sábado, 2 de setembro de 2017

Opinião do dia – Roberto Freire

Durante este ano, em uma quadra tumultuada da vida nacional, outro dado que merece ser ressaltado é a inequívoca força das nossas instituições e o avanço do combate à corrupção e às malfeitorias reveladas pela Operação Lava Jato.

O Ministério Público Federal, a Polícia Federal, o Poder Judiciário e os órgãos de fiscalização e controle estão em pleno funcionamento e com total independência para realizar seu trabalho, com acompanhamento cada vez mais assíduo por parte da própria sociedade. Não tenho dúvidas de que sairemos melhores da crise.

Já faz um ano que Dilma, Lula e o PT se tornaram página virada da história e ficaram para trás, embora continuem ensaiando narrativas e discursos vazios como se tivessem condições de retornar ao poder quando bem entendessem.

Apesar das dificuldades, a inflação despencou e hoje é a menor em décadas, a economia dá sinais de recuperação e reformas importantes foram aprovadas ou estão em andamento no Congresso. A responsabilidade pela transição existe e continuará, e ela é a maior segurança de que completaremos a travessia até 2018 e construiremos um país melhor.

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Roberto Freire é deputado federal por SP e presidente nacional do PPS, “Memórias do impeachment e um olhar sobre o futuro”, Blog do Noblat/O Globo, 1/9/2017

O banco dos réus | Miguel Reale Júnior*

- O Estado de S.Paulo

Acusados de corrupção superam as discórdias do passado para se unir numa causa comum

Há um denominador comum a unir a maioria das lideranças políticas brasileiras: o banco dos réus. Se não estão com o processo instaurado, recebida a denúncia, estão denunciados ou vêm sendo investigados em inquérito policial. Assim, os presidentes dos principais partidos – PT, Gleisi Hoffmann; PMDB, Romero Jucá; PSDB, Aécio Neves; PP, Ciro Nogueira; e PSD, Gilberto Kassab – encontram-se às voltas com a Justiça penal.

Quatro ex-presidentes da República sofrem processos: Lula vários, já condenado a 9 anos de prisão; Collor, com denúncia recebida por crime de corrupção passiva no valor de 30 milhões em razão de propina oriunda da BR Distribuidora; José Sarney, denunciado por corrupção passiva decorrente da atividade da Transpetro na contratação da empresa NM Engenharia, indo a vantagem para o PMDB do Maranhão; e Dilma, envolvida com a JBS.

Jogo bruto | João Domingos

- O Estado de S.Paulo

A volta do financiamento empresarial de campanha é o pior que pode acontecer ao PT

A reforma política que o Congresso tenta fazer às pressas, e que é apenas um remendo, carrega em si mais do que a falta de acordo entre os partidos para os temas centrais nela trabalhados. O impasse sobre a adoção do financiamento público de campanha, distritão, fim das coligações para as eleições proporcionais e criação da cláusula de barreira embute o medo que deputados e senadores têm da rejeição cada vez maior da sociedade em relação ao comportamento deles.

Essa rejeição, que pode significar a derrota nas próximas eleições, faz com que cada um puxe a corda da reforma para o seu lado. Nessa disputa não há espírito de solidariedade de um com o outro. Pelo contrário. Quem puder empurrar o outro precipício abaixo o fará sem nenhum constrangimento.

Quanto mais o tempo passa, mais o desespero aumenta. Para que as novas regras possam valer para as eleições do ano que vem, as reformas têm de ser aprovadas até o dia 7 de outubro, pois a legislação exige que as mudanças sejam feitas a pelo menos um ano do primeiro turno da eleição.

Privatizações no atacado | Sueli Caldas

- O Estado de S.Paulo

Os projetos são repetições dos anteriores e, como nos governos do PT, não focam ativos, mas concessões

Ao constatar em pesquisa nas redes sociais que a palavra privatização (em um Estado que privilegia poucos e deixa o grosso da população à deriva) acrescenta alguns pontinhos na popularidade do presidente, o entourage político de Michel Temer desandou a anunciar planos de privatizações. Em pouco mais de um ano de gestão já anunciou três pacotes – em setembro/2016, março/2017 e agosto/2017. Este último com 57 itens. Só esqueceu de explicar para a população por que não andaram os projetos prometidos nos dois primeiros. Sim, porque os três pacotes não são distintos entre si, são repetições dos anteriores e, como nos governos do PT, não focam ativos, mas concessões (o primeiro deles já era uma recauchutagem trazida do governo Dilma). Ao que a economista Elena Landau chamou de reembrulho de outorgas: “Em um país que tem 158 estatais não é possível que não se encontrem ativos para vender”, denuncia Elena.

Comemoração incompleta | Cristovam Buarque

- O Globo

Somos um país de baixa capacidade de inovação

Daqui a cinco anos, o Brasil ingressará no terceiro centenário de sua história como país independente. Neste 7 de setembro, aos 195 anos de nossa independência, é possível comemorar o que nossos antepassados conseguiram. Atravessamos quase 200 anos consolidando um imenso território soberano e unificado por redes de transporte, de comunicações, de distribuição de energia, a economia brasileira está entre as maiores do mundo no valor do produto, passamos de 200 milhões de habitantes. Não há dúvida de que temos que comemorar os primeiros dois séculos.

Mas se, no lugar de olharmos para a história, olharmos ao redor, a festa perde seu brilho. Comemoramos um elevado PIB, o oitavo do mundo, mas 84º por habitante, por causa de nossa baixa produtividade. Igualmente grave, nossa economia se concentra em bens agrícolas e minerais ou indústrias tradicionais, porque somos um país de baixa capacidade de inovação. Do ponto de vista social, carregamos a vergonha de sermos campeões em concentração de renda, temos formidáveis ilhas de riqueza e um trágico mar de pobreza.

Razões da não reforma | Merval Pereira

- O Globo

Há uma razão pragmática para que não se chegue a consenso sobre a reforma política, além do simples fato de que a maioria dos deputados não quer mudar o sistema que os elegeu. Mas o PRB e o PR, que juntos somam 60 votos na Câmara, têm uma motivação a mais. Eles contam em suas fileiras, respectivamente, com puxadores de votos como o deputado mais votado do país, Celso Russomano, com 1.524.286 votos, e o segundo mais votado, Tiririca, que teve 1.016.796.

Graças a isso, o PRB elegeu oito deputados em São Paulo, três levados pela votação de Russomano. Já Tiririca elegeu outros dois deputados, e o PR chegou a seis em São Paulo. Além de aumentar as bancadas de seus partidos, esses puxadores de voto aumentam também o fundo partidário distribuído pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anualmente aos partidos que participaram das eleições para a Câmara.

A maior parte dos recursos — 95% — é distribuída entre os partidos de acordo com o número de votos obtidos na eleição para a Câmara dos Deputados (os 5% restantes são divididos igualmente). Assim, cada voto obtido por uma legenda equivale, todo ano, a uma determinada quantia.

Na sua mais recente versão, o fundo estava em cerca de R$ 800 milhões, o que dá por cada voto válido R$ 12. Assim como os grandes craques de qualquer esporte têm remuneração variável pela performance, ou executivos recebem bônus por produtividade, os grandes puxadores de voto, dizem as más-línguas, também recebem uma percentagem do que levam para o fundo partidário.

Fim da recessão | Miriam Leitão

- O Globo

A recessão ficou para trás. Tecnicamente, é isso que se pode dizer com o segundo trimestre de alta. O dado divulgado encerra 12 trimestres de queda na comparação com o mesmo período anterior. A recuperação é lenta e frágil, porque anda sobre o terreno movediço da crise política, mas os indicadores positivos começam a aparecer com mais frequência, como a queda do desemprego divulgada esta semana.

Foi o quarto mês seguido de redução do desemprego. A população ocupada aumentou em um milhão e quatrocentas mil pessoas no trimestre de maio a julho, comparado ao trimestre anterior. Com a liberação do FGTS das contas inativas, as famílias reduziram dívidas e elevaram o consumo. Isso evitou o número negativo que se temia que ocorresse no segundo trimestre. O impacto da crise de 17 de maio foi menor do que o esperado, disse a MB Associados, que ontem mesmo revisou de 0,3% para 0,7% o PIB do ano. Pode parecer pouco, mas se ocorrer esse resultado, o país terá saído de uma queda de 3,6% para uma alta de 0,7%. Recuperação de mais de quatro pontos percentuais.

Livrai-nos de todo o mal | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Sem capital político para aprovar a reforma da Previdência, o governo Temer busca comprar a confiança do mercado com uma agenda ambiciosa de privatizações.

Para os entusiastas do mercado, privatizações são uma espécie de pílula mágica, que resolve todos os problemas. Elas não apenas serviriam para tornar a economia mais eficiente (melhores produtos e serviços a preços mais baixos) e reduzir o tamanho do Estado como ainda permitem ao país fazer caixa para reduzir dívida e juros.

Já para a esquerda, privatizações são tóxicas. Seriam uma forma ardilosa de transferir patrimônio público para as mãos de particulares e ainda reduzir o poder do Estado de promover o bem comum. Mesmo quando recorrem a elas, governos que se dizem de esquerda se desdobram para nunca chamá-las pelo nome. Dilma, por exemplo, recorreu ao eufemismo "concessões", que nada mais são que privatizações por prazo fixo.

Não ficção | Julianna Sofia

- Folha de S. Paulo

- Que o Orçamento é obra ficcional, sempre se soube em Brasília. Mas a derrota parlamentar do governo Michel Temer, ao não aprovar uma nova meta de deficit fiscal a tempo de fechar a proposta orçamentária de 2018, transformou o texto enviado nesta semana ao Congresso num conto burlesco.

Na Presidência da República, o deputado Rodrigo Maia enzonou. Assinou o Orçamento "fake" só na última hora; recusou-se a canetar medidas provisórias e projetos de lei necessários para cumprir a futura meta e a peça orçamentária, que precisará ser remendada. São propostas impopulares de aumento de carga tributária e de porrete no funcionalismo. Deixou para Temer na volta da China.

O presidente sentirá um clima diferente na cidade no retorno. A Esplanada dos Ministérios já respira o ar seco e quente da segunda denúncia. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin alternam atos formais quase ensaiados, elevando a temperatura.

Ensaio de recuperação insinua gás para governistas em 2018 | Igor Gielow

- Folha de S. Paulo

O ensaio de recuperação econômica, por duvidoso que seja em sua intensidade, sugere um gás renovado para o desgastado campo governista para a disputa eleitoral do ano que vem.

A impopularidade perene de Michel Temer (PMDB) é uma variável constante de qualquer equação, mas as coisas mudam de figura se a recuperação transparecer na forma de algum alívio para o cidadão comum.

O óbice ao raciocínio está no fato de que parâmetro mais sensível nesse caso, o do emprego, é também o que mais demora a reagir.

Paradoxalmente, uma melhoria que seja visível a ponto de afetar a pontuação dos postulantes ao Planalto em 2018 também encerra um risco para o governismo: o da pulverização de candidaturas na centro-direita, dificultando o plano de manutenção de poder do campo.

Pautas-bomba | Adriana Fernandes

- O Estado de S.Paulo

É preciso parar de apontar os vilões e mocinhos para a crise das contas públicas

A crise fiscal do Brasil no curto prazo se agravou e não há como contestar essa realidade. Contra os fatos – os déficits gigantescos das contas do governo – não há argumentos.

O retrato perfeito dessa situação é o descaso do Congresso com a necessidade de um compromisso amplo com a recuperação da saúde do setor público.

É mais do que urgente que os parlamentares parem de fazer teatro ao cobrarem corte de gastos, quando patrocinam sem constrangimentos pautas bombas do lado das receitas. Nem toda resistência está associada à preocupação (diga-se legítima) com as eleições de 2018.

Se o governo Dilma Rousseff teve que conviver com pautas-bomba do lado das despesas patrocinadas pelo ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o presidente Michel Temer tem agora de lidar com propostas que minam a arrecadação das receitas. A maior parte delas com a marca da sua própria base de aliados que se aproveita de um governo enfraquecido para tirar vantagens cada vez maiores a cada negociação.

Erros e acertos | Ana Maria Machado

- O Globo

Não foi só o PT que deixou órfãos seus seguidores bem intencionados. O PSDB errou, sim, e muito. E não apenas agora

Certas filosofias orientais, de cunho religioso ou não, incentivam a meditação. Outras, incluindo a tradição cristã, valorizam o recolhimento para pensar, e até propõem o exame de consciência. Correntes leigas de pensamento reconhecem a importância de uma autoanálise individual ou em grupo. Algumas consagraram a prática da autocrítica pública como forma de rever posições antes defendidas com afinco e depois ultrapassadas pelos acontecimentos. Na política internacional, volta e meia um líder vem a público, constrangido, admite que cometeu erros irreparáveis e se desculpa — com direito a suicídio de vergonha, em sociedades de valores éticos mais exigentes.

Com tantos exemplos respeitáveis, não deveria parecer chocante que nestes tempos escandalosos que vivemos alguém se disponha a quebrar a hipocrisia reinante e reconhecer que errou. Com toda certeza, esse reconhecimento arrependido poderia servir de ponto de partida para consertar o mecanismo viciado que nos fez chegar a este ponto vexaminoso e indigno, de tanta desonestidade, a corroer a política e a vida social do país, enquanto são traídos os eleitores que levaram ao poder quem os enganou e cometeu erros em seu nome, fingindo representá-los.

PIB tem resultado melhor que o previsto e pode crescer 1% no ano

PIB cresce mais que o previsto, mas investimento preocupa

Alta de 0,2% no segundo trimestre surpreende analistas; já há apostas de crescimento superior a 1% no ano

- O Estado de S. Paulo.

O Produto Interno Bruto do País cresceu 0,2% no segundo trimestre, acima das expectativas de boa parte do mercado. Foi a segunda alta seguida, após o crescimento de 1% registrado de janeiro a março, o que sinaliza que a recessão está ficando para trás. Já há apostas de crescimento até superior a 1% no ano. O aumento de 1,4% no consumo das famílias, principal vetor do crescimento da economia no trimestre, teve influência direta da desaceleração da inflação, da queda dos juros e da liberação das contas inativas do FGTS. Os serviços cresceram 0,6%. A queda nos investimentos, porém, preocupa.

Com um forte impulso do consumo das famílias, o Produto Interno Bruto (PIB, valor de todos os bens e serviços produzidos na economia) brasileiro cresceu 0,2% no segundo trimestre, acima das expectativas de boa parte do mercado. Foi a segunda alta seguida, após o crescimento de 1% registrado de janeiro a março, o que sinaliza de maneira mais clara que a recessão está ficando para trás. Com o resultado, analistas e instituições financeiras passaram a rever suas projeções para o ano, e já há apostas de um crescimento até superior a 1% este ano.

Economia sai da recessão

Mas analistas divergem se recuperação é sustentável

PIB cresce 0,2%, puxado pelo consumo das famílias. Indústria e investimentos recuam. Incertezas no cenário político dificultam retomada mais consistente

Pelo segundo trimestre seguido, a economia cresceu entre abril e junho, marcando assim o fim da recessão, que começou em 2014. A alta em relação ao primeiro trimestre, de 0,2%, foi puxada pelo consumo das famílias, graças à liberação das contas inativas do FGTS, à queda da inflação e ao recuo no desemprego. Frente ao segundo tri- mestre de 2016, o PIB avançou 0,3%. O resultado surpreendeu, e analistas já preveem alta de até 0,7% este ano. Mas os investimentos, importantes para garantir crescimento sustentável, voltaram a cair e já recuaram 29,7% desde o terceiro trimestre de 2013. Para analistas, incertezas políticas dificultam a retomada dos investimentos.

Recuperação pelo consumo

Gastos das famílias puxam alta de 0,2% no PIB, mas fôlego pode ser menor daqui para frente

Marcello Corrêa, Marina Brandão, Cássia Almeida e Gabriel Martins* | O Globo

O dinheiro extra do FGTS, a inflação mais baixa e os juros menores aumentaram o poder de compra do brasileiro no segundo trimestre e ajudaram a tirar o país da recessão mais duradoura e intensa pela qual já havia passado. Após nove trimestres em queda, o consumo das famílias registrou alta de 1,4% na comparação com os três meses anteriores, surpreendeu analistas e foi o principal fator por trás do crescimento de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no período. O resultado — a segunda expansão consecutiva da economia brasileira — permitiu que, pela primeira vez em mais de dois anos, especialistas dissessem que o pior da crise ficou finalmente para trás.

Alta do consumo faz o PIB crescer e desperta otimismo

Consumo dá impulso a recuperação do PIB no segundo trimestre

PIB do Brasil sobe 0,2% no 2º trimestre de 2017

Mariana Carneiro, Lucas Vettorazzo | Folha de S. Paulo

RIO - O consumo voltou a crescer após mais de dois anos de retração, levando o PIB (Produto Interno Bruto) a uma alta de 0,2% no segundo trimestre deste ano. O resultado reforça sinais de que a economia brasileira começa a se recuperar da recessão, puxada pelos gastos das famílias.

A queda da inflação e das taxas de juros, além da interrupção das demissões, ajudaram a criar um ambiente positivo, apesar do desemprego continuar em nível elevado.

O efeito prático é o aumento da renda de consumidores, amplificado pelos R$ 44 bilhões liberados de contas inativas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).

Segundo os dados divulgados nesta sexta (1) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o consumo aumentou 1,4% no segundo trimestre, em relação aos primeiros três meses do ano. Foi o primeiro sinal positivo desde o fim de 2014, o ano em que a recessão começou.

Segundo o Bradesco, o dinheiro do FGTS foi responsável por dois terços da alta do consumo. O benefício teve caráter temporário, mas outros fatores poderão puxar o consumo nos próximos meses.

Para José Marcio Camargo, sócio da Opus Investimentos, as famílias se beneficiarão de condições melhores no crédito e no mercado de trabalho.

"O desemprego começou a cair antes do previsto. Isso deverá melhorar ainda mais a confiança e gerará mais consumo", afirma o economista.

A recuperação continua – Editorial | O Estado de S. Paulo

O Brasil continua em recuperação, lenta, mas persistente, com o consumo em alta, o comércio exterior saudável, a agropecuária firme e alguns segmentos industriais ganhando vigor. O risco de uma recaída na recessão parece ter ficado para trás, mas é bom continuar de olho na principal fonte de problemas da economia brasileira, a Praça dos Três Poderes. Além de prejudicar a reativação, más decisões políticas podem travar a criação de postos de trabalho já observada em alguns tipos de empresas e comprometer a redução do desemprego. Embora modesto, o balanço econômico do segundo trimestre contém alguns números estimulantes. O Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi 0,2% maior que o de janeiro a março, um resultado melhor que o estimado, até há poucos dias, por vários especialistas. Esse foi o segundo balanço trimestral positivo, depois de oito no vermelho.

Economia se move em meio à crise política – Editorial | O Globo

Há mais de dois anos o consumo da população não crescia, o que é ajudado pela inflação baixa; mas tudo vai ser decidido no front político, onde pairam incertezas

A composição do magro 0,2% do crescimento do PIB do segundo trimestre, sobre o primeiro, índice que insinua uma estabilidade, traz boas notícias. A evolução em 1% no primeiro trimestre tinha sido construída por uma safra recorde, cuja característica é produzir efeitos de fôlego curto — positivos ou negativos.

E agora, foram os serviços — respondem por 65% do PIB —, que tracionaram este pequeno, porém bem-vindo, crescimento. Ao contrário das safras, colhidas e comercializadas, o setor de serviços pode dar contribuição positiva à economia bem mais duradoura.

Mais ainda: esta expansão se deve ao aumento do consumo das famílias, razão direta da retomada de algum poder de compra da população. Também em comparação com o trimestre anterior, houve, neste item , uma expansão de 1,4%, algo que não acontecia há mais de dois anos.

Recessão no retrovisor – Editorial | Folha de S. Paulo

Há bons motivos para acreditar que o país tenha, enfim, superado uma de suas mais longas e profundas recessões econômicas.

Não se pode afirmá-lo com segurança, contudo, porque remanesce grande fragilidade nos setores produtivos, após quase três anos de crise ininterrupta.

De todo modo, foi sem dúvida favorável o resultado, divulgado nesta sexta-feira (1º) do Produto Interno Bruto brasileiro no segundo trimestre do ano.

Nem tanto pela taxa de expansão —de apenas 0,2% em relação aos três meses anteriores, levando a alta acumulada no ano a 1,3%. Mais relevantes são os sinais de melhora encontrados agora em um número maior de setores e atividades.

Macron e o trabalhador | Gilles Lapouge

- Correspondente / Paris, O Estado de S.Paulo

A pretensão do presidente é mudar totalmente a filosofia e a prática do trabalho na França

Emmanuel Macron não quer mais que as pessoas lembrem que, há dois meses, ele se comparou a Júpiter, o rei dos deuses da Grécia. Com razão: esse acesso de vaidade delirante era grotesco. Como a vaidade não evapora tão rápido quanto o orvalho da manhã, e como Macron é muito inteligente e culto, qualquer dia destes ele vai propor outra metáfora para nos lembrar que está acima dos mortais.

Podemos sugerir outra figura do Panteão da Grécia: Hércules, o semideus, o colosso que cumpriu 12 trabalhos fabulosos como se estivesse brincando. E justamente esta semana Macron começou a se dedicar ao primeiro trabalho gigantesco: a reforma do Código Trabalhista.

Esse código, no decorrer de décadas e de governos contraditórios, ficou mais denso, complicado e obscuro, repleto de exceções, notas, regimes especiais, aditamentos, precauções, e hoje é um monstro: são 3.809 páginas às quais devemos acrescentar o Código de Comércio, com 3.834 páginas, totalizando quase 8.000. Os dois códigos suíços não contêm, somados, mais de 500 páginas.

Terra sem lei | Demétrio Magnoli

- Folha de S. Paulo

Donald Trump está dizendo que a Constituição dos EUA não o deterá

Qual é o valor específico de uma notícia? No fluxo rápido do noticiário, o caso de Joe Arpaio, o caçador de imigrantes, teve vida curta. Mesmo quando ganhou alguma luz dos holofotes, permaneceu à sombra de eventos mais "quentes", como o míssil norte-coreano que sobrevoou o Japão ou, no Brasil, a perene circulação de cargos de indicação política de nosso "presidencialismo de cooptação". Afinal, tem relevância especial o perdão de Trump um xerife aposentado, de 85 anos, do condado de Maricopa, Arizona?

Steve Bannon, o arauto da alt-right, a "direita alternativa", expelido do cargo de estrategista-chefe da Casa Branca, reagiu à demissão por meio da sua plataforma online, o Breitbart News, que acusou o "pântano" de ter tragado o presidente. O decreto de perdão a Arpaio, assinado dias depois, é a réplica de Trump: um gesto prático no prometido empreendimento de "drenar o pântano".

Mesa da Bienal relembra histórias de Ferreira Gullar

Poeta tomou pânico de avião após experiência ruim em ponte aérea

Leonardo Cazes | O Globo

“Ferreira Gullar continua sendo o maior poeta vivo do Brasil. Eu me recuso a acreditar que ele morreu”, disse o também poeta, dramaturgo e acadêmico Geraldo Carneiro, na mesa que celebrou a obra do maranhense, morto em dezembro de 2016, na tarde de ontem, no Café Literário da Bienal do Livro do Rio. Carneiro, a atriz Ana Paula Pedro e o poeta, professor e acadêmico Antônio Carlos Secchin lembraram histórias que viveram com Gullar, leram poemas e comentaram sua obra. A mediação foi da jornalista Cristiane Costa.

Carneiro contou que conheceu o poeta por um acaso, quando os dois deram aulas na mesma faculdade, após o maranhense voltar do exílio. Fã de Gullar, ele sentia “uma série de sintomas patológicos de tiete”.

— Ficava acanhadíssimo, tremia todo, as palavras mal me saíam dos lábios — disse Carneiro, que dividiu muitas mesas de eventos com Gullar e destacou que o poeta sempre dizia o que pensava. — Ele tinha uma sinceridade suicida. Era incapaz de trair a própria verdade, mesmo nas situações mais difíceis. Ele manteve a vida toda uma certa intolerância juvenil, mas até a sua intolerância era notavelmente admirável.

Os Poemas | Mario Quintana

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…