terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Opinião do dia – José de Souza Martins

”Este foi mais um ano de perdas para o Brasil. Nossa grande perda foi a do autoaniquilamento do Partido dos Trabalhadores, que arrastou consigo boa parte do nosso sistema partidário. Porque, mais do que a imensa maioria dos partidos políticos brasileiros, o PT nasceu para cumprir uma função histórica que nenhum outro poderia cumprir. Ele poderia ter sido o grande canal de expressão daquela parcela da população que a história condenara ao silêncio. Mas partidarizou sem politizar, incluiu sem democratizar, anexou os diferentes sem gestar o direito à diferença. O PT foi vitimado pelos equívocos e ambições das facções de militantes mais escravas da ideologia do que ativistas do historicamente possível. Sucumbiu à incapacidade de consumar a ruptura histórica que alardeara em sua ascensão ao poder. Revelou-se igual aos partidos que abomina. Negou-se, mergulhando na conciliação com o crônico conformismo da história política brasileira. Optou pela mera hegemonia, mais para desfrutar do que para governar. Para opor-se ao PSDB, que equivocadamente elegeu como inimigo seu e dos pobres, ainda que formados ambos da mesma matéria-prima social-democrática, associou-se à direita e ao oligarquismo retrógrado. O qual, com essa aliança, se fortaleceu para, no final, cuspir do casulo do poder o parasita oportunista e ingênuo, o PT.”
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José de Souza Martins, sociólogo, membro do Conselho Superior da Fapesp e da Academia Paulista de Letras. ‘Um País a inventar’, Aliás | O Estado de S. Paulo, 1/1/2017.

Maia diz que disputa pela Presidência da Câmara deve ser vencida no voto

• Presidente da Câmara critica recurso ao Supremo para impedir a candidatura dele

Isabel Braga | O Globo

BRASÍLIA -. Sem admitir formalmente que se lançará candidato à reeleição, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu em entrevista nesta segunda-feira que quem decide se ele pode ou não ser candidato é a própria Casa e não do Supremo Tribunal Federal (STF). Contrários à possibilidade de reeleição de Maia, adversários dele na disputa recorreram ao STF para tentar barrar sua candidatura. O atual presidente da Casa, que assumiu a vaga depois que o ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi cassado, disse que é uma incoerência recorrer ao Supremo e que a disputa pela presidência deve ser vencida no voto. E mantém a eleição no próximo dia 2 de fevereiro.

- É uma questão política, da Casa. É o momento da Casa reafirmar seu poder e decidir internamente. A gente sempre reclama que o Supremo decide pela Câmara e na hora que a gente tem o poder de decidir no voto, muitos não querem, querem que o Supremo decida. Olha que incoerência! - disse Maia, acrescentando:

Em recado ao STF, Maia diz que eleição na Câmara é questão interna

Daniel Carvalho | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Após um ano marcado pelo choque entre Legislativo e Judiciário, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), mandou nesta segunda-feira (2) um recado ao STF (Supremo Tribunal Federal): o imbróglio jurídico sobre a possibilidade de ele disputar a reeleição é uma questão interna da Casa.

"É uma questão política, uma questão da Casa. É um momento em que a Casa precisa reafirmar o seu poder e decidir internamente. A gente sempre reclama que o Supremo decide pela Câmara. Na hora que a gente tem o poder de decidir no voto, muitos não querem, querem que o Supremo decida. Olha que incoerência", afirmou Maia, após dar posse a oito deputados que ocupam as vagas deixadas por parlamentares que assumiram cargos em prefeituras neste ano.

Maia ainda não oficializou sua candidatura, mas já tem se movimentado com uma série de conversas com deputados e com o Palácio do Planalto.

O grupo de seus adversários –Jovair Arantes (PTB-GO), Rogério Rosso (PSD-DF) e André Figueiredo (PDT-CE)– questiona na Justiça a possibilidade de Rodrigo Maia tentar ser reconduzido, já que a Constituição veda reeleição ao comando da Casa dentro de uma mesma legislatura.

Já Maia e seus aliados alegam que o texto constitucional não aborda mandatos-tampões, caso do atual presidente, que assumiu o cargo após disputa para suceder o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em julho de 2016.

Por causa do recesso, o Supremo não deve se manifestar antes da eleição, marcada para 2 de fevereiro. Para Maia, caso ele seja eleito, não haverá insegurança jurídica.

Candidatos a presidente da Câmara começam campanha

• Deputados que vão disputar o comando da Casa viajam pelo País em busca de apoio das bancadas; eleição está marcada para fevereiro

Igor Gadelha | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Os principais candidatos a presidente da Câmara começam nesta semana a viajar em campanha pelo Brasil. Eles buscam apoio das bancadas para se elegerem em 2 de fevereiro, data da eleição para o comando da Casa e outros cargos da Mesa Diretora.

Apesar de não confirmar publicamente que tentará a reeleição, o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já marcou viagens. Ele convidou a bancada de deputados federais de Pernambuco para um almoço na sexta-feira, no Recife.

Maia tem o apoio da maioria do PSDB, PPS, DEM e de alguns parlamentares da oposição. Embora oficialmente diga que não vai se envolver na disputa, o Palácio do Planalto também trabalha nos bastidores pela reeleição do deputado fluminense.

O foco do presidente da Câmara tem sido garantir apoio do PMDB, maior partido da Casa e a quem o deputado do DEM ofereceu a primeira-vice-presidência da Câmara em sua chapa. Ele também articula para tentar rachar o Centrão, grupo de 13 partidos da base aliada ao governo, liderado por PP, PSD e PTB, e que tem dois candidatos ao comando da Casa.

Empreiteiras investigam roubo de propinas a políticos

Maíra Magro | Valor Econômico

BRASÍLIA - Num ambiente em que reinava a corrupção, empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato não figuraram apenas como agentes de desvio de recursos públicos. Provando da mesma lógica, também viraram alvo de desvios dentro do desvio. Grandes empreiteiras, entre elas a Odebrecht, começaram a identificar casos em que funcionários responsáveis por operar o pagamento de propina acabavam embolsando parte do dinheiro, desviado para contas no exterior ou benefícios pessoais. A situação veio à tona em investigações internas e nas dezenas de processos de delação premiada fechadas com executivos.

O Valor apurou que um dos executivos suspeitos de abocanhar dinheiro de propina teve dinheiro encontrado em uma conta em Genebra, na Suíça. A informação da conta só veio à público com o vazamento conhecido como SwissLeaks, feito por um ex-técnico do HSBC. Outra suspeita recai sobre um dos mais altos executivos de uma grande construtora que fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público.

Para pedetista Carlos Lupi, Lula vai desistir de ser candidato

Catia Seabra | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Presidente nacional do PDT, Carlos Lupi diz duvidar do lançamento da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas próximas eleições. Segundo Lupi, Lula "não quererá se expor após as denúncias" de que é alvo.

Para o presidente do PDT, Lula apresenta a candidatura como "autodefesa no processo da Justiça" e como "palco para se defender".

Ex-ministro de Dilma Rousseff e defensor da candidatura de Ciro Gomes (PDT) a presidente, Lupi afirmou nesta segunda-feira (2) que não acredita que o petista tenha seus direitos políticos cassados em decorrência da Operação Lava Jato, até porque "esses processos na Justiça demoram".

Mas, na sua opinião, o próprio Lula não se lançará para a disputa.

Segundo Lupi, "depois de toda essa exposição, a liderança do Lula nas pesquisas é um milagre que ele não vai jogar fora".

"Lula não ganha nada com isso. Ele já está na história como o maior presidente do Brasil no campo social. Ele vai destruir isso a troco de quê?"

Odebrecht pagou propina 8 vezes ao Panamá

• Segundo documentos do Ministério Público da Suíça, repasses foram feitos a ‘alto membro do governo’ local

Jamil Chade e Fábio Serapião | O Estado de S. Paulo

GENEBRA e BRASÍLIA - Planilhas apreendidas pelo Ministério Público da Suíça revelam ao menos oito repasses de propina da Odebrecht a um “alto membro do governo” local. Ao todo, segundo os investigadores do país europeu, a empreiteira pagou 32,8 milhões de francos suíços (R$ 104 milhões) ilegalmente.

Documentos obtidos pelo Estado revelam que os pagamentos ocorreram entre 16 de dezembro de 2009 e 27 de agosto de 2012. A propina teria sido paga “em troca de projetos” que a Odebrecht realizaria. Para realizar os pagamentos sem deixar rastros, pelo menos duas transferências envolveram empresas de fachada criadas no próprio Panamá.

O MP suíço aponta integrantes do gabinete do ex-presidente Ricardo Martinelli, que governou o país de 2009 a 2014, como destinatários do dinheiro e dá detalhes de cada um dos pagamentos que estavam nos servidores que a construtora brasileira mantinha na Suíça e que foram confiscados pelos procuradores de Berna.

Movimentos prometem voltar às ruas em 2017

• Reformas da Previdência e trabalhista, corrupção, PEC do Teto de Gastos e desemprego devem mobilizar manifestantes neste ano

Gilberto Amendola | O Estado de S. Paulo

Entidades, sindicatos e movimentos sociais dão como certa a realização de manifestações ao longo do ano que se inicia. A questão é saber quais serão os motes, as causas, as bandeiras que levarão as pessoas às ruas em 2017.

Sem uma causa que unifique os diferentes grupos, as próximas manifestações devem ganhar novos gritos e propósitos, segundo organizadores dos principais atos no passado. Além do “Fora, Temer”, estarão em pauta a reforma da Previdência, o pacote anticorrupção, a Proposta de Emenda à Constituição que limita os gastos públicos – a PEC do Teto –, os índices de desemprego e até “Diretas-Já”.

“A pauta que vai puxar os protestos contra o governo é o combate à reforma da Previdência. Vamos partir dessa proposta absurda de reforma e, no fim, chegaremos ao grito de ‘Diretas-Já’”, disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas.

Além da CUT, entidades ligadas aos movimentos estudantis também pretendem se mobilizar. “Os movimentos de direita estarão constrangidos em defender um governo indefensável. Nós vamos para as ruas contra a reforma da Previdência e, principalmente, contra a PEC dos gastos públicos, que acaba com os investimentos em educação e condena o futuro do País”, afirmou a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral.

Mesmo a Força Sindical, que tem ficado ao lado do governo do presidente Michel Temer, se diz disposta a ir para as ruas discutir a reforma previdenciária. “Se o governo insistir nesse modelo previdenciário, vai ser impossível não protestar. Os trabalhadores não podem deixar isso passar da forma que está colocado”, afirmou o secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna.

Sucesso antiausteridade

Um ano após chegar ao poder em Portugal com sua aliança antiausteridade, o socialista António Costa goza de índices de aprovação com que os outros dirigentes europeus de centro-esquerda não podem sequer sonhar. "Mostramos que é possível uma alternativa", afirma o premiê.

Premiê de Portugal desafia a austeridade e se mantém firme

Por Peter Wise | Financial Times | Valor Econômico

LONDRES - Quando António Costa prestou juramento como primeiro-ministro de Portugal, em novembro de 2015, os opositores consideravam o líder socialista um aventureiro temerário que havia chegado ao poder por meio de um pacto diabólico com os comunistas e a esquerda radical.

"Espero não ser chamado de volta para uma casa em chamas", disse Pedro Passos Coelho, o premiê de centro-direita que lhe passou o cargo e que tinha comandado Portugal ao longo de um duro pacote de resgate financeiro da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Até agora, não houve nenhum incêndio. Um ano depois de chegar ao poder, Costa goza de índices de aprovação em pesquisas de opinião com os quais os demais líderes europeus de centro-esquerda não conseguem nem sonhar. A sua aliança antiausteridade se manteve firme e, segundo uma autoridade do governo, Portugal se tornou "uma ilha de estabilidade" em meio a um mundo turbulento.

"Mostramos que é possível uma alternativa [à austeridade]", diz o premiê. Partidos antiestablishment - como o Podemos da Espanha - veem o governo de Costa como um modelo a ser imitado, enquanto Jeremy Corbyn, o líder do oposicionista Partido Trabalhista do Reino Unido, o saudou como o início de "uma coalizão antiausteridade em toda a Europa".

A política de sempre - Merval Pereira

- O Globo

Tivemos de tudo no dia em que prefeitos e vereadores de mais de 5 mil municípios tomaram posse para novos mandatos. A crise falou mais alto, e vários prefeitos reduziram o secretariado, cortaram despesas, a ordem de não gastar prevaleceu, inclusive nas duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro. Mas a velha política teima em não nos abandonar.

Brigas de soco em Catanduva e cadeiradas diversas em várias cidades. Prefeitos de Ipatinga (MG), Timóteo (MG) e Tianguá (CE) assumiram mandatos com base em liminar polêmica do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, que suspendeu uma decisão também polêmica da Justiça Eleitoral.

Os três tiveram o registro negado porque foram condenados antes de vigorar a Lei da Ficha Limpa, de 2010. Na época, a condenação implicava inelegibilidade pelo prazo de três anos. Depois da Lei da Ficha Limpa, o prazo mudou para oito anos, e o TSE decidiu que a pena retroagiria. Como o Supremo ainda não se definiu sobre o caso, Gilmar Mendes sustentou a liminar no seu entendimento, que fora voto vencido.

Os sofistas - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• Foi para os que ainda vivem nesse mundo das sombras bruxuleantes que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou, em sua mensagem de ano-novo

É muito conhecida a alegoria da caverna de Platão, uma das passagens mais importantes do livro A República, o clássico dos clássicos da política, no qual o filósofo grego discute o papel do conhecimento, da linguagem e da educação no Estado ideal. Nela, resumidamente, prisioneiros acorrentados no interior de uma caverna dão nomes às sombras bruxuleantes de homens, animais e plantas projetadas na parede pela luz de uma fogueira.

Um dos prisioneiros se livra das amarras e, ao percorrer a caverna, percebe que as imagens não eram de seres reais, mas de estátuas cujas silhuetas eram projetadas pela fogueira. Descobre que passou a vida inteira julgando apenas sombras e ilusões, desconhecendo a verdade, isto é, a verdadeira realidade. Arrastado para fora da caverna, ao sair, o homem é ofuscado pela luz do sol. Depois de se habituar com a nova realidade, volta a enxergar fora da caverna.

Um governo no corredor da morte - Raymundo Costa

- Valor Econômico

• A Odebrecht fez da propina um grande e lucrativo negócio

O ano passou mas a pergunta ficou: Michel Temer chega ao fim do mandato? O mais provável é que sim, se não tiver forte oposição das ruas. A Lava-Jato é o ponto fraco do governo, como foi o de seu antecessor, chefiado pelo PT. Mas ao contrário de Dilma Rousseff, o atual presidente tem maioria no Congresso e capacidade, testada na prática, para tocar a agenda mínima de reformas reclamadas pelos setores produtivos.

Não é fácil tirar um presidente do cargo. E não há saída à vista que não seja constitucional. Não há espaço para ruptura democrática, apesar das bobagens que andam dizendo em nome da ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), quarto nome na linha sucessória, depois do vice-presidente da República, do presidente da Câmara e do presidente do Senado Federal.

Além de maioria parlamentar, Temer tem a seu favor a falta de opção: se ele sai agora, o Congresso elege o sucessor. Pode ser Fernando Henrique Cardoso ou o deputado Waldir Maranhão (PP-MA). Em comum os dois têm o fato de que ambos não dispõem do mesmo poder de fogo de Temer com o Congresso. A agenda mínima de reformas joga a favor do presidente.

Banho de sangue - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

• O massacre de Manaus pode ser tudo, menos uma surpresa nesse caos

A matança de 56 presos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, de Manaus, já no primeiro dia do ano, deixa um gosto amargo, um pavor generalizado e a constatação de que há um mundo real despedaçado para além dos dados econômicos, dos desmandos políticos, das revelações escandalosas da Lava Jato.

Inflação acima da meta, os juros mais exorbitantes do planeta, risco de estagnação da economia em 2017 e as delações da Odebrecht deixando o Congresso e o governo em pânico. Mas é preciso também olhar – e reportar – a realidade dos 12 milhões de desempregados, a violência urbana fora de controle e o descalabro medieval no sistema penitenciário.

Menos, Moro - Fábio Zanini

- Folha de S. Paulo

O ano que passou foi do juiz Sergio Moro, venerado e detestado com igual paixão ao comandar os lances espetaculares da Operação Lava Jato. Num cenário pesquisado pelo Datafolha em dezembro, cravou 11% para presidente, acima, por exemplo, dos tucanos Aécio Neves (7%) e Geraldo Alckmin (5%).

Era saudável ver a figura ponderada e técnica de Moro no comando de uma operação tão sensível, um feliz contraste com o chiliquento ocupante anterior da vaga de primeiro-juiz da nação, Joaquim Barbosa. Mas em 2016, Moro começou a escorregar. Aqui vão apenas alguns exemplos:

Em março, quando camisas amarelas tomaram a Paulista, no maior protesto contra Dilma Rousseff, Moro uniu-se ao coro com uma nota em que se dizia "tocado" pelas menções a seu nome e louvava o trabalho "robusto" do Ministério Público Federal —parte nas ações que ele tem de julgar de forma isenta.

O que os búzios dizem - José Márcio Camargo

- O Estado de S. Paulo

• O que podemos esperar do comportamento da economia brasileira neste novo ano?

Ano novo, vida nova. É hora de jogar os búzios e interpretar o que eles estão dizendo para 2017. O que esperar do comportamento da economia brasileira neste novo ano? Porém, não confiem muito. Afinal, ainda que os búzios estejam sempre corretos, a probabilidade de que nossa leitura esteja certa não passa de 50%. Mas não se esqueçam: a probabilidade de errar também é de 50%.

Nossa leitura diz que a taxa de desemprego na economia brasileira deverá continuar a aumentar até o primeiro trimestre de 2017, quando terá atingido um número próximo a 13% da força de trabalho, estabilizando a partir daí pelo menos até o final do ano. Teremos 1 milhão de desempregados a mais no final do primeiro semestre do próximo ano. O aumento do desemprego vai intensificar a queda da taxa de inflação de serviços a partir do primeiro trimestre, devendo atingir um nível próximo a 4,5% no fim do ano.

Os riscos do baixo crescimento em 2017 - Sergio Lamucci

- Valor Econômico

• Economia fraca pode contaminar política e afetar ajuste fiscal

A tão esperada recuperação da economia ficou para este ano, e a aposta predominante é num PIB bastante fraco em 2017, com crescimento na casa de 0,5%. O risco de variação zero ou mesmo de nova retração não é desprezível. No mercado de trabalho, a expectativa é que a deterioração continue ao longo de boa parte do ano. A taxa de desemprego, hoje um pouco abaixo de 12%, pode superar 13%. Com a demora da retomada, uma ameaça é a economia voltar a afetar o quadro político, dificultando o avanço da agenda de reformas no Congresso. Outro problema é complicar a já difícil situação fiscal, ao adiar a melhora da arrecadação.

As estimativas para 2017 são pouco animadoras. No entanto, os analistas esperam que a economia ganhe força ao longo do ano, em especial a partir do segundo semestre. O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), por exemplo, projeta crescimento de 0,3% na média de 2017, mas espera que o PIB cresça no quarto trimestre 0,7% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal, o equivalente a um pouco mais de 2,8% em termos anualizados.

Gestão e marketing - Miriam Leitão

- O Globo

Quando o prefeito Marcelo Crivella, repetindo palavras de Tancredo Neves, disse que “é proibido gastar”, ele já tinha gastado. Ao decidir não aumentar os ônibus, ele estava tomando uma decisão que é despesa. Ele pode até dizer que quis fazer esse gasto, mas sua decisão significa que dos cofres da prefeitura sairá mais dinheiro para o subsídio pago às empresas de ônibus.

Quando o prefeito João Dória Júnior se vestiu de gari, ele estava fazendo um ato que nada tem a ver com governar, mas sim com propaganda. Se quiser a cidade mais limpa, há muito o que um prefeito pode fazer além desse gesto de mera demagogia. Ao decidir acabar com a extravagante frota de 1.300 carros que serve ao prefeito, ao secretariado e alto funcionalismo, Dória faz muito bem. Ele mandou o secretariado andar de Uber ou de táxi. Quem paga? Se for o cidadão, então é tudo marketing. Ao dizer que é um “gestor”, o prefeito de São Paulo está aproveitando a onda antipolítico. Se ele for um bom, ótimo. Ainda terá que provar, porque sua experiência empresarial é muito específica.

Quem capitaneia? - Nelson Paes Leme

- O Globo

• Nada mais assustador do que a ausência total de liderança. Por parte do governo Temer, nada a esperar, ainda mais após a bomba nuclear detonada pela Odebrecht

Há uma passagem na obra de Guimarães Rosa que tem tudo a ver com a explosiva situação atual política do Brasil. “Grande Sertão: Veredas” foi incluído no Clube do Livro da Noruega como um dos cem livros mais importantes de todos os tempos. No sertão agressivo e épico das Gerais, estrebucha o líder Medeiro Vaz: “O queixo dele não parava de mexer”... Assim o gênio de Cordisburgo relata a morte do capitão dos jagunços: “Quem vai ficar em meu lugar? Quem capitaneia?”, preocupava-se o moribundo em seus estertores murmurantes. E o olhar percorria o entorno, aflito. Essa a maior preocupação de quem lidera de verdade, ainda que jagunços.

Contraindo-se de dor no divertículo, às vésperas de ser internado no Hospital de Base em Brasília, a maior preocupação de Tancredo Neves nem era com a própria vida, mas com o destino da transição democrática que se iniciava com sua posse e dela dependia dramaticamente. Sem ele, que tudo planejara minuciosamente, quem capitanearia? Ulysses? Sarney? Ou uma reviravolta castrense promovida por Octávio Medeiros retomaria o poder militar em favor do retrocesso? Tancredo sofria muito mais com essa dúvida do que com as próprias dores de sua moléstia. Relutante até o momento em que a dor física o derrubou, não queria se operar do tumor que acabou por levá-lo de vez para outras paragens desse Universo de Deus sem chegar a conduzir a transição democrática, como meticulosa e enxadristicamente matutara.

Tudo foi muito mais confuso e nebuloso no Brasil de 2016 que findou, uma das dez maiores economias do planeta, cotada pelo FMI (rebaixada recentemente) como quarta até 2030, abaixo apenas de China, EUA e Índia, nessa ordem. Crise econômica gravíssima turbinada por crimes políticos medonhos. Empresas gigantescas e seus diretores e acionistas processados junto com políticos do mais alto escalão, muitos já encarcerados e delatando seus asseclas sem qualquer cerimônia. Perda de referências da cidadania. Desânimo e desencanto em ano eleitoral municipal e suas patéticas escolhas sufragadas. 

Atores e personagens da história nunca dantes tão medíocres e tão comprometidos com a incúria, com a rapinagem e com a roubalheira geral do Erário. Mas nada mais assustador do que a ausência total de liderança. Por parte do governo Temer, nada mesmo a esperar, ainda mais depois da bomba nuclear detonada pela Odebrecht. Dilma não era nem nunca foi “do ramo”. Além de inepta, suspeita e inapetente, expressava-se miseravelmente em língua pátria. Era a “mulher sapiens” na boca dos humoristas. Virou a grande piada de mau gosto nacional. Lula, considerado o capo di tutti capi, às voltas com a Justiça Federal. A saída estaria no Congresso. Mas quem capitaneia o Congresso? Aponte-se um verdadeiro líder de ficha razoavelmente limpa, com credibilidade e coragem, no nauseabundo Parlamento brasileiro. 

Sintomaticamente, os líderes estão, ainda anônimos, em gestação nos movimentos espetaculares que colocam multidões nas ruas, embora absolutamente inorgânicos. Mas existem, certamente. Na década de 1940, no ocaso do Estado Novo, poucos sabiam quem era Carlos Lacerda ou Juscelino Kubitscheck. Eram lideranças em gestação que entrariam 20 anos depois para os compêndios de História do Brasil.

Hoje essas lideranças invisíveis vão dando, pelas redes sociais, as ordens no terreiro e comandando a massa, como na magistral poesia de Gilberto Gil. Vaiam a direita e a esquerda. Vaiam governo e vaiam oposição. Lideram e mobilizam as massas inorgânicas pela internet. Na verdade, estão essas massas repugnadas com a política. Identificam-se com a Polícia Federal, o Ministério Público e apostam na judicialização crescente e avassaladora da política, exatamente porque uma legislatura avacalhada e desmoralizada não se impõe e os partidos políticos, multiplicando-se como células cancerosas, perderam totalmente qualquer vestígio de credibilidade e interação social. Quem capitaneia?

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Nelson Paes Leme é cientista político

Promessas de austeridade – Editorial | O Estado de S. Paulo

Austeridade, quem diria, foi o grande tema dos prefeitos, em seus discursos de posse, nas maiores capitais brasileiras. Assim como grande parte dos Estados, as grandes cidades estão atoladas em dificuldades financeiras. Em algumas nem o pagamento do funcionalismo está garantido. A severa contração econômica iniciada no fim de 2014 reduziu os impostos e contribuições coletados diretamente pelos municípios, assim como a arrecadação estadual e federal.

Dependentes de transferência de recursos de Estados e da União, até para pedir socorro os governos municipais tiveram dificuldade nos últimos dois anos. Mas só em parte os problemas são atribuíveis à retração dos negócios e ao desemprego crescente. Erros de administração, gastança e irresponsabilidade no uso de verbas cada vez mais escassas foram as causas principais do desastre, em todos os níveis de governo.

Pela primeira vez em muitos anos, prefeitos substituíram, em seus discursos de posse, o costumeiro cardápio de maravilhas e delícias pela promessa de medidas sérias de contenção de gastos e redução do aparelho administrativo.

Crise leva prefeitos a fazer defesa da austeridade – Editorial | O Globo

• Administradores municipais defendem gestão responsável, em uma conjuntura em que as cidades, muitas dependentes de repasses, veem reduzir a área de manobra

Não foi, claro, coincidência prefeitos assumirem com um discurso único em defesa da austeridade, entre eles Marcelo Crivella, do Rio. A maior crise fiscal de que se tem notícia na história republicana do Brasil decerto não deixaria incólumes as menores unidades da Federação, muito dependentes de repasses da União e dos estados. Não apenas porque se trata de boa prática de quem assume cargo no Executivo, as promessas de economia nos gastos e o anúncio de cortes de despesas feitos no domingo, pelo país afora, são mesmo imprescindíveis para o momento.

O desafio se estende aos vereadores, que precisam estar à altura das exigências de austeridade. Os de Belo Horizonte, a quem o prefeito empossado Alexandre Kalil aconselhou “juízo”, aproveitaram o último dia de 2016 para reajustar os salários deles mesmos e do prefeito.

Há na Federação comportamentos irresponsáveis idênticos. No Rio de Janeiro, são os deputados estaduais, subjugados pelas corporações que, de forma irresponsável, se negam a entender a necessidade de ajustes nas contas fluminenses. Trabalham, assim, para o colapso dos serviços públicos. Pois, de forma correta, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, reforça que não haverá apoio da União sem contrapartidas dos estados. Esta é uma queda de braço ingrata para governadores, porque, se ceder, o Planalto se desmoraliza e perde as condições políticas de avançar na instalação do pilar de sustentação do ajuste: a reforma da Previdência.

A tarefa dos prefeitos – Editorial | Folha de S. Paulo

Governantes em início de mandato têm boas razões para alardear a penúria de seus orçamentos. A eles convém preparar o eleitorado para o descumprimento de promessas de campanhas e, quando possível, culpar os antecessores pelas frustrações que estão por vir.

Isso considerado, não se pode negar que a nova safra de prefeitos empossada nesta semana tem pela frente o cenário mais adverso em pelo menos duas décadas.

As receitas dos 5.570 municípios brasileiros deixaram de ser suficientes para cobrir as despesas com pessoal, custeio e investimentos. O deficit primário (excluindo juros) somou R$ 1,7 bilhão nos 12 meses encerrados em novembro.

Se a cifra parece pequena diante do descalabro das contas públicas nacionais, deve-se levar em conta que, ao contrário do governo federal, as prefeituras não podem vender títulos da dívida para cobrir seu rombo —o primeiro desde 1998, quando o Banco Central iniciou tal medição.

Galeão se torna precedente negativo para as concessões – Editorial | Valor Econômico

Às vésperas de uma nova rodada de privatizações de aeroportos, marcada para o dia 16 de março, o governo envia sinais equivocados para investidores estrangeiros ao dar mais quatro meses de alívio à concessionária que administra o Galeão. Trata-se de uma injustificada conivência com o descumprimento das obrigações financeiras do grupo responsável pelas operações do terminal carioca.

Leiloado no fim de 2013, quando a economia já exibia um acúmulo de distorções, o aeroporto foi parar nas mãos da Odebrecht Transport depois que o consórcio liderado pela empreiteira ofereceu um lance de R$ 19 bilhões no certame. A proposta era 293% superior ao valor mínimo de outorga e intrigou o mercado, que não encontrava justificativas para uma oferta tão ousada.

Como em todos os outros aeroportos privatizados, a outorga é paga em parcelas fixas e anuais ao longo de toda a vigência do contrato - 25 anos no caso do Galeão. Além da Odebrecht, como principal acionista, a operadora asiática Changi integra a concessionária. A estatal Infraero manteve participação minoritária. Houve melhorias nítidas. Sob comando da iniciativa privada, o terminal 2 ganhou um novo píer com 26 pontes de embarque e mais de 100 mil metros quadrados de áreas comerciais. A operação durante os Jogos Olímpicos ocorreu com absoluta normalidade.

Canção para uma valsa lenta Mario Quintana

Minha vida não foi um romance…
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amas, não digas, que morro
De surpresa… de encanto… de medo…

Minha vida não foi um romance,
Minha vida passou por passar.
Se não amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.

Minha vida não foi um romance…
Pobre vida… passou sem enredo…
Glória a ti que me enches a vida
De surpresa, de encanto, de medo!

Minha vida não foi um romance…
Ai de mim… Já se ia acabar!
Pobre vida que toda depende
De um sorriso… de um gesto… um olhar…