Por Andrea Jubé | Valor Econômico
BRASÍLIA - Na semana mais difícil para o presidente Michel Temer em 17 meses de governo, um incêndio assolaria a Praça dos Três Poderes se o primeiro e o segundo nome na hierarquia do poder não voltassem a se falar. Na quarta-feira, Temer enviou um whatsapp ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, rompendo um gelo de mais de 20 dias, em plena discussão da segunda ação penal contra o pemedebista.
O artífice dessa reconciliação foi o deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), que vestiu o uniforme de bombeiro e saiu a campo para conter as chamas e evitar o pior. Conhecido como "Boca Mole" nas planilhas da Odebrecht, Fortes é discreto, habilidoso, e como os craques da política, atua nos bastidores. Na sua casa, nos restaurantes, nas rodas reservadas, menos na tribuna.
O bombeiro que controla as chamas da crise política
Na semana mais difícil para o presidente Michel Temer, em 17 meses de governo, os termômetros marcaram 37 graus em Brasília, um recorde na capital federal e quase um prenúncio do incêndio que assolaria a Praça dos Três Poderes se o primeiro e o segundo nome na hierarquia do poder não voltassem a se falar.
Em meio à alta temperatura entre o presidente da República e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e na iminência do julgamento da segunda denúncia contra o chefe do Executivo, o deputado Heráclito Fortes (PSB-PI) vestiu o uniforme de bombeiro e saiu a campo para conter as chamas e evitar o pior.
Amigo de Temer há mais de 30 anos e também de Cesar Maia, pai de Rodrigo, ele sentiu-se credenciado para mediar a reaproximação dos antigos aliados. A empreitada começou na noite da última segunda-feira, quando Heráclito jantou com Rodrigo Maia e sentiu faíscas pelo ar. Ele ainda retornou na terça-feira para o café da manhã com Maia.
Horas depois, recebeu Michel Temer e o ministro Moreira Franco, casado com a sogra de Maia, para um almoço em sua casa no Lago Sul. Nesse almoço, havia mais dois parlamentares do convívio íntimo do presidente da Câmara, Benito Gama (PTB-BA) e Alexandre Baldy (PODE-GO).
Na quarta-feira pela manhã, após nova rodada de conversas, convenceu Temer a procurar Maia. Foi quando o presidente da República enviou um whatsapp ao presidente da Câmara, rompendo o gelo de mais de 20 dias, em plena discussão da segunda ação penal contra o pemedebista.
Um whatsapp parece pouco, mas foi o suficiente para, ao menos, restaurar a comunicação entre os dois. "Eu disse a eles que se os dois primeiros nomes na hierarquia do poder não estão se entendendo, isso só poderia terminar em desastre", relata o deputado pelo Piauí.
A relação entre o chefe do Executivo e o do Legislativo azedou no final de setembro, quando o PMDB de Temer filiou o senador Fernando Bezerra Coelho (PE), dissidente do PSB. Havia dois meses, Maia articulava o ingresso do parlamentar e de seu filho - o ministro de Minas e Energia e deputado licenciado, Fernando Coelho Filho - ao novo partido que resultará da fusão do DEM com siglas menores e dissidentes do PSB. Temer tinha assegurado que o PMDB não atrapalharia os planos do DEM.