sexta-feira, 17 de março de 2017

Opinião do dia – O Estado de S. Paulo

É uma notável coleção de figurões do primeiro escalão da República de hoje e de ontem a lista de suspeitos de envolvimento com o esquema de corrupção investigado pela Lava Jato. Não se pode dizer, no entanto, que aquilo que ficou conhecido como a segunda Lista de Janot seja uma surpresa, pelo menos para quem dispõe de um mínimo de informação sobre os recém-completados três anos de trabalho da Operação Lava Jato. Os nomes divulgados já eram conhecidos. Frequentam essa espécie de noticiário policial em que se transformaram as editorias políticas dos meios de comunicação desde que o Partido dos Trabalhadores do impoluto Lula da Silva fez da corrupção na gestão da coisa pública um método para a perpetuação de um projeto de poder. Essa é a verdadeira herança maldita, o grande legado do lulopetismo.

*Editorial. “A lista da vergonha”, O Estado de S. Paulo, 16/3/2017

Eleição: líder do governo propõe fundo misto

Após reunião com ministros do TSE, o líder do governo no Congresso, Romero Jucá, alvo da Lava-Jato, defendeu para as eleições de 2018 um fundo com verbas públicas e privadas. Projetos da reforma política começam a ser discutidos semana que vem.

Misturando tudo

Citado na lista de Janot, líder do governo quer fundo com verba pública e privada para eleições

Leticia Fernandes e Júnia Gama | O Globo

-BRASÍLIA- Após encontro com os ministros Henrique Neves e Tarcísio Vieira, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para discutir a proposta de reforma política, o líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (RR), afirmou que a Lei dos Partidos será alterada por meio de uma série de projetos, que poderão reduzir as sanções aos doadores que extrapolarem o limite legal de contribuições. Jucá, que também é presidente nacional do PMDB e um dos políticos incluídos na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, informou ainda que um grande fundo pode ser criado, misturando dinheiro público e privado para financiar campanhas.

Jucá afirmou que a proposta do fundo misto, composto tanto por recursos públicos quanto de pessoas físicas, está sendo debatida com presidentes de partidos. O líder do governo defende que pessoas físicas não doem diretamente a candidatos ou partidos, mas para esse fundo, que seria distribuído de forma proporcional ao peso das legendas, como já é feito hoje com os recursos do fundo partidário. Dessa forma, o peso das contribuições individuais a candidaturas específicas seria reduzido.

Financiamento público eleitoral ganha força

Fabio Murakawa e Vandson Lima | Valor Econômico

BRASÍLIA - Com vários parlamentares e praticamente todos os grandes partidos na mira da Lava-Jato por usarem meios ilícitos para financiar suas campanhas eleitorais, ganha corpo no Congresso a possibilidade de que as eleições de 2018 tenham financiamento público. Mesmo partidos historicamente refratários à ideia já começam a defender essa ideia, caso do PSDB do senador Cássio Cunha Lima (PB), para quem será muito complicado trabalhar com recursos privados nas eleições futuras.

Ganha força também a adoção de lista partidária fechada na eleição para a Câmara. Esse sistema facilitará a tarefa de deputados acusados de corrupção renovarem o mandato, uma vez que a lista partidária será encabeçada pelos atuais parlamentares.

Com apoio do TSE, Jucá elabora proposta para rever legislação de partidos

De acordo com senador, ideia é transferir para tribunal 'todo tipo de causa que diga respeito' às legendas

Isabela Bonfim | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) elabora, em parceria com ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), propostas para rever a legislação de partidos políticos. O senador afirmou que irá apresentar, até a próxima semana, de três a quatro projetos sobre o assunto, que devem tramitar em regime de urgência. Sem entrar em detalhes, o senador afirmou que haverá "menos penalidades".

"Vamos apresentar uma série de propostas que vão fazer com que nós tenhamos menos penalidades, mais transparência e menos burocracia na relação dos partidos com o TSE", alegou. As propostas serão apresentadas aos líderes do Senado e, a partir daí, buscar uma tramitação em regime de urgência.

De acordo com Jucá, participam do grupo de trabalho os ministros do TSE Henrique Neves da Silva e Tarcisio Vieira de Carvalho Neto, além de outros dirigentes partidários.

Uma dos projetos deve propor a migração de todas as causas jurídicas que digam respeito aos partidos e às disputadas intra-partidárias para a esfera do TSE. Além disso, outras propostas devem trazer uma renovação das regras no prazo de filiação partidária, no âmbito do diretório estadual ou municipal, e tratar de intervenções partidárias.

Financiamento de campanha. Jucá também afirmou que uma resolução sobre a questão do financiamento eleitoral é urgente e que um projeto precisa ser aprovado no Congresso até setembro para entrar em vigor para as próximas eleições.

Serra quer agilizar mudança eleitoral

Senador tucano deve apresentar PEC que retira dispositivos da Constituição para facilitar aprovação da reforma

Lu Aiko Otta e Vera Rosa | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Diante das turbulências provocadas pela Lava Jato, o senador José Serra (PSDB-SP) deve apresentar na próxima semana uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que retira da Carta os dispositivos que regulam o sistema eleitoral. O assunto foi discutido no jantar realizado na quarta-feira, na casa do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, com a participação do presidente Michel Temer e de vários convidados do Congresso.

A ideia de criar um modelo de financiamento público de campanhas, com uma lista fechada de candidatos para as eleições de 2018, ocupou as rodas de conversa naquela noite, mas foi a proposta de Serra que chamou mais atenção.

O jantar foi oferecido por Mendes em homenagem ao senador, que completa 75 anos no próximo domingo, e ocorreu um dia após o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, encaminhar ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedidos de abertura de inquérito contra vários políticos citados nas delações da Odebrecht.

Sai distritão, entra a lista fechada

Há menos de dois anos, atuais presidentes da Câmara e do Senado eram favoráveis ao sistema majoritário, conhecido como 'distritão', hoje, defendem o voto em lista fechada já para as eleições de 2018

Julia Lindner | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Alvos da Lava Jato, os presidentes do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendem, desde a semana passada, o voto em lista fechada já para as eleições de 2018. Na última discussão sobre reforma política no Congresso, entretanto, o discurso era outro. Há menos de dois anos, Maia e Eunício eram favoráveis ao sistema majoritário, conhecido como “distritão”.

Pelo voto em lista fechada, os partidos definem previamente uma sequência de filiados para assumir os cargos conquistados na eleição. O sistema poderia favorecer a reeleição de alvos da Lava Jato no Congresso e, assim, a manutenção da prerrogativa de foro privilegiado dos investigados. Já pelo sistema do distritão não há quociente eleitoral e os mais votados são eleitos, sem considerar os partidos e sem a necessidade de formar coligações.

'Uma reforma (política) deve ficar para a próxima legislatura', diz Jairo Nicolau

Para cientista político, atual Congresso não deveria mudar regras eleitorais

Fernanda Krakovics | O Globo

RIO - O cientista político Jairo Nicolau defende que o atual Congresso não deveria ser o responsável por mexer nas regras eleitorais, já que grande parte dos deputados e senadores será investigada pela Operação Lava-Jato. E afirma que o financiamento público exclusivo é uma "temeridade".

Leia a entrevista

O Congresso voltou a discutir uma reforma política. Na sua opinião, o que precisa ser mudado?

Um desafio hoje do nosso sistema representativo é a hiperfragmentação (partidária) e o financiamento de campanha.

Quanto ao financiamento, está em debate a criação de um fundo eleitoral público. O que acha disso?

O financiamento público exclusivo é uma temeridade. A gente tem notícias de investigação das contas dos partidos, do uso do fundo partidário. A própria demora do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em investigar as contas da presidente Dilma mostra que a Justiça Eleitoral hoje tem dificuldades. A proposta (em discussão) é a mais simples. Você simplesmente aumenta o dinheiro do Estado para as campanhas e pronto. O problema é que a gente não tem essa competência instalada hoje para fiscalizar essas contas. A gente não tem capacidade de fiscalizar a transferência de R$ 4 bi, R$ 5 bi que seriam usados em milhares de campanhas Brasil afora.

O senhor defende o modelo atual, de financiamento por pessoas físicas e pelo fundo partidário?

Eu tenho uma posição de aperfeiçoar a decisão do Supremo (Tribunal Federal) de proibir o financiamento de empresas. O Congresso ainda não adequou a lei de financiamento a esse novo ordenamento, falta regulamentar as formas de financiamento (por pessoa física). Acho que talvez falte criatividade para o debate sobre financiamento de campanha. A França tinha um modelo parecido com o brasileiro de financiamento empresarial e fez uma transição para um modelo de financiamento individual (por pessoa física) que é um sucesso.

Previdência: PSDB pede explicações a Meirelles

Tucanos enviaram documento a ministro questionando nove pontos da reforma

Júnia Gama e Geralda Doca | O Globo

-BRASÍLIA- Principal partido da base aliada, o PSDB está tendo dificuldades para se alinhar integralmente à proposta de reforma da Previdência enviada pelo governo. Na última quarta-feira, em reunião da bancada do partido na Câmara, deputados comentaram sobre as pressões que têm sofrido em suas bases para votarem contra aspectos da reforma e também relataram temores de que o PMDB, partido do presidente Michel Temer, acabe se dividindo em relação ao tema, deixando apenas para o PSDB o ônus político de aprová-la.

Diante de diversos questionamentos por parte dos deputados tucanos, a bancada decidiu enviar ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, um documento com as dúvidas. São nove pontos sobre os quais não há consenso entre os deputados e que, provavelmente, serão objeto de emendas para modificação do texto original. A expectativa é que, em reunião na terça-feira com o PSDB, Meirelles leve explicações e alternativas.

Relator da Previdência diz que críticos adotam 'prática nazista'

Arthur Maia, contudo, admitiu que o governo e parlamentares favoráveis à reforma estão perdendo 'a guerra da comunicação' sobre o tema

Eduardo Rodrigues, Igor Gadelha, Célia Froufe | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O relator da Reforma da Previdência na Câmara dos Deputados Arthur Maia (PPS-BA), disse nesta quinta-feira, 16, não ser influenciado pelas várias manifestações contrárias à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287, mas admitiu que o governo e os parlamentares favoráveis à reforma estão perdendo “a guerra da comunicação” sobre o tema.

Arthur Maia acusou grupos contrários à PEC de propagarem mentiras de maneira repetida, o que, segundo ele, é uma "prática nazista". "A batalha da comunicação tem que ser travada e a grande trincheira são as redes sociais. Precisamos acabar com as mentiras de que os brasileiros não conseguirão se aposentar ou terão que trabalhar 49 anos para isso", afirmou.

Para ele, a Previdência é um assunto que precisa ser tratado com menos discursos políticos e mais seriedade. "Não sou influenciado por manifestações. A reforma da Previdência não vai ser impedida no grito. Quem quiser debater com seriedade e respeito pode me procurar que estou disposto ao diálogo", completou.

Oposição à reforma da Previdência une centrais

Por Cristiane Agostine e Ricardo Mendonça | Valor Econômico

SÃO PAULO - A oposição à reforma da Previdência está sendo capaz de unir as principais centrais sindicais do país, entidades que estavam afastadas desde o início do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Além das críticas às mudanças na aposentadoria, os dirigentes têm afinado o discurso contra a proposta de reforma trabalhista e os projetos de terceirização que tramitam na Câmara e no Senado.

A manifestação de quarta-feira contra esse pacote de medidas trabalhistas que o presidente Michel Temer quer aprovar no Congresso foi um marco desse processo de reaproximação. Enquanto a UGT paralisou os ônibus na capital paulista, a Força Sindical mobilizou trabalhadores nas portas de fábricas. Já a CUT e a CTB, junto com movimentos sociais, levaram milhares de pessoas à avenida Paulista. Com a união, conseguiram organizar protestos contra os projetos do governo Temer em 23 capitais e grandes cidades.

Ontem, CUT e CTB reuniram-se com UGT, Força, NTCST e CSB para discutirem os pontos em comum defendidos pelas seis centrais nas reformas da Previdência, trabalhista e dos projetos de terceirização.

Divulgar delação é demagogia, afirma procurador da República

Frederico Vasconcelos – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Para o procurador da República Celso Antônio Três, 54, é demagogia invocar o interesse público para divulgar as delações da Lava Jato.

Segundo ele, a divulgação "derrete o mundo político, o Estado, dilapida a economia, os investimentos e os empregos". "A lei da delação impõe sigilo até a apresentação da denúncia. Preserva a apuração e a honra do delatado até então indefeso", afirma, em entrevista por e-mail.

Três atuou no Banestado, a megalavagem de dinheiro desmontada nos anos 1990 no Paraná, que inspirou procuradores da Lava Jato.

Ele faz leitura crítica da carta do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, distribuída na terça (14) aos membros do MPF, balanço do acordo de delação da Odebrecht.

Três foi filiado ao PT nos anos 80. Ao assumir função pública, afastou-se da sigla, da qual foi alvo de representações por investigações que realizou. É autor de documento, distribuído no Senado, com críticas às "10 Medidas Contra a Corrupção" defendidas por Sergio Moro e pela força-tarefa.

Em Novo Hamburgo (RS), diz que a operação "é a maior investigação da história". "Depois dela, tudo será pequeno."

*
Folha - Qual é a sua leitura da carta do procurador-geral da República?

Celso Antônio Três - É um editorial do chefe da instituição, exaltando menos esta do que a liderança daquele.

Brasil volta a criar empregos com carteira

Após quase dois anos, geração de vagas supera fechamento

Em fevereiro, foram 35 mil postos formais. Recuperação foi puxada pelo setor de serviços, mas indústria também teve melhora, pelo segundo mês seguido. Para analistas, mercado de trabalho começa a reagir

Após 22 meses de encolhimento do emprego formal no país, quando foram eliminadas 2,86 milhões de vagas com carteira, o mercado de trabalho reagiu em fevereiro. O número de contratados superou o de demitidos em 35 mil. O setor de serviços criou mais de 50 mil vagas e a indústria, pelo segundo mês consecutivo, gerou emprego. Mas, no Rio, a crise ainda castiga o mercado de trabalho: foram fechados oito mil postos. O resultado positivo no país superou a expectativa dos analistas, que só previam uma recuperação no segundo trimestre. O governo também foi surpreendido e organizou, às pressas, uma cerimônia para que o próprio presidente Temer anunciasse os números positivos.

País volta a gerar emprego

Após quase dois anos, foram criados 35,6 mil postos de trabalho com carteira em fevereiro

Gabriela Valente, Simone Iglesias, Eduardo Barretto e Geralda Doca | O Globo

-BRASÍLIA- Após quase dois anos de fechamento de vagas formais no Brasil, o país voltou a gerar emprego em fevereiro. Foram criados 35.612 postos de trabalho com carteira assinada no mês passado, num resultado que surpreendeu analistas e o próprio governo, depois de 22 meses em que o país mais fechou do que abriu vagas. A recuperação do emprego foi puxada pelo setor de serviços, que abriu mais de 50 mil postos. Mas a indústria também ficou no terreno positivo, pelo segundo mês consecutivo, com 3.949 vagas.

Desde abril de 2015, o país não tinha abertura de postos formais, e, nesse período, foram fechados 2,86 milhões de vagas com carteira. A expectativa dos especialistas era que o país voltasse a gerar empregos apenas no segundo trimestre.

Esquerda ganhará espaço em governo holandês

Para formar coalizão estável, líder liberal que derrotou extrema direita precisa unir quatro partidos; ‘verdes’ tornaram-se principal força em Amsterdã

Andrei Netto | O Estado de S.Paulo

AMSTERDÃ - Um dia depois de impor a derrota ao candidato populista e xenofóbico Geert Wilders, o primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, iniciou nesta quinta-feira as negociações para a formação de um governo de coalizão que obtenha a maioria absoluta no Parlamento.

O desafio é reunir pelo menos quatro legendas, já que o cenário pós-eleitoral é de alta fragmentação no Legislativo, com o declínio dos dois partidos históricos: o Partido Popular Liberal e Democrata (VVD), liberal-conservador que perdeu parte de sua bancada, e o Partido Trabalhista (PvdA), que detinha 35 deputados e passou a ter 8, de um total de 150.

As eleições legislativas na Holanda foram acompanhadas de perto por toda a Europa, que temia que o ultraconservador Geert Wilders, líder nacionalista e xenofóbico do Partido pela Liberdade (PVV), pudesse formar a maior bancada na câmara e no senado. O receio levou à maior mobilização do eleitorado em 31 anos e à vitória de Rutte, com 33 deputados, frente a Wilders, com 20. “87% dos holandeses disseram ‘Nós não queremos Wilders’”, explica Andre Krouwel, cientista político da Universidade Livre de Amsterdã.

Pixinguinha e Mambembão de volta à estrada - Roberto Freire

- Diário do Poder

Iniciativas emblemáticas no cenário cultural brasileiro entre os anos 1970 e 1980, os projetos Pixinguinha e Mambembão, ícones na música e nas artes cênicas, serão relançados ainda neste primeiro semestre. O Ministério da Cultura e a Fundação Nacional de Artes (Funarte) já trabalham com afinco para definir os últimos ajustes e o novo formato dessas duas experiências bem sucedidas que certamente oferecerão grandes oportunidades para jovens talentos nos quatro cantos do país.

Criado em 1977, ano de fundação da Funarte, o projeto Pixinguinha teve inspiração nos espetáculos da série “Seis e Meia”, que vinham lotando o Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, com apresentações realizadas sempre às 18h30 e ingressos a preços populares. Grandes artistas que se consagrariam como expoentes da música brasileira se apresentaram em diversas cidades do país naquele período, desde Cartola, Edu Lobo, João Bosco, Nara Leão, Jackson do Pandeiro, Paulinho da Viola e Alceu Valença, até os então iniciantes Djavan, Marina Lima e Zizi Possi.

Estado e sociedade civil - José Antônio Segatto*

- O Estado de S. Paulo

No Brasil, essa relação sempre foi infausta e discrepante, adversa e de sujeição

A relação Estado e sociedade civil no Brasil, desde a fundação do Estado nacional, foi sempre infausta e discrepante, adversa e de sujeição. Essa realidade foi objeto de análise de intelectuais de variadas linhagens do pensamento social. Exemplares são as obras antinômicas de Oliveira Vianna e Raymundo Faoro.

O primeiro, ao constatar que a sociedade civil era amorfa e frágil, propugnava um Estado forte, centralizado e autoritário para (re)criá-la – um Estado demiurgo. Já o segundo, ao inverso, entendeu que o Estado foi organizado como aparato de poder exclusivo e restrito, burocrático e patrimonial – o Estado é tudo, a sociedade civil, nada; seriam necessários, portanto, a reordenação das estruturas estatais e o deslocamento de parte de seus poderes para a sociedade civil.

Traços tanto do estatismo de Oliveira Vianna quanto do liberalismo de Raymundo Faoro podem ser encontrados em toda a História brasileira. O estatismo é patente ao longo de quase todo o regime imperial, quando o Estado precede a sociedade civil, inexistente mesmo nos seus estertores, como revelou um testemunho da época: “O que há de organizado é o Estado, não a nação” (Tobias Barreto). Na Primeira República (1889-1930) – quando se enceta um esboço de sociedade civil –, tem-se um liberalismo mitigado pelo domínio oligárquico e pelas práticas patrimonialistas e clientelistas. Nos anos 1930, o estatismo e o autoritarismo ganham proeminência, sobretudo durante a ditadura do Estado Novo (1937-1945), acoplando agora o corporativismo – o Estado, sob o governo Vargas, (re)fundou ou instituiu a sociedade civil, subordinada aos seus desígnios (sindicatos, organizações estudantis, etc.).

Alckmin se posiciona - Merval Pereira

- O Globo

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, fez ontem, em entrevista à CBN, uma declaração peremptória: apoiará o candidato que vencer as prévias, e não sairá do PSDB para concorrer à Presidência da República por outro partido. A máquina eleitoral tucana deu ao candidato Aécio Neves em 2014 nada menos que sete milhões de votos de vantagem na eleição presidencial. E não tinha a prefeitura da capital.

É esse potencial de votos no maior estado do país que faz com que o partido continue sendo um forte candidato na disputa presidencial, apesar de seus três principais políticos estarem afetados pelas delações da Operação Lava-Jato. O presidente do partido, Aécio Neves, e o senador José Serra, relacionados na lista do Janot, sofrerão as agruras do processo até que uma decisão do Supremo Tribunal Federal saia. Nada indica que na campanha de 2018 já estejam livres das acusações, se é que algum dia estarão.

Num mato sem cachorro - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Tudo o que os políticos dizem ou sugerem bate num muro de irritação e descrença

Quanto mais os nomes das “listas do Janot” se multiplicam, mais o Congresso, em geral, e os políticos, individualmente, dão mostras evidentes de que estão completamente perdidos, nadando contra a corrente, em círculos, sem rumo e sem capacidade de reação. Acuados, isolados, não conseguem ouvir nem falar com a opinião pública. Estão sempre atrasados, a reboque dos fatos e reféns das versões.

As duas listas vazadas nesta semana já somam dois ex-presidentes da República e dois ex-ministro da Fazenda do PT, seis ministros do governo Temer, todos os três potenciais presidenciáveis do PSDB, cinco governadores e os ex e atuais presidentes da Câmara e do Senado. Ao todo, oito partidos envolvidos, incluídos aí todos os maiores.

Suicidas de paletó – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

A cada nova delação, cresce a aposta dos políticos numa anistia ao caixa dois. A ideia ganha força em Brasília, mas há quem acredite que seu efeito será o oposto do esperado. É o que alerta o deputado Jarbas Vasconcelos, 74, uma das vozes mais experientes da Câmara.

Para o peemedebista, os colegas pensam ter encontrado a fórmula da sobrevivência, mas estão caminhando na direção do precipício. "Falar em anistia é um suicídio coletivo do Congresso. Isso seria um desastre", afirma. "Estamos vivendo um momento muito perigoso. Na política, um passo em falso como esse dificilmente se recupera depois."

O encontro da onda com a reforma - César Felício

- Valor Econômico

Eleições de 2018 já afetam o governo no Congresso

Quis o destino que a nova lista do procurador geral da República Rodrigo Janot começasse a vazar na véspera do primeiro teste de ruas da reforma da Previdência, com as manifestações convocadas pelo movimento sindical. A divulgação dos implicados ainda é uma obra em curso, tem ficado claro com a entrada de novos nomes nos últimos dias, mas o que já se sabe joga um míssil na elite governista no Congresso, em uma circunstância em que as resistências à reforma previdenciária estão em trajetória ascendente.

A ligação entre o fato policial e a prioridade máxima para os agentes econômicos no Congresso, que podia se estabelecer mais adiante nasce, portanto, de imediato. O custo para sua aprovação aumentou e os prazos tendem a se dilatar

A crise fiscal é um fator propulsor da reforma, uma vez que fragiliza as reivindicações corporativas e reforça o sentimento de urgência, mas também é um dos obstáculos para sua aprovação. Todo mundo que disputa eleições vive 2018. Reeleger-se, agora, é questão de manter os padrões mínimos de qualidade de vida que o foro privilegiado garante aos seus usuários. Satisfazer o eleitor não é uma questão vulgar e a rejeição popular à reforma da Previdência é um dado da realidade. Campanha publicitária alguma mudará esta percepção.

Corruptos, há os pardos - José de Souza Martins

- Valor Econômico ||Eu & Fim de Semana

Desde o caso Collor, uma grande dúvida se abate sobre a consciência de muitos brasileiros, aqueles mais preocupados com a crescente ruína moral do país: estaríamos sendo injustos ao definir os corruptos como corruptos? No momento em que o presidente Collor deixava o Palácio, cassado por supostamente ter seu governo cometido atos de corrupção, vozes na multidão, que se diverte com as desgraças nacionais, gritavam: "Revista ele!". Para a turba de feira livre, o político corrupto é mero batedor de carteiras.

Nos casos mais recentes de corrupção, corruptos se defendem alegando méritos patrióticos que se sobrepõem aos atos de corromper e ser corrompidos. Um dos partidos acusados invocou os benefícios aos pobres em seu governo, caso do Bolsa Família. Portanto, há corrupção social ou, talvez, socialista, ou, melhor ainda, corrupção de esquerda. A de esquerda, pode. A que não pode é a de direita. Mas a direita também tem seus argumentos cívicos. Empresários acusados e até presos alegam, em sua defesa, que imensas e necessárias obras públicas ficarão paralisadas, com grandes prejuízos para o país, se suas empresas forem inviabilizadas. Há até quem considere como bons tais argumentos.

Voo europeu - Míriam Leitão

-O Globo

Era um teste, e o governo passou. O primeiro leilão de concessão calhou de ser justamente na semana em que a temperatura da crise política subiu muito. Houve disputa entre empresas europeias, ágio sobre o preço estabelecido e todos os quatro aeroportos passam a ter novos concessionários. Os vencedores são operadores com experiência e atuação em vários países.

O fato de o governo ter conseguido arrecadar R$ 1,5 bilhão para pagamento imediato, além do que os vencedores pagarão ao longo da concessão, e a qualidade dos grupos que disputaram os aeroportos de Fortaleza, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre confirmam a avaliação de que o leilão conduzido pela Anac foi bem sucedido. A alemã Fraport arrematou dois aeroportos, sendo o de Porto Alegre por 837% de ágio, e tem presença espalhada por vários países do mundo. Além de Frankfurt, um dos grandes do mundo, é administrador dos aeroportos de Lima, de dois na China, de Nova Delhi, São Petersburgo, entre outros em diversos países. A Vinci, francesa, e a Zurich, suíça, são também operadores importantes.

Brasil, algumas brisas a favor – Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Caíram umas migalhas no prato da economia. Faz alguns meses, não tínhamos nem prato.

Houvea surpresa dos empregos com carteira assinada. O governo conseguiu vender bem quatro aeroportos. Investidores estrangeiros importantes começam a inventar modas, "teses de investimento", que favorecem o Brasil. Empresas devem voltar a abrir capital, o que não se via desde 2013, na prática.

Depois de quase dois anos, o número de empregos com carteira assinada aumentou (35 mil), segundo dados do Ministério do Trabalho para fevereiro. Era muito raro encontrar quem previsse resultado positivo para antes de abril.

Hora do convencimento - Fernando Dantas

- O Estado de S. Paulo

As manifestações da quarta-feira contra a reforma da Previdência em várias capitais do País, com diversos quarteirões da avenida Paulista sendo tomados pela multidão, deram a partida ao movimento de resistência ao projeto do governo.

Na equipe econômica, a disposição é de lutar pela preservação da reforma proposta, e a posição oficial é de encarar com naturalidade o ataque contra a PEC 287. Segundo Mansueto Almeida, secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, o timing da mobilização antirreforma da Previdência lembra o processo de aprovação da PEC do limite dos gastos.

“Passaram-se dois ou três meses sem discussão, mas a mobilização começou quando se aproximou a votação na Câmara”, ele diz.

Segundo Mansueto, no caso da PEC dos gastos, a contestação se concentrou em três pontos: o prazo de 20 anos e a inclusão de despesas com saúde e com educação, o que mobilizou os grupos que gravitam em torno dessas duas áreas. O secretário explica que o trabalho da equipe econômica foi basicamente o de desmontar críticas equivocadas: assim, a Saúde não perdeu recursos, e está ganhando mais R$ 10 bilhões este ano; e a maior parte do gasto em Educação não está no âmbito da PEC.

Sem PEC, Previdência engolirá o orçamento - Claudia Safatle

- Valor Econômico

Governo se apresentou fraco nos primeiros 'rounds'

Na luta pela aprovação da reforma da Previdência (PEC 287), o governo compareceu fraco nos primeiros rounds. Não está claro e evidente para a opinião pública que há déficit e que o rombo é crescente. Se nada for feito, em 2026 a despesa com o pagamento de benefícios aos trabalhadores do setor privado (RGPS), ao funcionalismo público (RPPS) e aos deficientes e idosos extremamente pobres (Loas) consumirá 82% do gasto total, definhando, assim, todo os demais programas do governo explicitados no orçamento. Hoje a Previdência representa 55% do gasto total.

Sem a reforma, em alguns anos "não haverá Estado" por absoluta falta de dinheiro, alerta o secretário adjunto do Planejamento, Rodrigo Cota. Em 2031 todo o orçamento da União estaria destinado à Previdência Social.

Com a aprovação da PEC 287, a trajetória de aumento continuará a ocorrer, mas de forma mais suave. Segundo os estudos oficiais, a despesa previdenciária nesse caso passaria dos atuais 55% para 66% do total em 2026. Ou seja, a reforma não equilibra o sistema previdenciário. Ela estabiliza o déficit.

É com preocupação frente ao apelo do discurso de oposição à reforma que o Executivo tenta agir.

Alívio na Holanda - Gilles Lapouge,

- O Estado de S. Paulo

Mas outros grupos estão prontos para prolongar o combate perdido de Geert Wilders

Um dia depois das eleições legislativas na Holanda, o primeiro-ministro vem recebendo as homenagens e os agradecimentos de toda a Europa. Mark Rutte, líder do VVD – partido popular liberal e democrata, resistiu aos violentos ataques do seu rival Geert Wilders, que, apoiado pelo seu Partido pela Liberdade, ameaçava lançar o país numa loucura xenofóbica e antiárabe mortífera, uma cruzada de ódio.

Em Berlim e Roma, Paris e Bruxelas, esperava-se o pior. Após a surpreendente vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e o Brexit britânico, uma vitória de Wilders atingiria a Europa em sua própria estrutura e seria indício do desmantelamento do edifício – a União Europeia.

A reforma política - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

A discussão da reforma política chega a cavalo por causa da Operação Lava-Jato. A credibilidade do Congresso foi à lona, mas somente o Parlamento tem legitimidade para fazer a reforma

O debate sobre a reforma política voltou ao centro das discussões no Congresso. Na Câmara, articula-se uma saída para o financiamento eleitoral, o voto em lista, mas cujo o verdadeiro objetivo é possibilitar aos deputados carbonizados pela Operação Lava-Jato disputar a eleição com alguma chance de sobrevivência; no Senado, cresce um movimento para acabar com o foro privilegiado, mas isso pode ampliar as possibilidades de prescrição das ações às quais respondem os políticos enrolados, que hoje têm uma única instância de julgamento.

Há uma espécie de salvemo-nos todos antes que ninguém se salve no Congresso. O desgaste dos políticos é tão grande que até mesmo os parlamentares que se consideram imaculados temem, sem trocadilho, uma derrota fragorosa nas urnas em 2018. A chamada lista do Janot, cujos nomes estão vazando gradativamente, pode resultar no maior expurgo político da história republicana, com a diferença de que ocorrerá em plena democracia, ao contrário do que ocorreu na Revolução de 1930 e com o golpe militar de 1964. Esse expurgo, aliás, já está em curso, por causa da Lei da Ficha Limpa, que alijou das disputas eleitorais milhares de políticos em todo o país.

Nova proposta de reforma política é reação à Lava-Jato – Editorial | O Globo

A ressurreição da proposta equivocada da votação em lista fechada serve ao propósito de esconder do eleitorado candidatos processados

Não se discute a necessidade imperiosa de uma reforma política, urgente há mais de década. Mas não esta que acaba de ser tirada do baú de políticos que se apressam a blindar-se diante da segunda lista de Rodrigo Janot, procurador-geral da República, enviada ao relator da Lava-Jato no Supremo, ministro Edson Fachin, na terça-feira. Trata-se de óbvia proposta de ocasião, feita sob encomenda.

Inexiste coincidência fortuita entre o encaminhamento ao Supremo de 83 pedidos de abertura de inquérito sobre deputados, senadores e ministros de Estado —é a segunda vez, durante a Lava-Jato, que Janot encaminha nomes à Corte com este objetivo —e o surgimento de um conjunto de medidas para alterar regras eleitorais, com a sugestiva ressurreição do sistema de voto em lista fechada. Pela qual ao eleitor cabe apenas avalizar uma relação de candidatos a deputado e a vereador montada autocraticamente pelas direções partidárias.

Uma longa espera – Editorial | O Estado de S. Paulo

Há quem tenha a expectativa de que os pedidos de investigação, feitos recentemente pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF) e que envolvem políticos com foro privilegiado, possam contribuir para uma maior lisura do processo eleitoral de 2018. De acordo com essa linha de raciocínio, a maior moralidade na política seria um efeito concreto e positivo das 78 delações premiadas dos executivos da empreiteira Odebrecht. O desenrolar da história seria o seguinte: quem sabia falou, a Justiça fez sua parte e a política pôde se tornar um pouco menos corrupta.

Tal roteiro não leva em conta, no entanto, um sério problema. A atuação do STF em relação a procedimentos penais contra pessoas com foro privilegiado tem sido bastante lenta e nada faz crer, até o momento, que o grande volume de investigações recentemente solicitadas terá um destino mais promissor.

Novos voos – Editorial | Folha de S. Paulo

Pode-se considerar positivo o resultado do leilão de quatro aeroportos federais nesta quinta (16). Foi a primeira rodada de privatizações do setor de infraestrutura na gestão de Michel Temer (PMDB) –e depois da Lava Jato.

Ao conceder à iniciativa privada a exploração dos terminais de Porto Alegre, Salvador, Florianópolis e Fortaleza, o governo receberá à vista R$ 1,5 bilhão, mais de 90% acima do preço mínimo estipulado. A arrecadação ao longo dos 30 anos dos contratos chegará a R$ 3,7 bilhões.

Trata-se de um alívio para a equipe de Temer, que receava um fracasso por falta de interessados. A despeito do número menor de concorrentes no certame —apenas três empresas, contra 11 grupos em 2012 e cinco em 2014—, os preços elevaram-se em todas as disputas.

Em busca das vantagens comparativas perdidas – Editorial | Valor Econômico

Países latino-americanos, em especial as maiores economias, como a brasileira, foram atingidos duplamente pela redução drástica da velocidade do comércio global (3% nos últimos três anos, perto de 6% antes da crise de 2008). Enquanto viram desabar suas receitas com vendas de commodities, após o fim de um boom de quase uma década, perderam a capacidade de competir em bens industriais. Uma bateria de 12 estudos compilados por técnicos do Fundo Monetário Internacional mostrou, além disso, que os países da região comerciam pouco entre si e que este fluxo também declinou recentemente.

Uma série de conhecidas deficiências foi deixando estes países para trás em relação aos países emergentes da Ásia e, agora, aos emergentes europeus. Compilando 50 anos de estatísticas (1962-2013), os técnicos do Fundo constataram que, no ponto de partida, as economias latino-americanas superaram os asiáticos, diversificando suas exportações, aumentando sua complexidade e intensidade tecnológica, mas esse aumento de competitividade em relação a seus concorrentes, regrediu aos poucos e estancou com o boom das commodities. "Esse desenvolvimento contrasta agudamente com o da Ásia emergente, cujo progresso continuou sem maior interrupção", apontam os estudos.

Poema do nadador – Jorge de Lima

A água é falsa, a água é boa.
Nada, nadador!
A água é mansa, a água é doida,
aqui é fria, ali é morna,
a agua é fêmea.
Nada, nadador!
A água sobe, a água desce,
a água é mansa, a água é doida.
Nada, nadador!
A água te lambe, a água te abraça,
a água te leva, a água te mata.
Nada, nadador!
Senão, que restará de ti, nadador?
Nada, nadador.

* De Poemas Escolhidos (1925 a 1930)