quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Opinião do dia – Marco Aurélio Nogueira

A vasta e pouco estruturada área democrática do país permanece na expectativa, em stand-by, sem saber o que lhe reservará o dia de amanhã.

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É professor titular de teoria política da Unesp, “A segunda chance de Temer”, O Estado de S. Paulo, 3/8/2017

Câmara barra denúncia por corrupção contra Temer

Articulação para barrar acusação da PGR mobilizou o Planalto no último mês e continuou ontem Ministros e líderes partidários negociavam emendas até durante a sessão Presidente pode ser alvo de novas acusações

- O Estado de S. Paulo.

O plenário da Câmara rejeitou autorização para que o Supremo Tribunal Federal julgue a denúncia por corrupção passiva contra Michel Temer, o primeiro presidente da República a sofrer acusação formal por crime comum no exercício do cargo. 

O parecer do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDBMG), que recomendava o arquivamento da acusação feita pela Procuradoria-Geral da República, recebeu 263 votos favoráveis e 227 contrários. Com a decisão, a denúncia contra Temer pela acusação de ser o destinatário de uma mala com R$ 500 mil repassados pela J&F para o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) só poderá ser eventualmente analisada após o presidente deixar o cargo.

Temer usa máquina, demonstra força e barra denúncia na Câmara

Câmara barra denúncia de corrupção contra Temer na Câmara

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A Câmara dos Deputados barrou nesta quarta-feira (2) a denúncia em que a Procuradoria-Geral da República acusa o presidente Michel Temer de ter cometido crime de corrupção.

Votaram com Temer 263 deputados, que foram contrários à autorização para o Supremo Tribunal Federal analisar o caso. Outros 227 foram favoráveis ao aval a essa acusação do Ministério Público, que tem como base a delação de executivos da JBS. Estiveram ausentes 19 deputados (na prática, votando com o presidente), e houve duas abstenções.

Temer nega todas as acusações e diz que a peça assinada por Rodrigo Janot é uma "ficção" baseada em um ato criminoso patrocinado por um "cafajeste" e "bandido" –em referência à gravação feita por Joesley Batista, da JBS, de uma conversa que o empresário teve com o presidente no porão do Palácio do Jaburu. Com a decisão da Câmara, a denúncia fica congelada até o fim do mandato de Temer, em dezembro do ano que vem.

Vitória de Temer custa caro

Por Daniel Rittner, Raphael Di Cunto, Fábio Graner e Fernando Torres | Valor Econômico

Brasília e São Paulo - A vitória do presidente Michel Temer, ontem na Câmara, teve um custo alto para os cofres públicos e doerá no bolso do setor privado. O presidente obteve 263 votos favoráveis ao arquivamento do pedido de autorização para que o Supremo Tribunal Federal investigue se ele cometeu crime de corrupção passiva. Houve 227 votos contrários. Em sua maioria, as bancadas de São Paulo, Rio e Espírito Santo votaram contra o presidente, resultados que surpreenderam o governo. Temer é acusado pela Procuradoria-Geral da República de negociar favores para a JBS em troca de suborno, entregue em uma mala a um ex-auxiliar seu, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures.

Apenas três iniciativas de um "pacote de bondades" recente para agradar aos parlamentares - a liberação de emendas, o refinanciamento de dívidas de produtores rurais e o aumento dos royalties da mineração - somam R$ 13,2 bilhões.

Câmara rejeita processo contra Temer

Por Raphael Di Cunto, Edna Simão, Murillo Camarotto, Cristiano Zaia, Marcelo Ribeiro, Fabio Graner, Rafael Bittencourt, Vandson Lima, Daniel Rittner, Fernando Exman e Lucas Marchesini | Valor Econômico

BRASÍLIA - Com um pequeno grupo de manifestantes em frente a Congresso, a Câmara dos Deputados rejeitou ontem a autorização para que o presidente Michel Temer seja julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pelo crime de corrupção passiva. O governo trabalhou intensamente, até minutos antes da votação, para fazer o placar mais elástico possível e tentava alcançar resultado que sinalizasse maior facilidade para aprovação de reformas constitucionais a partir de agora. Mas não conseguiu ir muito além da maioria absoluta. Votaram pela rejeição da denúncia 263 deputados. A favor foram 227, com 20 ausentes e 2 abstenções.

Embora governo e oposição tivessem previsto cerca de 200 votos a favor do prosseguimento da denúncia, surpreendeu a forma como os aliados se dividiram. Temer perdeu em São Paulo, Rio, Bahia, Ceará, Acre, Sergipe e Espírito Santo. No papel, a oposição tinha apenas 100 votos, mas a base elevou o pedido de afastamento de Temer a mais que o dobro, apesar de toda a articulação, com pagamento de emendas e ofertas de cargos em troca de apoio.

Temer fica

Temer barra denúncia na Câmara e ganha fôlego

Votação chega ao fim com 263 votos contra processo

Por Catarina Alencastro, Renata Mariz e Vinicius Sassine | O Globo

BRASÍLIA - Depois de 34 dias de intensas negociações — marcadas por encontros diários com dezenas de deputados, liberações de bilhões de reais em emendas parlamentares, distribuição de cargos a aliados e um jogo pesado de pressões nos bastidores —, o presidente Michel Temer conseguiu barrar nesta quarta-feira a denúncia que pesava contra ele por corrupção passiva que havia chegado à Câmara dos Deputados no dia 29 de junho. O Palácio do Planalto tratorou a oposição e obteve 263 votos contra a denúncia, 91 a mais do que os 172 necessários para impedir que o caso seguisse para o Supremo Tribunal Federal (STF), enquanto a oposição mobilizou 277 a favor da continuidade do processo. Se o caso tivesse ido adiante e a Corte houvesse recebido a denúncia e tornado Temer réu, isso levaria ao seu afastamento por 180 dias. Foram registradas duas abstenções e 20 ausências.

Temer vence a batalha, mas a guerra continua | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S.Paulo

Nunca antes neste País um presidente da República em pleno mandato foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República. Nunca antes neste País a Câmara negou a autorização para o processo no Supremo Tribunal Federal. E nunca antes neste País os gramados do Congresso ficaram vazios durante uma votação tão importante.

Às 18 horas, a Polícia Legislativa identificava mais de 200 policiais militares e apenas 30 pessoas diante do Congresso e não mais do que 50 se movimentando a partir da rodoviária. “Nem cem manifestantes?!”, exclamava um experiente segurança, acostumado há décadas de grandes votações e grandes manifestações.

Todo poder ao Centrão | José Roberto de Toledo

- O Estado de S.Paulo

A negociação é voto a voto, grupelho a grupelho, financiador a financiador

A líder do PSB orientando voto contra mas avisando que votaria a favor de Temer sintetiza o que foi ontem a apreciação da primeira denúncia contra o presidente da República pela Câmara: os partidos valem nada. Ao menos como representação política. Tanto que o grosso da barganha feita pelo Planalto para sustentar o chefe não foi com lideranças partidárias, mas com bancadas temáticas: ruralistas, sindicalistas, sonegadores.

Partidos negociam legendas para candidaturas, coletam verbas do Fundo Partidário e distribuem tempo de propaganda eleitoral. Só. Não têm mais nem pudor de aparentar unidade. O líder do PSDB orientou sua bancada a votar contra Temer, mas o autor do relatório a favor do presidente é tucano, assim como quatro ministros. O PT pregou contra, mas um seu governador demitiu secretários para que eles ajudassem o presidente na votação.

Eixo de poder muda e DEM ganha força | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

A vitória de Michel Temer na Câmara ontem, com maior facilidade que o melhor dos prognósticos ouvidos até a véspera, deve dar algum fôlego para o governo tentar implementar uma agenda mínima que lhe permita sair das cordas – sem, no entanto, melhorar a popularidade.

Da mesma maneira, deverá deslocar o eixo de poder dentro da aliança que dá suporte ao governo: o PSDB, mesmo que não perca postos no Ministério, sai muito menor do episódio, e o DEM e partidos do chamado Centrão ganham força.

Temer vira refém do Congresso | João Domingos

- O Estado de S.Paulo

A vitória de Michel Temer na votação da Câmara que arquivou a denúncia contra o presidente salvou-lhe o mandato. Mas foi incompleta. Porque se tira de Temer a pressão do dia a dia da denúncia, o torna de vez refém do Congresso. Temer pode dizer que não será refém, porque seu governo é congressual. Tudo é feito em parceria com deputados e senadores e pelo menos a metade de seus ministros tem origem no Parlamento.

Temer divide e impera | Maria Cristina Fernandes

- Valor Econômico

Presidente manejou a mais antiga lição da política

O presidente Michel Temer lançou mão do mais antigo ensinamento da política para vencer a primeira das batalhas pela manutenção do cargo. Dividiu a tudo e a todos para oferecer a continuação do seu mandato como a única saída viável a atores em disputa.

Instigou velhas rixas entre um DEM, sempre preterido em chapas presidenciais, e os tucanos. Evitou que o PSDB embarcasse na opção Rodrigo Maia, mas alimentou as ambições do partido do presidente da Câmara em ocupar o vácuo de poder deixado pelo PMDB no Rio. Da intervenção na Cedae à ocupação do Rio pelas Forças Armadas, deu demonstrações de que o poder de iniciativa de seu governo não pode ser ignorado por quem almeja a conquista do Estado.

O presidente da República deu asas ainda ao conluio político-industrial para alargar o rombo das contas públicas. No embate com o ministro Henrique Meirelles, a dupla Romero Jucá-Paulo Skaf vence por goleada. O torniquete patrocinado por ambos no impeachment fica, a cada dia, mais caro. A soma de Refis, desoneração prorrogada de empresas, fundo eleitoral, MP do Funrural, resistência à mudança nos subsídios do BNDES e aumento de impostos sobre os combustíveis é tão extravagante quando a anestesia generalizada daqueles que um dia reagiram contra 20 centavos.

Vitória consagra tese do semiparlamentarismo | Igor Gielow

- Folha de S. Paulo

O clichê da vitória de Pirro, aquela que exaure o vencedor de todas as forças e o força a capitular, esteve presente no cálculo do Planalto durante todo o processo no qual resistiu à bomba atômica deixada pelo empresário Joesley Batista no colo do presidente Michel Temer após a fatídica reunião entre os dois no escurinho do Alvorada.

Já existe um consenso, um "novo normal" para usar outro clichê mais atual, de que a vitória que os votos mínimos para derrubar a denúncia inédita contra o presidente na Câmara garantiram nesta quarta (2) manterá Temer na cadeira presidencial até o fim do mandato que herdou de Dilma Rousseff. Mais: se por ventura for alvejado com violência suficiente por novas denúncias, o peemedebista simplesmente seria trocado por uma "meia dúzia" qualquer.

Temer respira | Merval Pereira

- O Globo

Não foi uma surpresa o governo ter número suficiente para barrar a investigação pedida pela Procuradoria-Geral da República, nem o fato de a oposição não ter chegado a um acordo para tentar evitar o quorum mínimo para a votação. Além do que ficou claro que boa parte da oposição quer mesmo é manter Temer no Palácio do Planalto sangrando, para facilitar uma campanha oposicionista em 2018.

Mas o renascimento da base aliada, mesmo em número menor, é um fato político indiscutível, que facilitará o trabalho do governo de tentar recuperar a credibilidade para retomar o projeto de reformas estruturantes.

O caminho não será fácil, pois ainda restam delações de antigos correligionários como Eduardo Cunha e novas denúncias do Procurador Rodrigo Janot. Ontem mesmo ele incluiu o próprio presidente, e mais seus principais ministros, Eliseu Padilha e Moreira Franco, numa investigação já em curso no Supremo Tribunal Federal.

A real política do presidente | Paulo Celso Pereira

- O Globo

Uma das máximas atribuídas a Antônio Carlos Magalhães era de que na política é necessário saber dar a cada aliado o que ele espera de você: alguns querem dinheiro, outros poder, outros proteção. E é fundamental não confundir as demandas. O resultado da sessão desta quarta-feira coloca o presidente Michel Temer no panteão dos detentores dessa arte da política.

Desde que tornou-se alvo da delação da JBS, revelada pelo GLOBO, Michel Temer usou tudo o que tinha em mãos: distribuiu cargos, abriu os cofres públicos a demandas duvidosas, entregou um mar de emendas parlamentares para as bases políticas de deputados, recebeu no gabinete presidencial todo tipo de deputado, sem qualquer linha de corte.

'Silêncio das ruas' |José Casado

- O Globo

Desde a deposição de Dilma Rousseff prevalece o silêncio no espaço público

Há mais de uma dúzia de meses não se ouve o ronco das ruas. Desde a deposição de Dilma Rousseff, prevalece o silêncio no espaço público. As pesquisas de opinião sugerem que a sociedade sabe exatamente o que quer e precisa. E, por isso mesmo, se recusa a reconhecer um lado no embate quase sempre retórico dos gladiadores nos plenários do Congresso.

Havia um rastro dessa indiferença na quarta-feira, durante a votação na Câmara sobre a denúncia contra Michel Temer, acusado de corrupção. Em Brasília, a cercada e policiada Esplanada dos Ministérios exibia um imenso vácuo de grama ressecada. Notável a ausência até das habituais torcidas corporativas organizadas. Nas demais cidades não houve manifestações significativas, nem eco ruidoso de panelaços.

Por que Temer ficou? | Ricardo Noblat

- O Globo

_ Temer fica, quando nada por ora, porque ninguém queria que saísse — salvo a maioria dos brasileiros, favorável a que ele fosse processado por corrupção passiva. Simples assim. Nem parte expressiva dos que votaram pela concessão de licença para que Temer fosse julgado pelo Supremo Tribunal Federal queria de fato sua queda.

Presidente algum desde Fernando Collor, o primeiro a ser eleito pelo voto popular depois do fim da ditadura militar de 64, soube como Temer encarnar os anseios legítimos e ilegítimos da chamada classe política. Por preconceito, desprezo e arrogância, Collor e Dilma sempre mantiveram distância dela. Fernando Henrique guardou certo decoro. Lula disfarçou sua rendição o quanto pode.

O pretexto econômico – Miriam Leitão

- O Globo

Muitos governistas votaram ontem afirmando que era preciso manter o presidente Michel Temer no cargo porque o governo está tocando uma agenda de reformas econômicas. Nada mais enganoso — e perigoso — do que submeter a luta contra a corrupção à economia. O Brasil está envolvido em duas agendas: reformar o gasto público e combater a corrupção. Não pode abrir mão de uma delas em nome da outra.

O governo já entrou em campo ontem sabendo que ia ganhar e que era uma questão apenas de tempo e de contar os votos. Os defensores de Temer usaram como pretexto a economia. Disseram que ele precisa permanecer porque estão aparecendo os primeiros sinais de recuperação ou porque ele defende a agenda das reformas. Deputados favoráveis ao presidente repetiam coisas como: “Pela estabilidade econômica”, ou “pelo crescimento”, “pela criação de emprego”.

A nova base de Temer - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

A vitória (262 votos contra 227, 2 abstenções e 19 ausências) demonstrou que o presidente da República tem força para governar sem depender da cúpula tucana e outros aliados da antiga oposição

O resultado da votação de ontem na Câmara, que rejeitou a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra o presidente da República, inaugura uma nova fase do governo Temer. O novo Centrão cobrará o preço do apoio com olho grande nas pastas sob controle do PSDB, cuja bancada rachou na votação da denúncia (22 votos contra, 21 a favor e 4 ausências). Mesmo que Temer seja magnânimo e resolva lamber as feridas da base, como deu a entender no pronunciamento de ontem à noite, nada será como antes. A vitória (262 votos contra 227, 2 abstenções e 19 ausências) demonstrou que o presidente da República tem força para governar o país até 2018 sem depender da cúpula tucana e outros aliados da antiga oposição, ainda que para isso tenha que negociar caso a caso as medidas que exigirem quórum qualificado.

Cotidiano enigmático | Murillo de Aragão

- Blog do Noblat

Devemos acreditar que a sabedoria popular tem raízes profundas na filosofia. As expressões “nem tudo que balança cai” e “nem tudo que reluz é ouro”, por exemplo, podem nos ajudar a enfrentar os enigmas do cotidiano.

Segundo o escritor inglês Alain de Botton, Sócrates achava que não era possível viver sem raciocinar de maneira sistemática sobre os objetivos a serem alcançados. O exemplo que ele utilizava era o dos oleiros e sapateiros, cuja habilidade para esculpir vasos e moldar sapatos não decorreria apenas de sua intuição.

A segunda chance de Temer | Marco Aurélio Nogueira

- O Estado de S. Paulo

Não foi a lavada que o governo esperava, mas deu para o gasto, com alguma folga. Foram 263 votos, contra 227. Deram a Michel Temer uma segunda chance.

Conseguida na bacia das almas, a vitória do governo precisa ser relativizada. Não é daquelas que deixam o vencedor dormir o sono dos justos. A articulação que a possibilitou teve de tudo: pressão, promessas, ameaças, troca de favores, negociações, liberação de emendas. O “centrão” nadou de braçada nesse ambiente sem substância democrática e pouco republicano. O PSDB bateu cabeças o tempo todo, fiel a seu estilo desunir para perder. O próprio PMDB não votou unido. Os Democratas de Rodrigo Maia se saíram melhor, trabalhando a boca pequena.

A oposição não caprichou no discurso, não foi persuasiva, não mostrou habilidade, deixou-se levar pelo histrionismo vazio de suas principais lideranças. Subiu no surrado pedestal da moralidade, como se não tivesse que olhar para os próprios pés e fazer sua autocrítica. Manteve a lenga-lenga de que, antes, éramos felizes e não sabíamos, sem nem sequer explicar por quais motivos Temer foi vice de Dilma por duas vezes.

Nada de novo no front. Tem sido assim de forma recorrente.

Foi um dia feio para a democracia brasileira. O governo ganhou porque não teve oposição à altura e porque soube se beneficiar da ideia pragmática e prudencial de que é melhor com Temer do que sem ele, que ao menos está “sabendo reduzir a inflação”.

O cenário mostrou uma Câmara em um de seus piores momentos, extensão daquilo que ocorreu no impeachment, em 2016. Não foi por acaso que Temer se projetou como vice de Dilma. O estrago vem lá de trás e sempre seguiu vias tortuosas, que agora cobram o preço. Tudo medíocre demais, patético demais, como se nada de muito sério estivesse em discussão. O que importava era mostrar a cara para os eleitores, valendo-se da retórica inflamada, de caras e bocas, de apelos passionais, de juras de ódio ou amor. Até tatuagens foram feitas, ou encenadas.

Saberá Temer aproveitar a segunda chance?

Não é de esperar. Ele fez um pacto de sangue com o “centrão”, viu o grupo de Rodrigo Maia crescer em poder de articulação, distanciou-se das correntes que poderiam emprestar alguma credibilidade, alguma dignidade programática e alguns quadros teóricos a seu governo. Não dá para acreditar que, de um dia para o outro, reformulará tudo e se reinventará. Jura que voltará a se empenhar por reformas, mas não mostra ter forças ou votos para isso. Continua a ser puxado para baixo pelo perfil rasteiro do ministério, pela mediocridade parlamentar e pelo discurso chocho do próprio Presidente.

A decisão de ontem deverá ter pouco impacto no processo político que já aponta para as urnas de 2018. Ninguém ganhou com ela. Todos perderam.

Temer não ficará sangrando em céu aberto, ainda que parte de suas vísceras estejam expostas. Pesará nada em sua sucessão, com poder zero para influenciá-la. Há uma interrogação flutuando sobre ele: como chegará até o fim? Lula tem imensos problemas e até os passarinhos do Planalto sabem que sua eventual candidatura é mais um problema que uma solução, inclusive para ele próprio. Bolsonaro segue em busca de um partido e de uma plataforma civilizada, fazendo o possível para cortejar a direita, os ressentidos e os incautos. Tucanos estão em revoada, sem saber em que galho pousar. E Marina está, por enquanto, em fase de aquecimento.

A vasta e pouco estruturada área democrática do país permanece na expectativa, em stand-by, sem saber o que lhe reservará o dia de amanhã.
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É professor titular de teoria política da Unesp

A ‘política radical’ de Lula – Editorial | O Estado de S. Paulo

Lula da Silva chegou à conclusão de que o Brasil precisa de um programa “radical no sentido político”. Defendeu a ideia na segunda-feira, em São Paulo, durante reunião convocada para “debater” o programa do partido a ser apresentado na campanha presidencial do ano que vem. Não entrou em detalhes sobre o que entende por um programa político “radical”. Há, entretanto, fortes indícios de que está convencido de que só um governo forte, autoritário, será capaz de “salvar” o País. Dias antes, falando em nome do PT – portanto, em nome de Lula – no Foro de São Paulo realizado em Manágua, capital da Nicarágua, a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), manifestou apoio e solidariedade “ao governo da Venezuela e ao presidente Nicolás Maduro”, bem como a esperança de que a eleição de uma Constituinte, que se realizaria no domingo passado, “possa contribuir para uma consolidação cada vez maior da revolução bolivariana”.

Vitória de Temer prorroga a crise – Editorial | O Estado de S. Paulo

A atuação do governo, dando encaminhamento favorável a reivindicações de deputados e bancadas, mostrou-se eficaz para garantir a vitória ao presidente Michel Temer na sessão de ontem da Câmara, impedindo o Supremo Tribunal de analisar a denúncia de corrupção passiva que pesa contra ele, elaborada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Por fim, 263 deputados ficaram a favor de Temer e 227, contra. Seriam necessários 342 deputados para levar a denúncia ao Supremo.

Foi um erro, como defendido ontem pelo GLOBO. Isso porque a ética deve prevalecer sobre quaisquer outros aspectos, e a lei precisa ser aplicada independentemente de pessoas, partidos e ideologias. A votação de ontem foi de fundo político, pode-se argumentar, mas a vitória de Temer transmite para a sociedade a ideia de que pesos e medidas mudam a depender de quem estiver em questão.

O argumento de que a manutenção de Temer no Planalto é necessária para garantir a estabilidade vem sendo repetido à exaustão, e foi o que aconteceu em vários pronunciamentos de deputados da base do governo na sessão de ontem, presidida por Rodrigo Maia.

O que move a agenda – Editorial | Folha de S. Paulo

A capacidade que um governo tem de gastar acima de suas receitas depende, é claro, da existência de investidores dispostos a emprestar o dinheiro necessário para cobrir o deficit no Orçamento.

As fronteiras para tais arranjos são, sim, elásticas, mas finitas.

Eventualmente, o mercado credor julga que uma dívida pública tornou-se excessiva, representando ameaça de calote. Nesta circunstância, o financiamento é interrompido ou condicionado a ajustes —nos dois casos, em especial no primeiro, sujeita-se a população a duros sacrifícios.

Se a teoria econômica não define de modo exato esses pontos de ruptura, a observação empírica mostra que o Brasil encontra-se em zona de risco elevado, da qual não será capaz de sair tão cedo.

Constituinte completa a blindagem do Estado chavista – Editorial | Valor Econômico

Os objetivos antidemocráticos da eleição de uma Assembleia Constituinte na Venezuela estavam claros desde o início e o governo de Nicolás Maduro tentará levar a farsa até o fim. Um dia depois da votação, opositores que estavam em prisão domiciliar, como Leopoldo López e Antonio Ledesma, ex-prefeito de Caracas, foram mandados de volta para os presídios. E para não deixar qualquer dúvida que a Constituinte veio para selar o fim da Assembleia Nacional, onde a oposição conquistou pelo voto a maioria, é intenção de Maduro instalar os trabalhos de seus 545 membros na sede do parlamento.

A Venezuela caminha agora para a "cubanização". Após dominar o Executivo, o Judiciário e os órgãos encarregados das eleições, os chavistas arrebataram o Legislativo. As esperanças diplomáticas de que poderia haver negociações para retomada do diálogo com a oposição antes da instalação da Constituinte não duraram uma alvorada. O novo órgão de poder tem a composição setorial de inspiração fascista que norteou, por exemplo, a ditadura do Estado Novo brasileiro. Com o boicote da oposição, a Constituinte será totalmente "bolivariana".

PSDB, PV e PPS são os mais 'infiéis' a Temer em votação de denúncia

Quatro deputados também surpreenderam ao votar pela aceitação da denúncia mesmo após terem declarado antes que seriam contra

Thiago Faria, Daniel Bramatti e Cecília do Lago | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Três partidos que ocupam ministérios no governo de Michel Temer tiveram as menores taxas de “fidelidade” da base aliada durante a votação que barrou o andamento da denúncia contra o presidente nesta quarta-feira, 2. PSDB, com quatro ministérios, e o PV, com um, registraram índices abaixo de 50% de votos a favor do presidente. Já no PPS, dos dez deputados da sigla, só um votou contra a denúncia. O partido ocupa o Ministério da Defesa.

No caso dos tucanos, dos 47 deputados da bancada, 22 foram contra o andamento da denúncia, 21 a favor e 4 se ausentaram. Apesar de um dos mais baixos entre os partidos da base, o índice, de 46,8%, agradou aos ministros tucanos, que esperavam uma maioria pela aceitação da denúncia. Uma ala da bancada na Câmara, os chamados “cabeças pretas”, tem pressionado o partido a desembarcar do governo de Temer.

Tucanos lideram traições entre aliados e expõem racha sobre apoio a Temer

Talita Fernandes | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Segundo maior partido da base do governo, o PSDB foi a legenda aliada que deu, proporcionalmente, mais votos contrários a Michel Temer na votação desta quarta-feira (2).

Dos 47 deputados tucanos, 21 votaram pelo prosseguimento da denúncia por corrupção passiva contra Temer. O resultado da votação mostra o racha da bancada na Câmara sobre o apoio ao Palácio do Planalto.

Outros quatro deputados não compareceram à votação: Shéridan (RR), Eduardo Barbosa (MG) e Pedro Vilela (AL) e Raimundo Gomes de Matos (CE). Barbosa justificou a ausência pela morte da esposa em acidente de carro.

O partido, que detém quatro ministérios no governo, vive um momento de indefinições. Enquanto o presidente interino, senador Tasso Jereissati (CE), defende a entrega de cargos, Aécio Neves (MG), licenciado da presidência do PSDB, passou o fim de semana articulando a votação junto ao Planalto.

Tasso diz que interinidade 'perdeu sentido', e Aécio deve reassumir PSDB

Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - À frente do PSDB desde maio, o senador Tasso Jereissati (CE) disse que a interinidade "perdeu o sentido", e o senador Aécio Neves (MG) deve retomar a presidência da sigla. Nesta quinta-feira (3), os dois se encontrarão para bater o martelo.

Reassumindo, Aécio pode renovar a licença e escolher outro vice-presidente tucano, ou ficar no cargo. Desde que retomou o mandato no Senado, em julho, o mineiro voltou a comandar articulações políticas e mostrou a intenção de reassumir o posto.

"Como Aécio voltou com a plenitude de seus direitos políticos, com a possibilidade de exercer a função em todas as áreas, o que tenho argumentado para ele é que a interinidade perdeu o sentido", afirmou Tasso.

Não obstante, ele pediu "uma convenção ou congresso para o partido rediscutir sua história e os seus ideais".

Cartas de meu avô | Manuel Bandeira

A tarde cai, por demais
Erma, úmida e silente…
A chuva, em gotas glaciais,
Chora monotonamente.

E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô
Escrevia a minha avó.

Enternecido sorrio
Do fervor desses carinhos:
É que os conheci velhinhos,
Quando o fogo era já frio.

Cartas de antes do noivado…
Cartas de amor que começa,
Inquieto, maravilhado,
E sem saber o que peça.

Temendo a cada momento
Ofendê-la, desgostá-la,
Quer ler em seu pensamento
E balbucia, não fala…

A mão pálida tremia
Contando o seu grande bem.
Mas, como o dele, batia
Dela o coração também.