domingo, 30 de abril de 2017

Opinião do dia – Miriam Leitão

Foi espantoso na noite da votação da reforma trabalhista o desfilar da demagogia no microfone da Câmara dos Deputados. Lá estavam o PT e seus satélites: PCdoB, PSOL, Rede. E repetiam, aos gritos, que defendiam os trabalhadores. Não houve uma palavra destinada aos que não têm qualquer direito. Eles defendiam os de carteira assinada, que estão no mercado formal, que têm os direitos garantidos e que acessam a Justiça do Trabalho. Os invisíveis permanecem invisíveis.

Seria bem-vinda uma oposição realmente de esquerda no Brasil. Mas só temos a corporativista. Seria bem-vinda uma esquerda que olhasse com sinceridade para os números que o IBGE havia divulgado na parte da manhã daquela quarta-feira, mostrando os milhões de trabalhadores sem proteção. Mas a esquerda brasileira tem compromissos é com os grandes sindicatos e centrais sustentados pelo dinheiro público. A reforma que está sendo votada atinge diretamente seus interesses. Tudo bem que eles se defendam, o problema é que dizem que o fazem em nome do povo.

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Miriam Leitão é jornalista. “Além da raiva social”, O Globo, 29/4/2017

Dilma sofre de ‘amnésia moral’, diz Santana

Marqueteiro afirma ao TSE que, ‘infelizmente’, presidente cassada sabia de caixa 2 e se sentia chantageada por Marcelo Odebrecht

Rafael Moraes Moura | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O uso de caixa 2 na campanha eleitoral de Dilma Rousseff (PT) em 2014 reforçou a percepção de que os políticos brasileiros sofrem de “amnésia moral”, disse em depoimento sigiloso à Justiça Eleitoral o marqueteiro João Santana, responsável pelas campanhas do PT à Presidência da República em 2006, 2010 e 2014. Segundo o publicitário, Dilma “infelizmente” sabia do uso de recursos não contabilizados em sua campanha e se sentia “chantageada” pelo empreiteiro Marcelo Odebrecht.

De acordo com Santana, a petista teria sido uma “Rainha da Inglaterra” em se tratando das finanças de sua campanha, não sabendo de todos os detalhes dos pagamentos efetuados.

No entanto, indagado se a presidente cassada tinha conhecimento de que parte das despesas era paga via caixa 2, o marqueteiro foi categórico: “Infelizmente, sabia. Infelizmente porque, ao me dar confiança de tratar esse assunto, isso reforçou uma espécie de amnésia moral, que envolve todos os políticos brasileiros. Isso aumentou um sentimento de impunidade”.

Temer afirma que crise ‘está começando a terminar’

Presidente acredita que vá surgir uma nova liderança para 2018

Miguel Caballero | O Globo

O presidente Michel Temer afirmou que a crise política “já está começando a terminar”. Ele mais uma vez declarou que não será candidato à reeleição e disse acreditar que vá surgir uma nova liderança para o país nas eleições de 2018.

Temer defendeu as reformas em tramitação no Congresso. Sobre a trabalhista, disse que o objetivo é "gerar emprego" e que a eliminação da obrigatoriedade do imposto sindical não partiu do governo federal e foi incluída na reforma pelos parlamentares. "Eu não entrei nessa história. Nós não cogitamos do imposto sindical. Entretanto lá no Congresso eles colocaram a tese da eliminação do imposto sindical".

As declarações de Temer foram em entrevista ao apresentador Ratinho, no SBT, veiculada sexta à noite. O peemedebista aceitou uma sugestão do entrevistador, que perguntou se ele gostaria de ser conhecido como "o presidente das reformas", e disse que seu sucessor encontrará o país “nos trilhos”.

PSDB busca ‘novos Dórias, e PT insiste em Lula e velhos nomes

Principais partidos do país têm táticas opostas para as eleições de 2018

Catarina Alencastro e Maria Lima | O Globo

BRASÍLIA - Partidos que disputaram o segundo turno nas últimas cinco eleições presidenciais, o PSDB e o PT apostam em táticas radicalmente diferentes para tentar o sucesso nas urnas em 2018. Enquanto os tucanos já lançaram uma busca por "novos Dórias" por todo o país, os petistas insistem na figura de seu líder máximo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é réu em cinco casos na Lava-Jato e pode ser barrado pela Justiça.

Em vez de lançar neófitos na política, na tentativa de atrair eleitores indignados com a Lava-Jato, o PT não abrirá mão de manter o mesmo modus operandi de sempre. Tanto nos estados como nas eleições presidenciais, os candidatos do partido serão nomes previsíveis.

— O PT não vai buscar nomes de fora — resume o presidente do partido, Rui Falcão.

A sigla tem hoje cinco governadores, dos quais quatro podem se reeleger. E tentarão. No campo nacional, os petistas repetem como mantra que Lula é a única alternativa que se discute.

Cresce percepção de corrupção no governo Lula, mostra Datafolha

Igor Gielow | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Se logrou obter um aumento nas suas intenções de voto na mais recente pesquisa Datafolha, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viu seu governo ser avaliado como o que mais registrou corrupção na história no mesmo levantamento.

Para 32% dos 2.781 ouvidos na quarta (26) e quinta (27), a gestão Lula (2003-2010) foi campeã no quesito. Em fevereiro de 2016, eram 20%; em dezembro de 2015, 17%; e em fevereiro de 2014, só 12%.

Em movimento inverso, a sucessora indicada por Lula, Dilma Rousseff (PT), caiu para o segundo lugar nessa avaliação negativa. Seu governo, eleito em 2010, reeleito em 2014 e impedido em 2016, foi o que mais teve corrupção para 22% dos ouvidos –contra 34% em 2016, 37% em 2015 e 20% em 2014.

TSE pode rever regra que anistia conta de partido

Entendimento atual é de que gastos irregulares são desconsiderados se não ultrapassarem 10% do montante recebido do Fundo Partidário

Ricardo Galhardo | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Em sessão no dia 20 deste mês, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou com ressalvas as contas referentes ao exercício de 2011 do PP. A decisão não traria surpresas não fosse um questionamento da ministra Rosa Weber sobre o critério usado para a aprovação, uma jurisprudência do TSE que impede a desaprovação de contas partidárias quando o valor dos gastos irregulares envolvendo verbas do Fundo Partidário é inferior a 10% do montante recebido, seja qual for a natureza da irregularidade.

O PP, um dos partidos com o maior número de políticos envolvidos na Lava Jato, recebeu, em 2011, R$ 22,6 milhões do Fundo Partidário, mas as irregularidades alcançaram R$ 1,7 milhão – ou 7,5% do total, menos de 10%, e, portanto, as contas não deveriam ser desaprovadas. Entre as irregularidades apontadas pela assessoria técnica do TSE está o uso de R$ 255 mil para o pagamento de honorários a advogados que fizeram a defesa pessoal de integrantes do partido, até mesmo em processos por corrupção.

Protestos deixam rastro de destruição

Cidade teve seis estações de VLT depredadas, nove ônibus queimados e vitrines de lojas destruídas. Em São Paulo, prefeitura quer cobrar prejuízos de sindicatos.

Protestos deixam rastro de destruição no Rio

Seis estações do VLT foram depredadas. Carcaças de ônibus permaneciam na rua

Bruno Dutra, Sérgio Roxo, Renan Almeida, Luisa Valle e Ione Luques | O Globo

RIO E SÃO PAULO - No dia seguinte aos protestos contra as reformas trabalhista e da Previdência, havia rastros de destruição no Centro do Rio. No entorno da Cinelândia, edifícios, lojas e estruturas exibiam vidros quebrados. Seis estações de VLT foram depredadas. Ao menos três das carcaças de ônibus incendiados na noite de sexta-feira permaneciam nas ruas, na Lapa, durante o dia. E duas das sete pessoas que ficaram feridas nos confrontos permaneciam internadas.

Mais de 20 bombas de efeito moral e de gás lacrimogênio, três balas de borracha e ao menos duas pedras foram encontradas na manhã de ontem dentro do Teatro Municipal. É que perto do fim dos atos contra as reformas propostas pelo governo, a Cinelândia se transformou em local de confronto e terminou com várias depredações e ao menos sete feridos, sendo seis deles atingidos por balas de borracha. Os dois que seguiam hospitalizados passaram por cirurgias e têm quadro estável.

‘Ação de Trump pode distorcer comércio global’, diz Ricupero

Para embaixador, boa parte da retórica do presidente americano busca intimidar parceiros para que restrinjam exportações aos EUA, o que pode ter impacto negativo para o Brasil. Ele classifica o protecionismo como uma ameaça à economia mundial

Lucianne Carneiro | O Globo

Com 80 anos completados recentemente, o embaixador Rubens Ricupero, ex-ministro e ex-secretário-geral da Unctad (agência de desenvolvimento da ONU para comércio e desenvolvimento), vê com preocupação o avanço do protecionismo no comércio mundial e alerta para impactos negativos ao Brasil da estratégia de ameaças de Donald Trump a seus parceiros comerciais.

Ele critica de forma veemente a ausência da palavra protecionismo no documento final do encontro do FMI, ao classificar como “sinal grave da debilidade e da falta de coragem frente às grandes potências”.

Ricupero, que participou de apresentação promovida pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) sobre os primeiros cem dias do governo Trump, comparou a economia brasileira a um paciente que se recupera após uma doença grave — sem energia para nada durante a convalescença — e condena o atual sistema político, que considera criar cada vez mais danos.

Transferência de votos antes de segundo turno ignora ideologias

Parte do eleitorado da esquerda radical francesa cogita de votar em Marine Le Pen, da extrema direita

Andrei Netto | O Estado de S.Paulo

PARIS - Estudos realizados sobre a transferência de votos nas eleições presidenciais na França mostram a confusão ideológica instalada no segundo turno da corrida ao Palácio do Eliseu, travada entre o centrista Emmanuel Macron e Marine Le Pen, de extrema direita. Uma parte da direita tende pelo voto na candidata nacionalista, enquanto uma parte da esquerda radical opta pela abstenção.

Os gráficos mostram que, mesmo diante de dois programas opostos - um pró-globalização, outro contrário -, sem os partidos históricos o voto se tornou fluído e pode migrar da extrema esquerda para a extrema direita.

O segundo turno das eleições presidenciais na França ocorre no próximo domingo, duas semanas depois da primeira rodada, que terminou com vantagem para o candidato do recém-criado partido En Marche!, com 24% dos votos. Atrás dele ficou a líder da Frente Nacional (FN), com 21,3%.

França pode importar a 'terceira via' na política com 20 anos de atraso

Rogério Ortega | Folha de S. Paulo

A maioria dos eleitores franceses –caso se confirmem pesquisas que dão larga vantagem ao candidato centrista Emmanuel Macron sobre Marine Le Pen (direita ultranacionalista) no segundo turno presidencial, dia 7– parece decidida a apostar na ideia de uma "terceira via".

Ou a importá-la do Reino Unido com 20 anos de atraso, se formos maldosos.

Grosso modo, "terceira via" é o nome dado ao misto de políticas econômicas "de direita" com políticas sociais "de esquerda" que Tony Blair, premiê britânico de 1997 a 2007, propôs implementar.

Mas Blair fez isso dentro de um dos mais tradicionais partidos do Reino Unido, o Trabalhista, que buscava então renovar seu discurso após seguidas derrotas para os conservadores de Margaret Thatcher e John Major (hoje, os fracassos eleitorais recentes levaram Jeremy Corbyn à liderança, e o pêndulo da legenda migrou de volta para a esquerda).

Promessas de maio | Fernando Gabeira

- O Globo

Em maio, as manhãs no Rio costumam ser lindas e, ao entardecer, em Minas, começam a aparecer crianças vestidas de anjo. Mas é em Curitiba que grande parte da atenção se concentra. O depoimento de Lula diante de Sérgio Moro é tido como um grande momento. Talvez contra a corrente, acredito que nada de essencial será mudado. E m confronto com as evidências que o ligam ao triplex de Guarujá e o sítio de Atibaia, Lula vai negar e, possivelmente, reafirmar que não há documento oficial que o ligue a essas propriedades. Imagino também que, se houver provocações, Sérgio Moro terá a habilidade e vai contorná-las, seguindo com as perguntas que realmente possam esclarecer.

A ideia de que um processo dessa natureza se resolve com manifestações políticas é mais um equívoco da esquerda. Aliás, apoiado em outro equívoco: o de que uma performance num interrogatório pode ser transformado numa alavanca para a campanha presidencial. Se, por acaso, têm como modelo o famoso “A História me absolverá” de Fidel Castro, independentemente de comparar oratórias, é gritante a disparidade de situações. Uma coisa é ser acusado de tramar contra a ditadura de Fulgencio Batista, outra é ser acusado de receber propinas por negócios na Petrobras. Lula está numa situação incômoda, tentando revertê-la em seu favor, e apreensivo com a possibilidade de prisão. Algo que, creio, não vai acontecer. As forças de esquerda no Brasil jogam toda a sua sorte num líder carismático e resolvem acompanhá-lo na aventura, pois temem desaparecer sem ele.

Uma declaração de amor | Cacá Diegues

- O Globo

O filme “No intenso agora”, de João Moreira Salles, é um elogio à nossa capacidade de sonhar, mesmo que esses sonhos fracassem sempre e acabem por nos angustiar

Os melhores cineastas modernos já demonstraram, na prática do que fizeram, que o filme documentário não precisa ser necessariamente isento, uma racionalização distanciada do assunto que tratamos sem compromisso preliminar. Ele é um gênero cinematográfico que não está mais condenado a esse rigoroso axioma crítico que vigorou até recentemente.

O filme documentário pode ser também uma carta de amor, a declaração de uma paixão que nós mesmos não compreendemos bem, não sabemos ou não queremos explicar. Um sentimento que está na origem da obra e do qual não podemos abrir mão. Um pouco como nesse magnífico “No intenso agora”, filme de João Moreira Salles que está na seleção do festival É Tudo Verdade, em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo, dedicado a documentários nacionais e internacionais.

O amor que esse filme proclama é o mais vasto e profundo possível, indo dos reveses da humanidade moderna, exemplificados na Primavera de Praga, no Maio de 68 e na instalação da ditadura no Brasil, até a tentativa angustiada de entender a própria mãe, em registros feitos no recesso do lar ou em longínqua viagem à China e ao Japão. Mas há também uma terceira paixão, disfarçada por trás da narração: o amor ao cinema, o desejo de ser fiel à sua reconstrução, a partir desse pressuposto de sentimentos. Como na sua inusitada e brilhante montagem.

Os Sem-Massa | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Sexta-feira quente, mas greve foi isolada e quebra-quebra, um tiro no pé

“Governar não é tão simples como pensam os motoristas de táxi”, declarou o ex-ministro Milton Seligman, hoje professor do Insper, no seminário sobre reforma política promovido pelo Estado. Pois é. Governar não é simples, não é fácil e o alerta é que pode fazer muito mal à saúde. Depois de dois impeachments em 25 anos, agora Michel Temer dribla popularidade abaixo do razoável, recuperação lenta da economia, desemprego crescente, pressões infernais da base aliada e bloqueio de ônibus e quebra-quebra comandados pela oposição.

Na avaliação palaciana, o protesto de sexta-feira, no início de um feriadão, ficou restrito aos movimentos e categorias ligados ao PT, sem adesão popular, sem massa. A estratégia foi parar os meios de transporte para impedir que as pessoas fossem trabalhar e que as empresas e o comércio abrissem, dando a impressão de um movimento muito maior do que era. Queimar pneus e ônibus para completar o serviço com imagens impactantes.

Politicagem explícita | Merval Pereira

- O Globo

Os quase 14 milhões de desempregados que o país tem hoje, segundo o IBGE, não nasceram de ontem para hoje, são fruto de um governo desastroso que colocou o país na maior recessão já registrada. Três anos seguidos de PIB negativo não se resolvem sem muito sacrifício.

O chamamento esperto para uma greve geral às vésperas de um feriadão, contra as reformas trabalhista e previdenciária, querendo transformar em salvadores da pátria os mesmos que nos colocaram nesta situação, embute não apenas esperteza mas também o estilo de fazer politicagem que levou à situação atual.

O ex-presidente Lula, no início de seu primeiro governo, anunciou seu apoio à revisão da CLT, que chamava do “AI-5 dos trabalhadores”, dentro de uma reforma trabalhista que tinha por base a flexibilização da legislação. E se propôs a continuar a reforma da Previdência, que deixou inacabada quando preferiu manter sua base sindical em vez de manter-se na decisão reformista.

Fumaça preta | Vera Magalhães

- O Estado de S. Paulo

Cutistas e petistas sabem que não falam mais aos setores que lhes garantiam voz e voto

Os piqueteiros de sexta-feira usaram pneus queimados no lugar de militantes no intuito desesperado de parar o País e demonstrar um inexistente apoio a um modelo de organização sindical que ruiu juntamente com o partido que o forjou, no fim da década de 70: o PT.

A fumaça preta tóxica exalada é um bom símbolo da combustão não só da borracha, mas de algo igualmente poluente: um sindicalismo que, depois de mudar o peleguismo instalado na era Vargas e acentuado na ditadura, chegou ao poder e, nessa condição, não só reproduziu os mesmos vícios corporativos como se tornou sócio de um esquema de pilhagem aos cofres públicos.

Afinal, o braço sindical do PT esteve presente, como cúmplice ou às vezes mentor, nos principais esquemas de corrupção da era Lula-Dilma: mensalão, petrolão, aloprados do dossiê da eleição de 2006, assalto aos fundos de pensão, logro aos cooperativados da Bancoop, negociatas para a criação da Oi, etc.

Feios, sujos e malvados | Ranier Bragon

- Folha de S. Paulo

Na sessão em que a base governista aprovou a reforma trabalhista, na quarta-feira (26), o deputado federal Darcísio Perondi (PMDB-RS) afirmou que daqui a algumas décadas todos eles serão lembrados como parlamentares "inteligentes, estudiosos e sensíveis".

Dado que o futuro teima em desmoralizar futurólogos, fiquemos no presente mesmo. Ou quase nele.

Daqui a 12 dias, completa-se um ano de Michel Temer no poder.

No comando de uma agenda especialmente alinhada a interesses empresariais, nas reformas e em outras medidas, Temer faz eco ao presságio perondista: o de que a libertação do "espírito animal" da avenida Paulista irá trazer empregos, crescimento e reconhecimento histórico.

A greve geral | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

“Não houve greve geral, houve paralisações de servidores e nos transportes, muita agitação e vandalismo”, disparou o Sueco

“No meu tempo, Saldanha, essa greve seria considerada um fracasso; cadê a classe operária? Greve foi a de 1953, em São Paulo. O que você acha, Chamorro?”, indagou o Sueco, como era conhecido Geraldo Rodrigues dos Santos, o Geraldão, um negro alto, de fala mansa e sorriso fácil. Santista, Geraldão era portuário e participou intensamente da greve que parou São Paulo e o Porto de Santos na década de 1950. Durante o regime militar, dirigiu o PCB na antiga Guanabara, na mais rigorosa clandestinidade, onde reencontrou os dois camaradas.

Seu amigo João Saldanha, o Souza, ficou famoso como comentarista esportivo e técnico da seleção brasileira de futebol, mas, na década de 1950, era dirigente do PCB no bairro paulista da Moóca, onde a greve começou. Fazia a ligação entre o líder comunista Carlos Marighella e o comando de greve. Durante a ditadura, deu cobertura para o velho amigo Geraldo, que andava com uma cápsula de cianureto no bolso para ingerir caso fosse preso. O Sueco havia jurado não delatar nenhum companheiro na tortura; preferiria morrer se fosse preso.

O STF abriu a porta da cadeia | Elio Gaspari

- O Globo

O ministro Gilmar Mendes sabia do que estava falando e o que se articulava no Supremo Tribunal Federal quando disse, em fevereiro, que “temos um encontro marcado com essas alongadas prisões de Curitiba”. O encontro deu-se na última quarta-feira e a Segunda Turma da Corte, aquela que cuida da Lava-Jato, soltou o ex-tesoureiro do Partido Popular, doutor João Claudio Genu, preso preventivamente em Curitiba desde maio de 2016. Em dezembro ele havia sido condenado pelo juiz Sergio Moro a oito anos e oito meses por corrupção passiva. Genu tem uma biografia notável. Antes de chegar a tesoureiro do PP, foi assessor do falecido deputado José Janene, o grão-mestre que ensinou o PT a operar com Alberto Youssef.

Freguês no escândalo do mensalão, Genu salvou-se com uma prescrição.

A Segunda Turma julgou um habeas corpus em favor de Genu. Ele foi condenado, mas seu recurso ainda não foi julgado na segunda instância. Estava trancado preventivamente em Curitiba, por decisão de Moro. Era um caso clássico daquilo que Gilmar chamaria de “alongada prisão”. O ministro Edson Fachin, relatando o processo, negou o habeas corpus e foi acompanhado por Celso de Mello. Por três votos contra dois, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes abriram a porta da cela de Genu. Foi uma enorme derrota para as forças-tarefa do Ministério Público e da Polícia Federal que ralam na Lava-Jato.

Desemprego eterno | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Faz pelo menos 20 anos que o desemprego não é tão alto no Brasil. Na melhor das hipóteses correntes, deve ficar em 13%, na média deste 2017. Em duas décadas, a pior marca havia sido a de 2003, 10,2%, a do primeiro ano de Lula, decorrente das crises de FHC e do pânico com a primeira eleição do petista.

Imagine-se que a taxa de desemprego caia um tanto, mas permaneça até 2020 em nível bem mais alto que a do pior dos últimos 20 anos. O jornalista não está imaginando coisas. Esta é uma previsão dos economistas do Bradesco. Em 2020, o desemprego ainda estaria em 11,8%, na média do ano. Quanto a 2018, pelo menos, há quem esteja mais pessimista que o pessoal do Bradesco (Itaú ou Safra, por exemplo).

A economia e seus altos e baixos | Celso Ming

- O Estado de S. Paulo

Vai ou não vai?

No momento, o desempenho da economia é uma mistura de fruta boa com fruta estragada. Ainda assim, o balanção geral dá sinais de estar mais para positivo do que para negativo.

A melhor notícia, a mesma que encabeça a lista (curta) há alguns meses, é o excelente desempenho das contas externas. Em março, o País ostentou o melhor resultado para meses de março desde 2005.

Também em março, a conta de Transações Correntes, que é o resumo de tudo quanto o Brasil faturou e gastou em moeda estrangeira (menos entrada e saída de capitais), veio positiva em US$ 1,4 bilhão, graças ao show que as exportações do agronegócio vêm proporcionando.

A importância desse desempenho das contas externas, que vai se estendendo abril adentro, fica mais clara quando se compara crise com crise. Uma das principais características das crises que aconteceram nos anos 80 foi a persistente deterioração desse lado da economia, com crônica fuga de dólares. Na atual crise, isso não acontece. Além das polpudas reservas de US$ 370 bilhões, que faltavam lá atrás, têm sobrado dólares no fluxo diário. As cotações da moeda estrangeira têm permanecido relativamente estáveis.

É preciso se informar para ser contra | Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

Sexta (28) foi dia de greve geral. Escrevendo este artigo na própria sexta, às 16h30, a impressão que fica é que muito poucas pessoas se mobilizaram para a greve. Serviu para "emendar" um pouco mais o feriado desta segunda-feira (1º).

Uma característica das pessoas que são contrárias ao projeto de reforma da Previdência é o baixo grau de informação. Seria muito importante que as pessoas se informassem mais.

Um bom início é estudar as simulações para o gasto com a Previdência se as regras atuais forem mantidas. Um texto apropriado é o de de Rogério Nagamine Constance e Graziela Ansiliero, intitulado "Impacto fiscal da demografia na Previdência Social", texto para discussão do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) número 2.291, de abril de 2017 (goo.gl/bcuIMa).

A tragédia do Rio | Míriam Leitão

- O Globo

Numa semana em que quatro jovens foram mortos no Alemão, na longa agonia que já chamam de guerra, o ex-governador Sérgio Cabral foi a Curitiba para dizer que fez todas aquelas compras com “sobras de campanha” e vender uma versão fantasiosa sobre a sua relação com a Petrobras e o governo Lula. Ele acha que ao confessar o crime considerado menor, caixa 2, vai atenuar suas penas.

Segundo o que contou na vara do juiz Sérgio Moro, ele tinha atritos constantes com a Petrobras por discordar dos valores pagos em royalties e participação especial. A acusação que ele foi responder é a de ter recebido “vantagens indevidas” no Comperj, conforme disseram a Andrade Gutierrez e Paulo Roberto Costa. Como Cabral se recusou a responder às perguntas do juiz e do MP, foi interrogado pelo seu próprio advogado, com questões do tipo: “qual era a relação da Petrobras com o governo do Rio?” Cabral disse que era uma relação de “lutas e litígios” e posou de estadista ao falar da política de Lula para o Petróleo, em 2009:

— Enxergamos ali um prejuízo incalculável com a nova legislação, primeiro para o Brasil. Para o Rio, as consequências seriam dramáticas.

Bolivarianismo? | Roberto Romano

- O Estado de S. Paulo

Dar a Chávez e Maduro o título de bolivarianos é falsificação, favor não insistir nessa piada

O elogio da ignorância, no Brasil, resulta de uma síntese efetuada por intelectuais, políticos, clérigos. Tal operação tem nome comum: populismo. Não se trata apenas de ideologia, existem populistas de esquerda, de direita, católicos, protestantes, muçulmanos. A demagogia, doença antiga, já na Grécia democrática recebeu seu nome de batismo. Após a queda do Império Romano, o apelo ao povo como árbitro supremo de todo poder e saber definiu movimentos de massa, fracassados ou bem-sucedidos. O romântico Michelet evoca a chusma popular como figura Christi, presença do Messias.

O populismo recusa a pesquisa para a descoberta do verdadeiro. A sua demagogia reúne em poucos chavões um arsenal tosco de propaganda. Os totalitarismos do século 20 levaram tal política ao absurdo. Goebbels, de um lado, os “jornalistas” do Pravda, de outro, abusaram do populismo em doses diárias, sorvidas pela multidão em padrões pantagruélicos. Afinal, “engolimos avidamente a mentira que nos lisonjeia, bebemos gota a gota a verdade que nos amargura” (Diderot).

Em busca do novo – Editorial | Folha de S. Paulo

Em meio à torrente de escândalos suprapartidários de corrupção, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobrevive à ruína dos políticos tradicionais que ainda aspiram ao Palácio do Planalto.

O petista lidera, com larga vantagem, as intenções de voto para 2018 nos principais cenários de primeiro turno investigados pelo Datafolha. A pesquisa, no entanto, também sugere que ele teria dificuldades de bater em um segundo escrutínio um adversário que tenha escapado da devastação de reputações da elite dirigente.

Os tradicionais contendores tucanos definharam de meados de 2016 para cá. Aécio Neves caiu de 14% para 8% das preferências. Geraldo Alckmin marca 6%.

A reforma engavetada – Editorial | O Estado de S. Paulo

A representação política é fundamento básico indispensável às democracias porque é o instrumento de legitimação dos governos nos regimes construídos sobre o primado da liberdade. Cabe à política traduzir em ação governamental os anseios da sociedade, cuidando também da delicada tarefa de promover a mediação entre os naturais conflitos de interesse entre o individual e o coletivo, os anseios corporativos e o bem público, resultantes da complexidade da natureza humana. A política brasileira, obviamente, não cumpre sua finalidade precípua, uma vez que, hoje mais do que nunca, nela prevalece a mentalidade patrimonialista que impede a distinção entre o que é público e o que é privado. Assim, se o sistema político não funciona – com o que os deputados federais aparentemente não concordam –, cabe reformá-lo. No caso do Brasil, com urgência. Foi essa a conclusão unânime dos especialistas reunidos no Debate Estadão: A reforma política que queremos, promovido em parceria com a Fecomercio-SP, o movimento Vem Pra Rua e o Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice).

Esquerda e PT são reféns de Lula – Editorial | O Globo

É provável que, pelo medo de ‘ajudar a direita’, evite-se admitir o óbvio, e com isso não se discutem o partido e a própria reconstrução da política no Brasil

Houve um dia em que a confissão de um marqueteiro do PT de que recebera dinheiro, de caixa 2, em uma conta aberta no exterior causou comoção no próprio partido. Duda Mendonça depunha na CPI dos Correios, em agosto de 2005, na esteira da denúncia da existência do mensalão, e decidiu abrir parte do jogo — sabe-se hoje que havia mais a relatar. Pois este testemunho, de pobreza franciscana diante do que surgiria a partir da Lava-Jato, desatou uma crise de choro entre parlamentares petistas e levou alguns a abandonar o partido.

Doze anos depois, petistas, com Lula à frente, carregam extensa folha corrida de denúncias, muitas delas de corrupção ativa e passiva. Alguns foram presos e outros ainda estão na cadeia. E ninguém mais chora e ameaça trocar de legenda. O que os silencia? A causa? A figura mítica do líder? Ou ambos? Mistério.

A Perfeição | Clarise Lispector

O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.

O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.

Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.

O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.

Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.