quinta-feira, 7 de setembro de 2017

As flechas contra o general Leônidas e nós | Luiz Werneck Vianna

Talvez já seja a hora de se falar que as aves de mau agouro, que ainda insistem em pousar em nossa sorte, estejam começando a sentir que lhes tenha chegado o momento de baterem asas em busca de lugares mais propícios à sua presença malévola. As ruas, embora atentas ao que se passa ao redor, se mantém serenas, malgrado as vociferações daqueles treinados em açular, como nas rinhas de galos de briga, instintos guerreiros e que, mesmo em surdina, se mantêm renitentes incitando cizânia pelos meios de comunicação sob sua influência.

Nessa empresa, ocultam maliciosamente seus propósitos da opinião pública, assim exposta a um enigma que não consegue decifrar – será que se trata de tentativas de manipulação da próxima sucessão presidencial? De outra parte, os quartéis, em outros momentos sensíveis a turbulências do tipo das que agora nos acometem, igualmente atentos, se fizeram blindar das paixões irracionais da política com o manto do texto constitucional.

Uma agenda positiva para o Brasil | Roberto Freire

- Diário do Poder

O crescimento da economia brasileira no segundo trimestre deste ano, cujo aumento foi de 0,2% em relação aos primeiros três meses de 2017, é mais um indicador importante de que o país iniciou o processo de retomada e está deixando para trás a maior recessão de sua história, um perverso legado do período de 13 anos do lulopetismo. É evidente que ainda se trata de uma lenta recuperação, que demorou um pouco mais que o esperado para começar, mas é suficiente para mudar o ambiente do país e dar maior esperança à população.

Já em relação ao segundo trimestre do ano passado, ainda de acordo com dados divulgados pelo IBGE, houve um crescimento de 0,3% do PIB – foi o primeiro resultado positivo após 12 baixas seguidas nesta base de comparação, desde o primeiro trimestre de 2014. É importante lembrar que o Brasil já havia registrado um avanço de 1% nos três primeiros meses de 2017, interrompendo uma sequência de dois anos com índices sucessivamente negativos.

O IBGE também apontou uma recuperação do nível de consumo das famílias brasileiras, que cresceu 1,4% no segundo trimestre em comparação com o primeiro. Em relação ao mesmo período do ano passado, o avanço foi de 0,7%. Segundo o IBGE, o resultado positivo se deve, entre outros fatores, à queda da inflação no período, à redução da taxa básica de juros e ao crescimento dos salários.

Com os bons resultados apresentados pela economia brasileira, também melhorou a perspectiva para o consolidado do ano. De acordo com a última edição do Boletim Focus, relatório divulgado pelo Banco Central, a mediana das projeções para o crescimento do PIB em 2017 saltou de 0,39% para 0,5% e, para 2018, já chega a 2%. A estimativa para a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi reduzida de 3,45% para 3,38% neste ano e de 4,2% para 4,18% no ano que vem.

Esvaziamento de nova denúncia de Janot e suas implicações políticas e econômicas |Jarbas de Holanda

Provável cancelamento do acordo judicial com os delatores da JBS e a possibilidade de que sejam anuladas as provas contra o presidente Michel Temer geradas pela gravação de seu encontro com Joesley Batista (por causa da ilicitude da montagem dela). Essa virada nas investigações da Lava Jato conduzidas pelo procurador Rodrigo Janot e em seus desdobramentos (que se configurou a partir das revelações à imprensa feitas no final da tarde de anteontem pelo próprio Janot) tem, ademais de efeitos negativos para a imagem dessas investigações, duas implicações políticas imediatas. 

Primeira – fragilizar a nova ameaça contra o mandato de Temer, com formalização já adiada e que poderá até não ocorrer nos 11 dias de comando da PGR que restam ao ainda procurador-geral. Segunda – reduzir as dificuldades (de tempo exíguo e de fortes resistências corporativas e patrimonialistas, manipuladas pelo fisiologismo de parte da base parlamentar governista) para uma tramitação legislativa bem sucedida de projetos institucionalmente relevantes. Entre os quais se destacam a mudança das metas fiscais de 2017 e 2018, já aprovadas conclusivamente ontem; e as duas alterações possíveis, e boas, de regras eleitorais e do sistema partidário – o fim das coligações proporcionais e a adoção da cláusula de desempenho, aprovadas também ontem na Câmara, onde enfrentavam maior resistência. 

O inacreditável mora aqui | Murillo de Aragão

- Blog do Noblat

O realismo fantástico se incorporou à rotina do país. Gabriel García Márquez e o seu Cem anos de solidão são fichinha perto do que acontece por aqui. Macondo, a cidade fictícia do romance onde aconteciam coisas estranhas, não é nada perto do que acontece em Brasília e na política nacional.

O Brasil deveria ganhar o Nobel de Literatura por transformar ficção em realidade. Nada supera nossa capacidade de transformar fantasia em pesadelo. Alguns fatos que vieram à tona nos últimos dias comprovam nossa condição inusitada: as novas gravações do empresário Joesley Batista, da JBS, e o achado de milhões em um apartamento de Salvador.

Começo pelo segundo fato. Encontraram mais de 51 milhões de reais acondicionados em malas e caixas em um apartamento da capital baiana. O imóvel seria de um amigo de Geddel Vieira Lima (PMDB), ex-ministro da Secretaria de Governo de Michel Temer e hoje sob prisão domiciliar. Em tempo, o amigo já disse na Polícia Federal que o apartamento estava emprestado para Geddel.

Quem guardaria tanto dinheiro em um apartamento vazio? Como se consegue recolher milhões em dinheiro vivo e transitar pelo país? O que justificaria alguém ganhar 51 milhões e esconder em um apartamento? Que logística foi empregada para tirar o dinheiro dos bancos e fazê-lo chegar ao apartamento?

Reação devastadora | Merval Pereira

- O Globo

O Ministério Público Federal está empenhado nos últimos dias em encontrar na legislação de Direito civil brasileira meios de retirar da família Batista o controle das empresas do grupo J&F a partir da decisão de rescindir o acordo de colaboração premiada firmado com Joesley Batista.

Revendo os benefícios concedidos, a Procuradoria-Geral da República vai pedir a prisão dos irmãos Batista e dos assessores que fizeram a delação premiada, agora maculada por omissões graves.

Os bens de todos os envolvidos serão postos em indisponibilidade e, com base na legislação que protege os acionistas e os empregos das empresas do grupo J&F, estas serão acusadas de lavagem de dinheiro e de ganho de capitais ilícitos a partir da delação premiada contra o presidente da República.

A questão do controle das empresas do grupo é delicada e está provocando muitas discussões internas, já que qualquer medida seria baseada em situações em que a legislação prevê uma intervenção na administração de empresas, sejam concessionárias de serviço público ou bancos.

A paulada de Palocci | Bernardo Mello Freire

- Folha de S. Paulo

O depoimento de Antonio Palocci é devastador para a defesa, a imagem e o futuro de Lula. Desta vez, o ex-presidente não pode alegar que foi fritado por um empresário aflito para sair da cadeia. Quem o jogou na fogueira foi um velho companheiro, que atuou como figura-chave nos governos do PT.

Palocci afirmou à Justiça que Lula fechou um "pacto de sangue" com Emílio Odebrecht, dono da maior empreiteira do país. Ele afirmou que o "pacote de propinas" incluiria um terreno para o instituto do ex-presidente, as reformas no sítio de Atibaia e a reserva de R$ 300 milhões.

De acordo com o ex-ministro, a relação "bastante intensa" da construtora com os governos petistas teve um preço. A empresa teria recebido vantagens em troca de "benefícios pessoais" e doações de campanha, via "caixa um e caixa dois".

Fim de jogo | Ricardo Noblat

- O Globo

O dia 6 de setembro de 2017 tem tudo para passar à História como o que selou o destino do mais popular líder político brasileiro desde Getúlio Vargas, o presidente da República que em agosto de 1954 matou-se com um tiro no peito para não ser derrubado por um golpe militar.

Em menos de duas horas, ficou-se sabendo que o ministro da Fazenda e da Casa Civil dos governos Lula e Dilma, Antonio Palocci, “o Italiano”, entregou o “pacto de sangue” firmado pelo PT e pela construtora Odebrecht. E que Lula e Dilma foram denunciados outra vez, desta vez por obstrução de Justiça.

A Lula, segundo Palocci, a Odebrecht pagou propinas num valor de R$ 300 milhões — parte para financiar suas atividades, parte para a compra de uma nova sede do Instituto Lula, e o resto para satisfazer qualquer outro desejo dele. O pacote incluía o pagamento de R$ 200 mil por palestra.

Lula e Odebrecht fizeram ‘pacto de sangue’ de R$ 300 milhões

Valor, segundo ex-ministro, seria para ex-presidente ‘fazer atividade política’ Eleição de Dilma Rousseff, em 2010, deixou empreiteira ‘em • pânico’ Pacote de propinas incluiu terreno para Instituto Lula, sítio em Atibaia e apartamento Ele diz ter ficado

O ex-ministro Antonio Palocci disse ao juiz Sérgio Moro que o ex-presidente Lula fez um “pacto de sangue” com a Odebrecht no qual a empreiteira se comprometeu a pagar R$ 300 milhões em propinas ao PT. O acerto, segundo ele, foi feito no fim do governo do petista e incluiu também um terreno para o instituto do ex-presidente, o sítio de Atibaia (SP) e o aluguel de um apartamento de cobertura em São Bernardo do Campo. O ex-ministro afirmou que, com a eleição de Dilma Rousseff, em 2010, Emílio Odebrecht “entrou em pânico” porque as relações da presidente eleita com a companhia não eram boas, e procurou Lula para oferecer um “pacote de propinas”. Faziam parte do acerto, ainda, palestras pagas a R$ 200 mil cada e o prédio de um museu. O ex-ministro disse ter ficado “bastante chocado” com a proposta. Palocci foi um dos principais auxiliares e homem de confiança de Lula no primeiro mandato do ex-presidente. Titular da Fazenda, foi o principal interlocutor do PT com os empresários e o setor financeiro.

Emílio ofereceu ‘pacote de propinas’ a Lula: terreno, sítio e R$ 300 mi, diz Palocci

Ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil do PT incrimina ex-presidente em interrogatório perante juiz Sérgio Moro

Julia Affonso, Ricardo Brandt e Luiz Vassallo | O Estado de S. Paulo.

O ex-ministro Antonio Palocci, homem forte da Fazenda e da Casa Civil nos Governos Lula e Dilma, falou. Primeiro petista a romper a barreira do silêncio, na Operação Lava Jato, Palocci entregou os ex-presidentes Lula e Dilma e seu partido.

Palocci: Lula fez ‘pacto de sangue’ com Odebrecht por propinas

Ex-ministro diz que ‘pacote’ incluiu sítio, terreno e R$ 300 milhões

Janot apresenta nova denúncia ao Supremo contra os ex-presidentes Lula e Dilma, desta vez por obstrução de Justiça; petistas negam todas as acusações

Homem forte nos governos Lula e Dilma, o ex-ministro Antonio Palocci acusou os dois expresidentes petistas de manterem com a Odebrecht uma “relação movida a vantagens”, a propinas pagas “em forma de benefícios pessoais, doações de campanha, caixa um, caixa dois...” Preso desde setembro de 2016 e tentando acordo de delação, Palocci disse que, em 2010, Lula fez um “pacto de sangue” com Emílio Odebrecht que incluiu “pacote de propinas”, citando o sítio de Atibaia, o terreno para o Instituto Lula, palestras com cachês de R$ 200 mil cada e mais R$ 300 milhões à disposição do expresidente. Dilma, afirmou Palocci no depoimento ao juiz Sergio Moro, sabia e compactuava com o esquema criminoso. Segundo o ex-ministro, o dinheiro saía de acordos ilícitos com o governo, incluindo “quase todos” os contratos com a Petrobras. Palocci afirmou ainda que ele e Lula tentaram criar obstáculos à Lava-Jato. Os ex-presidentes negaram todas as acusações.

‘Pacto de sangue’

Primeiro petista a delatar Lula, Palocci detalha acordo de R$ 300 milhões com a Odebrecht

Chico Prado, Dimitrius Dantas, Gustavo Schmitt e Sérgio Roxo | O Globo

-SÃO PAULO- Preso há cerca de um ano em Curitiba, o ex-ministro Antonio Palocci se tornou ontem o primeiro petista a imputar crimes de corrupção ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a afirmar que o partido recebeu dinheiro de propina para financiar campanhas eleitorais. Ao ser interrogado pelo juiz Sérgio Moro, Palocci disse que a Odebrecht tinha um “pacto de sangue” com o PT. Segundo ele, em troca de benefícios com o governo federal, a construtora teria dado a Lula o sítio de Atibaia, o terreno onde seria construído a noa sede do Instituto Lula, além de contratar palestras do expresidente por R$ 200 mil. Já o partido, sustenta, recebeu R$ 300 milhões, utilizados em suas campanhas.

Lula e Odebrecht fizeram pacto de sangue, diz Paloci

Relação entre Odebrecht e governos petistas era movida a 'vantagens e propinas', diz Palocci

Ana Luiza Albuquerque, Flávio Ferreira | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em depoimento ao juiz Sergio Moro nesta quarta-feira (6), o ex-ministro Antonio Palocci afirmou que a relação entre a empreiteira Odebrecht e os governos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff era "movida a propina".

"Bastante movida a vantagens dirigidas a empresa, a propinas pagas pela Odebrecht a agentes públicos, em forma de doação de campanha, benefícios pessoais, caixa 1, caixa 2", disse.

O ex-ministro foi ouvido na ação em que Lula é acusado de ter recebido da Odebrecht um terreno de R$ 12,4 milhões, destinado a ser a nova sede do Instituto Lula (negócio que acabou não se concretizando), e um apartamento de R$ 540 mil em São Bernardo do Campo (SP), vizinho ao que o petista mora com a família.

Segundo Palocci, os fatos narrados na denúncia são verdadeiros e dizem respeito apenas "a um capítulo de um livro um pouco maior" do relacionamento da empresa com os governos petistas.

PACTO DE SANGUE
O ex-ministro falou que, em 2010, com a eleição de Dilma Rousseff, houve uma mudança no relacionamento com a empreiteira. Palocci afirmou nunca ter estabelecido, até então, valores com Marcelo Odebrecht. "Porque tudo que eu pedia eles atendiam."

Com Dilma, entretanto, a construtora teria se mostrado "muito tensa". "Quando Dilma foi tomar posse a empresa entrou num certo pânico."

Supremo e PGR indicam rever acordo da J&F

Janot deve solicitar que Joesley Batista e outros delatores percam imunidade penal; três ministros têm mesma avaliação, mas preservando provas

Beatriz Bulla, Rafael Moraes Moura e Breno Pires | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o empresário Joesley Batista e outros dois delatores do Grupo J&F percam a imunidade penal prevista no acordo de colaboração. O motivo é a omissão de fatos descobertos em gravação entregue pelos delatores. A indicação de Janot converge com a avaliação feita por ministros da Corte de que os benefícios concedidos aos empresários merecem ser rediscutidos, embora façam a ressalva de que as informações obtidas a partir do acordo poderão continuar a ser aproveitadas em processos.

A imunidade aos irmãos Batista é alvo de questionamento desde maio, quando a delação foi divulgada. Janot tem defendido o acordo com a justificativa de que não havia outra opção. Porém, o cenário mudou na segunda-feira, 4, quando o procurador-geral abriu um procedimento interno na PGR após analisar gravação em que Joesley fala sobre suposta orientação de Marcelo Miller, ex-procurador, aos delatores.

Maioria do STF é contra anulação de provas de delação da JBS

A eventual revisão dos benefícios acertados na delação premiada de Joesley Batista e Ricardo Saud não deve invalidar as provas já apresentadas pelo dono e o executivo da JBS. Dos 11 ministros do STF, pelo menos seis são contra a anulação de todas as provas. Decano do STF, o ministro Celso de Mello disse que há, no mínimo, três precedentes nesse sentido na Corte. O ministro Luiz Fux defendeu a prisão de Joesley e Saud após a divulgação da gravação da conversa dos dois, que pode levar à anulação dos benefícios da delação. Para Fux, os delatores deveriam ir do “exílio nova-iorquino para o exílio da Papuda”.

Maioria do STF é contra anular todas as provas

Seis dos 11 ministros consideram que informações da JBS podem ser válidas; Joesley e Saud depõem hoje

André de Souza, Carolina Brígido e Jailton de Carvalho | O Globo

-BRASÍLIA- Ao menos seis dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a maioria, são contrários à anulação de todas as provas e indícios apresentados pelos executivos da JBS em delação premiada. Na próxima semana, a Procuradoria-Geral da República (PGR) deverá suspender a imunidade penal de Joesley Batista e do executivo Ricardo Saud, segundo duas fontes que acompanham o caso de perto. Será a conclusão do processo de revisão do acordo aberto na segunda-feira, com suspensão da imunidade penal. Em seguida, o procuradorgeral da República, Rodrigo Janot, vai levar o caso para discussão no plenário do STF.

Delator contradiz versão de Janot sobre acordo de delação com a JBS

Camila Mattoso, Bela Megale | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Um depoimento do advogado e delator da JBS, Francisco de Assis e Silva, contradiz as declarações do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Na manifestação, por escrito, que fez para pedir a abertura de uma investigação sobre omissões de informações dos executivos do frigorífico, Rodrigo Janot afirma que até o dia 17 de março, data da gravação do áudio entre Joesley Batista e Ricardo Saud, "nenhum dos colaboradores, direta ou indiretamente, haviam buscado tratativas com a PGR (Procuradoria-Geral da República), para iniciar negociação de acordo penal, fato esse que só veio a acontecer por volta de 27/03/2017".

No entanto, em um processo interno da Corregedoria-Geral do MPF (Ministério Público Federal), Assis e Silva afirmou que a primeira conversa sobre o tema ocorreu em 20 de fevereiro, ou seja, data anterior à mencionada por Janot.

Mudança de foco | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

A mudança de foco da Operação Lava-Jato para Lula e Dilma não tirou o procurador-geral Rodrigo Janot da berlinda em que se encontra por causa da atuação de Marcelo Miller

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot — que amarga os últimos dias no cargo tendo que se explicar sobre a dupla militância do ex-procurador Marcelo Miller no caso da JBS —, mudou o foco das denúncias do presidente Michel Temer para os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, denunciados ontem pelo Ministério Público Federal por obstrução da Justiça. Na véspera, Janot havia denunciado os petistas por formação de organização criminosa no escândalo da Petrobras. A nova denúncia se refere à nomeação de Lula por Dilma para a Casa Civil do governo, antes de seu afastamento da Presidência. À época, a decisão foi suspensa por liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. Também foi denunciado o ex-ministro Aloizio Mercadante, que telefonou para o senador cassado Delcídio do Amaral, supostamente para evitar a delação premiada de Delcídio.

Quanto vale o alívio em 2018 | Zeina Latif

- O Estado de S.Paulo

A atual inflexão da economia é emblemática e deverá causar impacto no quadro eleitoral do ano que vem

A recuperação da economia está em curso. O País volta à normalidade, aos poucos. Será um longo caminho até que o PIB per capita (a preços constantes) recupere o patamar pré-crise. Serão seis anos assumindo um crescimento médio de 3% ao ano nos próximos anos.

Ainda assim, a atual inflexão da economia é emblemática e deverá causar impacto no quadro eleitoral de 2018.

Nossa estimativa é de crescimento em torno de 3% em 2018. A depender dos rumos da campanha eleitoral, o PIB poderá avançar mais ou menos. Um ambiente mais ruidoso poderá limitar a contratação de mão de obra e adiar investimentos, e vice-versa.

Com o desemprego recorde, não há dúvidas que a variável-chave para a política será o mercado de trabalho. É a prova para a sociedade de que o País está no rumo certo em relação à política econômica.

Respiro na economia | Míriam Leitão

- O Globo

A inflação mais baixa desde o início do regime de câmbio flutuante, em 1999, é um alívio enorme na lenta recuperação que o país atravessa. Foi essa redução que permitiu o novo corte de juros pelo Banco Central, para 8,25%, e tem promovido aumentos reais na renda dos trabalhadores. O BC falou em política monetária “estimulativa” e aumentaram as chances de juros na casa de 6% no ano que vem.

O país vive dois momentos distintos. Na economia, há sinais cada vez mais fortes de recuperação, enquanto a política continua fonte de incertezas. A bolsa começou o dia em alta, quebrou recorde histórico, mas perdeu força e fechou pouco abaixo do topo. O mercado financeiro se anima com os números melhores da economia, mas também faz as contas do jogo político do ano que vem. O depoimento do ex-ministro Antonio Palocci pode dar novo impulso ao Ibovespa.

O Banco Central reduziu a Selic em 1 ponto e no comunicado afirmou que na próxima reunião o ritmo de cortes deve ser reduzido de forma “moderada”. Alexandre de Ázara, da Mauá Investimentos, enxerga pelo menos mais dois cortes de juros e não descarta a Selic em 6% no ano que vem.

‘Nós não vai ser preso’ – Editorial | O Estado de S. Paulo

A divulgação da íntegra de um diálogo gravado entre Joesley Batista, dono da JBS, e um dos diretores de sua empresa, Ricardo Saud, revelou ao País, com toda a clareza, de que maneira criminosos confessos souberam explorar a sofreguidão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em sua cruzada irresponsável para derrubar o presidente Michel Temer.

A gravação do diálogo foi feita pelo próprio Joesley, supostamente sem querer, quando este e Saud preparavam o gravador para ser usado em uma das tantas armações que o empresário estava urdindo contra diversos políticos, entre os quais, como se sabe, o próprio Temer. Joesley repassou esse e outros áudios à Procuradoria-Geral no dia 31 passado, no momento em que circulavam informações segundo as quais a Polícia Federal havia encontrado sinais de diálogos apagados no gravador que o empresário entregou para perícia. Caso ficasse constatado que Joesley omitira algo da Procuradoria-Geral, o acordo de colaboração premiada que celebrou com Rodrigo Janot e que lhe valeu um inacreditável perdão judicial poderia ser rescindido.

Exposição suprema – Editorial | Folha de S. Paulo

Foi enfática, como seria de esperar, a reação de membros do Supremo Tribunal Federal ao conteúdo das conversas recém-reveladas entre o dono da JBS, Joesley Batista, e seu assessor Ricardo Saud.

Num clima de pastosa serenidade, os dois, autores da mais impactante delação já feita contra uma autoridade pública brasileira, discorrem a respeito da suposta influência que conseguiriam exercer sobre magistrados do STF.

Falavam em pressionar o ex-titular da Justiça do governo Dilma, José Eduardo Cardozo, que seria capaz de "entregar", nas palavras de Joesley, o Supremo Tribunal.

A presidente da corte, Cármen Lúcia, além dos ministros Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes, são citados —sem nenhuma menção a ato ilícito— em meio a comentários de variada natureza, os quais incluem pitorescos projetos de infidelidade conjugal.

O gelo que se ouve entrechocar nos copos não serviu para arrefecer, naturalmente, o calor das respostas suscitadas pelo diálogo.

Ações oportunistas em torno da delação de Joesley – Editorial | O Globo

É inaceitável que os termos legais do entendimento do empresário com a PGR sejam desrespeitados, para que as provas já apresentadas deixem de valer juridicamente

Não causou apenas surpresa e perplexidade o anúncio feito pelo procuradorgeral da República, Rodrigo Janot, de que suspendera o acordo de delação premiada firmado com o empresário Joesley Batista e executivos dele na JBS, para investigar delitos cometidos pelos colaboradores.

A acertada decisão de Janot passou a ser usada não apenas pela defesa de Michel Temer — o que era esperado —, para desqualificar acusações da PGR contra o presidente, mas também tem sido manipulada pela bancada pluripartidária que no Congresso trabalha com afinco para barrar a Lava-Jato e todo o movimento existente no país para conter, investigar e punir esquemas de corrupção enraizados no Estado.

Inflação cai e BC reduz juros

Com a safra recorde e a queda nos preços de alimentos, a inflação ficou em 0,19% em agosto. O alívio nos preços foi um dos fatores que levaram o BC a reduzir os juros básicos para 8,25%. Analistas preveem que a taxa poderá chegar a 6,5% no fim do ano.

BC reduz mais os juros

Inflação baixa leva Selic a 8,25%. Analistas já projetam taxa em até 6,5% no fim do ano

Gabriela Valente, Marcello Corrêa, Ronaldo D’Ercole e João Sorima Neto | O Globo

-BRASÍLIA, RIO E SÃO PAULO- A queda da inflação, o quadro de recuperação gradual da atividade econômica e o cenário externo favorável levaram o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central a reduzir ontem a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, para 8,25% ao ano — o menor patamar desde julho de 2013. A decisão, já esperada pelo mercado, foi unânime. Citando a projeção para o IPCA, índice usado na meta oficial de inflação, de 3,3% no fim do ano, o Copom ainda indicou que fará novos cortes na Selic, mas de menor magnitude.

“Para a próxima reunião, caso o cenário básico evolua conforme esperado, e em razão do estágio do ciclo de flexibilização, o Comitê vê, neste momento, como adequada uma redução moderada na magnitude de flexibilização monetária. Além disso, nessas mesmas condições, o Comitê antevê encerramento gradual do ciclo”, afirmou o comunicado divulgado após a reunião. Para 2018, as estimativas para a inflação estão em 4,4%, praticamente no centro da meta, que é de 4,5%. Esse cenário pressupõe que os juros encerrem este ano em 7,25%, recuem a 7% no início de 2018 e subam a 7,5% no fim do ano que vem.

Inflação pode fechar o ano abaixo do piso da meta pela primeira vez

Com alta de 0,19% em agosto, mercado já prevê IPCA de 2,8% em 2017

Marcello Corrêa | O Globo

No início do ano que vem, o Banco Central pode ser obrigado a fazer um esclarecimento que seria improvável há alguns meses: explicar ao Ministério da Fazenda por que a inflação ficou tão baixa. Após o IBGE divulgar, ontem, que os preços subiram 0,19%, menos que o esperado para agosto, aumentaram as apostas de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) termine 2017 abaixo de 3%, o piso da meta para este ano, que é de 4,5%, com variação de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Esse tipo de prestação de contas seria inédito. A legislação que criou o regime de metas, de 1999, prevê que o presidente do BC envie uma carta aberta ao ministro da Fazenda quando não consegue cumprir o objetivo para o ano. Desde então, a mensagem foi necessária em três ocasiões, sempre porque a inflação ficou acima do tolerado — nunca abaixo.

As projeções de que o IPCA fure o piso ganharam força porque o indicador voltou a surpreender analistas. Em agosto, o índice de preços desacelerou para 0,19%, ante 0,24% em julho. A taxa é bem inferior à mediana das expectativas, de alta de 0,3%, e a menor para meses de agosto desde 2010. Pesou sobre o resultado, principalmente, a deflação de 1,07% dos alimentos, que foi suficiente para anular a alta de 6,67% dos combustíveis no mês passado.

Os destaques dos alimentos em queda foram feijão-carioca (-14,86%), tomate (-13,85%), açúcar (-5,9%) e leite longa vida (-4,26%). Os preços menos salgados são resultado da safra recorde de produtos agrícolas: quanto mais produtos no mercado, mais baratos eles ficam para o consumidor.

Romanceiro da Inconfidência (trecho) | Cecília Meireles

Não posso mover meus passos
Por esse atroz labirinto
De esquecimento e cegueira
Em que amores e ódios vão:
- pois sinto bater os sinos,
percebo o roçar das rezas,
vejo o arrepio da morte,
à voz da condenação;
- avisto a negra masmorra
e a sombra do carcereiro
que transita sobre angústias,
com chaves no coração;
- descubro as altas madeiras
do excessivo cadafalso
e, por muros e janelas,
o pasmo da multidão.

Batem patas de cavalos.
Suam soldados imóveis.
Na frente dos oratórios,
que vale mais a oração?
Vale a voz do Brigadeiro
sobre o povo e sobre a tropa,
louvando a augusta Rainha,
– já louca e fora do trono –
na sua Proclamação.

Ó meio-dia confuso,
ó vinte-e-um de abril sinistro,
que intrigas de ouro e de sonho
houve em tua formação?
Quem condena, julga e pune?
Quem é culpado e inocente?
Na mesma cova do tempo
Cai o castigo e o perdão.
Morre a tinta das sentenças
e o sangue dos enforcados …
- liras, espadas e cruzes
pura cinza agora são.
Na mesma cova, as palavras,
e o secreto pensamento,
as coroas e os machados,
mentiras e verdade estão.

Aqui, além, pelo mundo,
ossos, nomes, letras, poeira…
Onde, os rostos? onde, as almas?
Nem os herdeiros recordam
rastro nenhum pelo chão.

Ó grandes muros sem eco,
presídios de sal e treva
onde os homens padeceram
sua vasta solidão…

Não choraremos o que houve,
nem os que chorar queremos:
contra rocas de ignorância
rebenta nossa aflição.

Choraremos esse mistério,
esse esquema sobre-humano,
a força, o jogo, o acidente
da indizível conjunção
que ordena vidas e mundos
em pólos inexoráveis
de ruína e de exaltação.

Ó silenciosas vertentes
por onde se precipitam
inexplicáveis torrentes,
por eterna escuridão!