele, além de condenação na primeira (e talvez segunda) instância, poderá ser candidato?

Se Lula ganhar a eleição, mais complicado ainda. Será um presidente com credibilidade comprometida, o que poderá dificultar enormemente a construção de alianças no Congresso e o diálogo com o Judiciário. Essas pontes são hoje mais importantes do que nunca para o País avançar na urgente agenda estrutural. Lula buscará construir as pontes. Mas a desafiadora tarefa poderá gerar paralisia no governo por tempo demais, algo que custaria muito ao País. As alianças seriam também frágeis, limitando o alcance das reformas.

Além disso, Lula, como qualquer presidente, precisará de bons auxiliares. Time econômico, articuladores políticos e ministros competentes. A capacidade de atrair talentos está prejudicada.

O risco com Lula não é de colapso econômico, como foi com Dilma, e tampouco de um governo bolivariano. Nem Lula é ditador de esquerda, nem nossas instituições um desastre. E as instituições têm funcionado cada vez melhor. Hoje nem Dilma conseguiria repetir tantos erros.

Os riscos econômicos não são extremos, mas sim de mediocridade. De um país que avança tão lentamente que estará fadado a crescer pouco e com muitos solavancos, ao invés de ter crescimento mais acelerado e com ciclos mais suaves e longos.

Este risco não será só com Lula. Será com qualquer presidente que não consiga construir alianças na política e diálogo com as demais instituições, em torno de uma agenda republicana.
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*Economista

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