quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Opinião do dia: José Álvaro Moisés

No cenário que evolui para incluir a ameaça de duas candidaturas populistas, o PSDB tem o desafio de se constituir na alternativa viável de centro, crítica das aventuras irresponsáveis dos governos ditos de esquerda do PT e, ao mesmo tempo, de costas para a opção autoritária que olha com bons olhos a ditadura. Mas, para fazer isso, o partido precisa se unir e focar energia e ação, não em lutas intestinas que nada significam para seus eleitores, mas no que quer realmente propor ao Brasil.


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José Álvaro Moisés é professor de Ciência Política da USP, ‘Desafio de ser centro’, O Estado de S. Paulo, 1/11/2017

Roberto Freire: Guerra não declarada

- Diário do Poder

Em qualquer pesquisa que se faça sobre as maiores preocupações dos brasileiros em relação à vida cotidiana, a sensação de insegurança e a impotência em relação à violência aparecem, invariavelmente, no topo da lista. Como se não bastassem as enormes dificuldades ainda enfrentadas pela população em função da maior recessão econômica da história do país – que agora, enfim, começa a ser deixada para trás –, não há uma família sequer que se sinta plenamente segura ao andar pelas ruas, seja nas metrópoles ou nos pequenos e médios municípios. A chaga da violência atingiu tal nível de desmantelo no Brasil que, lamentavelmente, quase já se vive em um cenário típico de guerra.

Segundo os dados divulgados pelo 11º Anuário Estatístico da Violência, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o país registrou em 2016 o aterrorizante número de 61.619 mortes violentas, o que corresponde a um aumento de 3,8% em relação ao ano anterior. Nesse novo e inaceitável patamar, a taxa nacional de assassinatos por 100 mil habitantes chegou a absurdos 29,9, uma das mais elevadas do mundo.

Para que se tenha a dimensão da tragédia nacional, esses números representam 7,4 vezes o que se mata nos Estados Unidos; 42,8 vezes o índice da Alemanha; e impressionantes 99,6 vezes a mais do que no Japão (onde as armas portáteis são terminantemente proibidas, inclusive as chamadas “armas brancas”, permitindo-se unicamente a posse de armas de ar comprimido e de caça).

Jarbas de Holanda: Reformas x corporações e populismos: Agora e no embate maior de 2018

Deixada para trás a segunda denúncia do ex-chefe da PGR, Rodrigo Janot, contra o mandato do presidente Michel Temer, e superados os maiores riscos institucionais por ela gerados, temos à frente – daqui até as eleições do próximo ano – um complexo e tenso cenário dominado pelo confronto em torno de medidas e propostas para enfrentamento da aguda crise fiscal do país e para reformas da economia entre seus apoiadores e forças corporativas e populistas (de apelo esquerdista ou direitista), com reações agressivamente contrárias. Tais reações à agenda reformista (corretamente reassumida como prioritária pelo presidente da República), que vão juntar grande parte da elite do funcionalismo com autointitulados “movimentos sociais”, a rigor antissociais, terão seus alcance e legitimidade esvaziados pela crescente evidência do imperativo de respostas – duras mas essenciais – à dramática crise fiscal legada pelo lulopetismo ao atual governo: de uma dívida pública bruta que aumenta R$ 50 bilhões, a cada ano, até a explosão da criminalidade (sobretudo mas não só no Rio) como um dos múltiplos efeitos dessa crise nos governos das três esferas político-administrativas.

A cobrança das referidas respostas vai passando a ser feita não apenas pelo conjunto do empresariado mas também por muitos segmentos da população, de par com um progressivo reconhecimento dos ganhos já conseguidos: o fim da recessão com um PIB positivo, a queda da inflação e dos juros básicos, reversão do desemprego, o desmonte do custosíssimo e corrupto gigantismo estatal, com o saneamento da Petrobras e a privatização da Eletrobras.

Merval Pereira: Investigações em curso

- O Globo

Se causaram rebuliço entre políticos e autoridades estaduais, as declarações do ministro da Justiça, Torquato Jardim, sobre a contaminação política do crime organizado nas forças policiais não surpreenderam os cariocas e os que acompanham a situação da segurança pública no Rio.

Os políticos que saíram em defesa das corporações o fizeram corretamente para evitar generalizações, mas eles certamente sabem o que acontece em setores da segurança do estado. Essa promiscuidade não é inerente às forças policiais do Rio, mas acontece em todos os lugares em que o combate ao crime organizado está em andamento.

A célebre história do policial Sérpico, em Nova York, que ajudou a desbaratar quadrilhas de criminosos que atuavam dentro da polícia nova-iorquina, transformada em filme de sucesso com Al Pacino, foi lembrada ontem pelo deputado Miro Teixeira.

O que milhões de pessoas viram nos filmes “Tropa de Elite”, 1 e 2, citados pelo ministro Torquato Jardim como situações que voltamos a viver no Rio depois de um breve intervalo em que as Unidades Pacificadoras funcionaram, era ficção baseada na realidade.

A Força-Tarefa que foi criada recentemente pela Procuradoria-Geral da República, a pedido do ministro da Defesa, Raul Jungmann, tornou-se necessária justamente devido à situação específica do Rio, em que a corrupção política abriu caminho para a atuação do crime organizado dos traficantes e dos milicianos.

José Roberto de Toledo: As limitações de Bolsonaro

- O Estado de S.Paulo

Após entrevista, páginas de apoio ao presidenciável tiveram que defender seu candidato

Bastou um “Oi?” espantado da jornalista para Jair Bolsonaro viralizar nas mídias sociais – mas, desta vez, de um jeito bem diferente do que ele está acostumado. Em vez de atacar rivais, as páginas de apoio ao presidenciável pró-ditadura tiveram que defender seu candidato. O motivo? Sua admissão pública de que não entende nada de economia. A repercussão negativa da entrevista reforçou a hipótese de que quanto mais Bolsonaro se expuser a perguntas, mais solavancos sua candidatura sofrerá.

O deputado e militar reformado enfrenta um dilema. Se quiser voltar a crescer na preferência dos eleitores, ele precisa se popularizar. Campanha pela internet, onde Bolsonaro produz mais interações do que qualquer outro candidato a presidente, é boa para quem pede voto porque não há contraditório. Ele só fala o que quer e não ouve o que não quer. Mas a campanha virtual tem limites: só atinge o eleitorado das classes de consumo A, B e C.

Eleitores maduros e pobres, das classes D e E, não passam o dia no Facebook ou no Instagram, como o jovem e típico eleitor de Bolsonaro. Os bolsonaristas são quatro vezes mais comuns entre os mais ricos do que entre os mais pobres, segundo o último Ibope: 24% a 6%, no cenário com Lula e Alckmin. Por conta dessa elitização, o “buzz” sobre Bolsonaro é três vezes maior nas mídias sociais do que nas pesquisas de intenção de voto.

Bernardo Mello Franco: De novo, a banda podre

- Folha de S. Paulo

Em março de 2000, o antropólogo Luiz Eduardo Soares denunciou a existência de uma "banda podre" na polícia do Rio. Ele não disse mais que o óbvio, mas entrou na mira de deputados e coronéis. O governador Anthony Garotinho resolveu a crise da forma mais fácil: demitiu o colaborador, que atuava como subsecretário de Segurança.

Em novembro de 2017, o enredo ensaia se repetir com Torquato Jardim. Depois de apontar vínculos entre a PM do Rio e o crime organizado, o ministro da Justiça virou alvo de reações histéricas. O presidente da Assembleia Legislativa o chamou de mentiroso. O presidente da Câmara, de infantil e irresponsável. O governador Luiz Fernando Pezão ameaçou processá-lo no Supremo.

Os políticos fluminenses acusam Jardim de ofender a honra do Estado. Eles indicam que só vão recuar se a cabeça do ministro for servida numa bandeja. "Se a população do Rio ainda tem quem a defenda, é a Polícia Militar", discursou o deputado Jorge Picciani, chefão local do PMDB.

Carlos Alberto Sardenberg: Milagres acontecem. Desastres também

- O Globo

O perigo é quando agendas são mentirosas, candidatos mais fortes se desviam das principais questões e vendem soluções fáceis

Muita gente está desanimada com o cenário para as eleições presidenciais de 2018. E — quer saber? — o quadro, visto de hoje, mostra uma polarização perigosa. Esclarecendo: a polarização não é necessariamente perigosa. Não raro as sociedades ficam diante de opções opostas, entre uma agenda liberal e outra de esquerda, por exemplo. O perigo é quando as agendas são mentirosas, quando os candidatos mais fortes se desviam das principais questões e vendem soluções fáceis.

Para quem acha que isso está por acontecer no Brasil, sugiro voltarmos a 1992. Collor caiu, Itamar Franco assumiu em meio a uma crise econômica parecida com o pós-Dilma, recessão com inflação, mas ainda pior porque o país não tinha moeda com um mínimo de credibilidade. Haviam circulado nada menos que cinco moedas desde 1985, ano da redemocratização.

Em poucos meses de governo, Itamar teve três ministros da Fazenda. As expectativas só pioravam diante do então evidente despreparo do presidente para lidar com tamanha crise. No meio disso, Itamar recebe uma mensagem iluminada sabe-se lá de onde e nomeia Fernando Henrique Cardoso ministro da Fazenda. Talvez ninguém tenha sido mais surpreendido do que o próprio FHC, até então um satisfeito ministro das Relações Exteriores.

Zeina Latif*: Não tem salvador da pátria

- O Estado de S.Paulo

A comunicação falha alimenta o déficit de credibilidade do governo

O governo Temer perdeu a batalha da comunicação. Houve vários avanços na agenda econômica e, segundo Carlos Pereira, com custo agregado (ministérios, recursos e emendas parlamentares) menor do que o de presidentes anteriores. Ainda assim, a desconfiança prevalece, com interpretação distorcida de qualquer iniciativa do governo.

No Congresso, a base governista se reduziu, ainda que talvez menos pelo desgaste das denúncias contra o presidente e mais pela dificuldade de Temer de ser cabo eleitoral em 2018. Como ensina Carlos Melo, o poder de um político hoje provém da perspectiva de poder no futuro.

A comunicação falha alimenta o déficit de credibilidade do governo, o que afeta o humor do consumidor. A sociedade não compreende que a queda da inflação e a recuperação em curso da economia não são acontecimentos fortuitos, mas sim frutos dos acertos da política econômica. Não confia, portanto, que haverá mais avanços. Assim, apesar da melhora do mercado de trabalho, antes do esperado, o medo do desemprego se mantém em patamares recordes e a confiança do consumidor não apresenta o mesmo vigor que a dos empresários, que caminha mais rapidamente para o campo otimista. Fosse o governo Lula, o retrato seria bem diferente.

Apesar disso, o governo de transição de Temer poderá entregar o que prometeu: uma ponte para 2019.

Vinicius Torres Freire: Bancões pouco animados com 2018

- Folha de S. Paulo

Itaú e Bradesco não parecem assim animados com a recuperação econômica em 2018, a julgar pelas estimativas de crescimento do crédito desses dois bancões. Não foi o único copo de água fria em quem imaginava um crescimento maior do que o ora previsto para o ano que vem, de 2% e uns trocados.

Os resultados de indústria, comércio e serviços foram fracos no terceiro trimestre, pelo que se sabe até agora. A perspectiva de aumento de salário no ano que vem está sobre o muro, sub judice. Se o investimento federal "em obras" não diminuir em 2018, será um milagre. O investimento privado é um mistério emparedado entre o receio do resultado da eleição e a capacidade ociosa das empresas.

Mais animadores são os números da confiança de indústria, comércio, serviços e empresários. Estão em alta e, na média, voltaram ao mesmo nível de meados de 2014, o que não é lá grande coisa, mas freia receios maiores sobre 2018. Os consumidores, porém, ainda estão com o pé atrás.

BANCOS
O crédito no país pode crescer até 5% no ano que vem, disse o pessoal do Bradesco ao apresentar o balanço do terceiro trimestre (descontando a inflação, dá 1%. Muito pouco). Para quem prefere ver copos meio cheios, seria um avanço, pois, de setembro de 2016 a setembro de 2017, o recuo da carteira de crédito do banco foi de 6,7%. Neste ano, a baixa do crédito no país anda pela casa de 2% (levando em conta a inflação, uns 5%).

Míriam Leitão: Pontos de azul

- O Globo

Pela primeira vez em mais de três anos, o IBGE fez uma divulgação da produção industrial com todos os números no azul. Os indicadores têm sempre várias leituras, dependendo da comparação que é feita. Mas o dado de setembro mostra alta seja qual for a base. O crescimento foi tímido, apenas 0,2% quando o cálculo é feito contra agosto, mas no acumulado em 12 meses é a primeira alta em 39 meses.

O quadro permanece ruim apesar das notícias positivas colhidas aqui e ali. A crise permanece, principalmente nesse setor, apesar de o país estar saindo devagar, e de forma hesitante, da crise que tem vivido desde 2014. A produção industrial ainda está 17% abaixo do pico e só 5,4% acima do pior momento da recessão, em fevereiro de 2016. A indústria é, e continuará sendo, o segmento da economia onde a crise é mais profunda, porque ela foi a primeira a começar a encolher e há razões estruturais que tem levado à queda da sua participação no PIB.

Toda vez em que se tem expectativa de que a indústria vai engrenar, ela decepciona. Este ano, houve vários meses de crescimento em relação ao mês anterior, mas em agosto caiu 0,7%. A expectativa do mercado financeiro era de crescimento de 0,6% em setembro. E cresceu bem menos. Em períodos de recuperação frágil, como o atual, os números ficam sempre mistos. Alguns vão para o azul em um mês, enquanto outros voltam para o vermelho. Tem sido assim com a indústria.

Clóvis Rossi: Agenda liberal de Macri na Argentina pautará eleição no Brasil em 2018?

- Folha de S. Paulo

Tomara que continue valendo o efeito Orloff, aquela pressuposição dos anos 1980 de que o Brasil de amanhã seria a Argentina de hoje. Se continua valendo, então o presidente argentino Mauricio Macri acaba de pôr na roda uma agenda revolucionária que, se copiada no Brasil para a campanha eleitoral de 2018, pode alçá-la a um patamar enriquecedor.

Macri está oferecendo aos argentinos um conjunto de reformas (trabalhista, tributária, previdenciária, entre outras) com nítido fundo liberal. Como no Brasil, aliás, mas com muito mais profundidade e com um amparo popular de que não goza seu colega Michel Temer.

Macri acaba de ganhar uma eleição (parcial) para o Legislativo, o que, em si mesmo, já é uma revolução. Jamais na história argentina um líder liberal ganhou eleições. A política foi feudo da União Cívica Radical (UCR, vinculada à Internacional Socialista) e do multifacetado peronismo, que vai da direita à esquerda, mas não pode ser tido como liberal.

O liberalismo tem má fama no país, em parte por ter se associado frequentemente aos militares para chegar ao poder, no que é a negação de sua essência: é indecente que liberais se vinculem a governos que violem as liberdades.

A carta de Churchill: Murillo de Aragão

- Blog do Noblat

Era noite quando o trem chegou a Vladivostok, cidade portuária da Rússia. Havia nevado, mas a temperatura estava um pouco melhor. Fazia cerca de zero grau. O diplomata japonês Yosuke Matsuoka estava enfastiado da longa viagem que fizera, via Moscou, desde Berlim. Em Moscou, assinara um tratado de neutralidade com a Rússia.

Por meio de um emissário, Matsuoka recebeu uma carta de Winston Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido. Estamos em abril de 1941 e o Japão ainda não havia entrado na Segunda Guerra Mundial. Mas Matsuoka tinha sido fortemente pressionado a aderir ao conflito durante sua visita à Alemanha. Em Berlim, Adolf Hitler pedira a ele que o Japão invadisse Singapura, possessão britânica no Sudoeste Asiático.

Porém, nem Matsuoka nem Hitler sabiam o que Churchill sabia. A inteligência britânica havia decifrado os códigos secretos dos alemães, dos italianos e dos japoneses. Assim, Churchill pôde mapear a visita de Matsuoka e as mensagens trocadas entre ele e Tóquio. Churchill conhecia os movimentos dos inimigos.

Luiz Carlos Azedo: O sincericídio

- Correio Braziliense

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, está com a cabeça a prêmio, mas não caiu, porque pôs o dedo na ferida do problema de segurança pública no Rio de Janeiro, que é muito mais complexo do que as autoridades locais admitem. Criticado por apontar o envolvimento dos comandantes da Polícia Militar com o crime organizado, voltou à carga ao desafiar as autoridades locais a desmenti-lo. Torquato afirmou que toda a linha de comando que precisa ser investigada, o que provocou um princípio de rebelião na corporação, que obteve solidariedade das autoridades locais, principalmente do governador Fernando Pezão (PMDB-RJ), do presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani (PMDB), e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que está em viagem ao exterior.

Disse o ministro: “Nós temos informação: R$ 10 milhões por semana na Rocinha com gato de energia elétrica, TV a cabo, controle da distribuição de gás e o narcotráfico. Em um espaço geográfico pequeno. Você tem um batalhão, uma UPP lá. Como aquilo tudo acontece sem conhecimento das autoridades? Como passa na informalidade? Em algum lugar, voltamos à Tropa de Elite 1 e 2. Em algum lugar alguma coisa está sendo autorizada informalmente”, afirmou o ministro. Torquato se baseou em relatórios de inteligência da Polícia Federal e, provavelmente, das Forças Armadas.“Existe um serviço de inteligência sobre tudo que eu falo. Todo serviço de inteligência é sigiloso. Você não pode dizer quem, quando, como”, destacou.

Emprego, reativação e política – Editorial: O Estado de S. Paulo

Novos sinais de um fim de ano bem melhor que o de 2016 vieram com a criação de 1,06 milhão de empregos no terceiro trimestre, acompanhada de expansão de 1,4% na massa real de rendimentos, ampliada para R$ 188,14 bilhões. O aumento da ocupação, combinado com o reforço do orçamento familiar, já se traduz em maior consumo, demanda maior de bens industriais e, como consequência especialmente bem-vinda, em condições mais favoráveis a novas contratações. O desemprego continuou muito alto, com 12,96 milhões de pessoas, 12,4% da população ativa, ainda em busca de ocupação. Os números são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mesmo com a desocupação ainda elevada, um ciclo virtuoso parece instalado na economia brasileira, como indica a trajetória da produção industrial: o volume de setembro foi 2,6% maior que o de um ano antes e o acumulado no ano superou por 1,6% o total contabilizado nos meses correspondentes do ano anterior.

A mudança de perspectiva é confirmada pelo aumento do Índice de Confiança Empresarial, apurado mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O indicador subiu 2,6 pontos de setembro para outubro e atingiu 90,3 pontos, o nível mais alto desde julho de 2014, quando chegou a 91,3.

Terror volante – Editorial: Folha de S. Paulo

Passados 16 anos, Nova York volta a sofrer o impacto de um atentado com mortos. Decerto qualquer episódio defrontado com o 11 de Setembro de 2001 se torna menor, mas as oito vítimas de um terrorista a bordo de uma caminhonete em Manhattan provam que não há lugar no mundo capaz de se declarar imune a esse mal.

Identificado como Sayfullo Saipov, 29, o autor do ataque valeu-se de um método que infelizmente tem se mostrado bastante eficaz. Impedir alguém de usar um veículo como arma beira o impossível, dada a simplicidade da ação. Não por acaso, os últimos grandes atos de terror se deram dessa maneira.

Deter uma pessoa com tal propósito exige, claro, intenso trabalho dos serviços de inteligência. Relatos iniciais davam conta de que Saipov planejava sua ação infame havia semanas e tinha contato com pessoas monitoradas por agentes de contraterrorismo.

De fato, autores de ataques do gênero em regra deixam algum rastro da premeditação, não raro percebido por investigadores.

Hora de reduzir danos e reforçar parceria na segurança – Editorial: O Globo

É preciso retomar, em bases firmes, os entendimentos entre os responsáveis operacionais pelas polícias e tropas federais, visando ao enfrentamento da violência

O menino Vítor Gabriel Matheus Leite Coelho, de 3 anos, foi alvejado por uma bala perdida, na segunda-feira, quando brincava com os irmãos na sala de sua casa, em São João de Meriti, na Baixada. Ontem, ele lutava pela vida no Hospital Geral de Nova Iguaçu, onde respirava por aparelhos. Segundo os médicos, seu estado era gravíssimo. O drama de Vítor é mais um capítulo numa história de horror que assombra a população fluminense dia após dia. Não se sabe de onde partiu o tiro que atravessou o telhado e atingiu a cabeça da criança. O que se sabe é que situações como essa são cada vez mais frequentes no Rio, que enfrenta uma crise aguda na segurança pública. Na verdade, o problema ultrapassa os limites do estado, já que os números têm mostrado que a violência se disseminou por todo o país, transformando-se numa tragédia nacional.

Torquato Jardim achou estranha visita que recebeu de um deputado federal do Rio

Ancelmo Gois / O Globo

Todo cuidado é pouco
Veja só. Torquato Jardim, o ministro que disse que os comandantes de batalhões da PM “são sócios do crime organizado no Rio”, confidenciou, em julho, para uns diretores da Firjan, que achou esquisita a visita que recebeu de um deputado federal do Rio. Sua excelência estava acompanhada de duas mulheres de traficantes famosos.

No mais
Gente que entende desse roçado acha que o quadro da segurança do Rio traçado pelo ministro Torquato Jardim é exagerado — mas não totalmente errado.

Ricardo Ismael*: Governo escolheu ser a pedra, e não a vidraça

- O Globo

Governador Luiz Fernando Pezão tem tido pouca ou reduzida capacidade de reação às críticas que se ampliaram com a crise

Ainda repercutem as declarações do ministro Torquato Jardim, com críticas e graves denúncias à política de segurança pública do Rio de Janeiro. Não se trata de manifestação impensada. Existiu a intenção de colocar a discussão na agenda, de uma forma que pudesse escolher ser a pedra, e não a vidraça.

Alguns aspectos de natureza político-administrativa podem ser destacados. Tudo indica que temos mais do que uma crise na cooperação federativa entre o governo federal e as autoridades estaduais responsáveis pela área de segurança pública. O ministro da Justiça aponta para uma inflexão nesta relação. Ao que parece, questiona o papel passivo da União, que tem colocado rotineiramente as Forças Armadas à disposição do governo estadual, embora a situação não mostre sinais de melhora, e seja flagrante a inadequação das tropas do Exército nas atividades definidas nessas operações no Rio.

Conselho do Ministério Público vai rever resolução que dá superpoderes a procuradores e promotores

Painel / Folha de S. Paulo

Daqui não passa O Conselho Nacional do Ministério Público vai rever a resolução que concede superpoderes a promotores e procuradores. A norma foi aprovada no final do mandato de Rodrigo Janot à frente do CNMP e é alvo de questionamento no STF. Hoje sob a batuta de Raquel Dodge, o colegiado avalia a melhor forma de encerrar o assunto: se revoga o texto integral ou parcialmente, suprimindo os trechos mais controversos. A nova procuradora-geral já avisou que, como está, não vai ficar.

Eu resolvo Dodge teria enviado sinais ao ministro Ricardo Lewandowski, relator da ação que questiona a resolução no Supremo, de que ele não precisaria sustar a norma, pois ela mesma o faria.

Por partes Já foram apresentadas três propostas para uma nova resolução no CNMP. Se optar por revogar integralmente o texto, o colegiado terá que editar outra norma sobre os procedimentos de investigação criminal. A atual prevê a realização de diligências e a requisição de informações e documentos sem autorização judicial.

Estamos juntos José Robalinho Cavalcanti, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, disse a Eduardo Pelella, ex-chefe de gabinete de Janot, que a entidade irá ao STF para impedir que ele seja obrigado a ir à CPMI da JBS. Pelella foi convocado pelos parlamentares na terça (31).

Pressão colegiada Robalinho fará a manifestação em conjunto com a defesa de Pelella. Eles discutem apresentar um habeas corpus ou um mandado de segurança.

Logo ele? Integrantes da base aliada ficaram sem entender a polêmica criada pelo ministro Torquato Jardim (Justiça). Numa só tacada, ao dizer que o crime influi na PM do Rio, ele criou uma crise com o Estado e ainda quebrou o sigilo de investigação federal sobre o tema. Acham que o jurista pode estar cavando a saída do governo.

Deixe-o Com parlamentares fazendo pressão pela convocação de Torquato à Câmara, coube ao deputado Miro Teixeira (Rede-RJ) fazer uma defesa do ministro.

Digital “Os que forçam a barra para a convocação estão assinando confissão de culpa.” “Quem quer solução não pode desejar antecipações de estratégias e informações”, disse Miro.

Para receber R$ 61 mil, ministra cita escravidão

-Coluna do Estadão
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A ministra Luislinda Valois (Direitos Humanos) apresentou ao governo pedido para acumular o seu salário com o de desembargadora aposentada, o que lhe garantiria R$ 61,4 mil brutos, informa a Coluna do Estadão. Ela reclama que, por causa do teto constitucional, só pode ficar com R$ 33,7 mil e sua situação, “sem sombra de dúvidas, se assemelha ao trabalho escravo”.

A ministra Luislinda Valois, dos Direitos Humanos, apresentou ao governo um pedido para acumular o seu salário com o de desembargadora aposentada, o que lhe garantiria vencimento bruto de R$ 61,4 mil. Em 207 páginas, ela reclama que, por causa do teto constitucional, só pode ficar com R$ 33,7 mil do total das rendas. A ministra diz que essa situação, “sem sombra de dúvidas, se assemelha ao trabalho escravo, o que também é rejeitado, peremptoriamente, pela legislação brasileira desde os idos de 1888 com a Lei da Abolição da Escravatura”.

» Sobra pouco. Luislinda justifica no documento que, por causa da regra do abateteto, pela qual nenhum servidor ganha mais do que um ministro do Supremo, seu salário de ministra cai para R$ 3.292 brutos. O de desembargadora, de R$ 30.471,10, é preservado.

» Ops. Ao citar a Lei Áurea, a ministra Luislinda comete um deslize. Ela diz que a norma “recebeu o número 3533”, quando a lei sancionada pela princesa Isabel em 13 de maio de 1888 é a 3353.

» Com a palavra. Procurada durante todo o dia de ontem para comentar o assunto, a ministra disse, por nota, que “não vai se pronunciar a respeito”. Filiada ao PSDB, ela assumiu a pasta em fevereiro deste ano.

» Argumentos. No documento, Luislinda diz que “ao criar o teto remuneratório, não se pretendeu, obviamente, desmerecer ou apequenar o trabalho daquele que, por direito adquirido, já percebia, legalmente, os proventos como sói acontecer na minha situação”.

Candidato à presidência do PSDB, Perillo quer 'desembarque educado' do governo

Talita Fernandes / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), defendeu nesta quarta-feira (1º) um desembarque "educado e normal" do governo Michel Temer.

Perillo esteve em Brasília onde oficializou ao presidente interino do partido, senador Tasso Jereissarti (CE), que disputará o comando do PSDB em dezembro.

Ele disse que os tucanos já contribuíram com o governo e que é chegada a hora de pensar nas eleições de 2018.

"O PSDB pode tranquilamente apoiar as reformas, as medidas a favor do Brasil sem necessariamente estar no governo. O partido já deu sua contribuição, o PSDB ajudou no impeachment [da presidente Dilma Rousseff]. Não se furtou a colaborar num primeiro momento, mas chegou a hora que tem que se dedicar à questão presidencial, ao programa partidário", disse.

O governador não deu data para que isso ocorra, mas disse que o desembarque será "natural" para que os ministros passem a cuidar de suas candidaturas para 2018. Questionado sobre um prazo, ele defendeu que isso ocorra "o quanto antes".

A sigla ocupa atualmente quatro pastas na Esplanada: Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), Luislinda Valois (Direitos Humanos), Bruno Araújo (Cidades), Aloysio Nunes (Relações Exteriores).
Governo Temer

Ao defender um discurso de "união do PSDB" ao lado de Tasso, Marconi disse que o partido tem chances de vencer a disputa pela presidência em 2018.

Fortalecido, Alckmin vira opção para presidir PSDB

Correntes tucanas convergem para candidatura de governador à Presidência; ele também passou a ser cotado como alternativa para chefiar e pacificar a sigla em 2018

Pedro Venceslau e Julia Lindner / O Estado de S.Paulo

Em meio à guerra fratricida no PSDB pelo comando do partido, as correntes internas convergem na defesa do governador Geraldo Alckmin como candidato à Presidência da República em 2018. O nome do chefe do Executivo paulista também passou a ser cotado como alternativa para chefiar a sigla no próximo ano, o que evitaria um racha na convenção tucana marcada para o dia 9 de dezembro.

Alckmin foi sondado recentemente por deputados sobre a possibilidade de presidir a sigla, mas desconversou. Embora não descarte a ideia, ele quer preservar a boa relação que mantém com os dois nomes que pleiteiam o cargo: o governador de Goiás, Marconi Perillo, e o senador Tasso Jereissati (CE), presidente interino do partido.

Ambos apoiam a pré-candidatura presidencial de Alckmin, bem como a maioria da bancada do PSDB na Câmara. Aliados de Perillo dizem que ele aceitaria abrir mão da disputa caso houvesse uma convergência em torno da tese de eleger o governador paulista para liderar o PSDB. Já Tasso ainda não oficializou sua intenção de tentar a reeleição, o que deve acontecer na semana que vem.

A avaliação no entorno de Alckmin é a mesma de setores antagônicos do PSDB: a presidência nacional do partido é o melhor caminho institucional para um pré-candidato ao Palácio do Planalto viajar o Brasil antes do início de fato da campanha, em meados do ano que vem.

“Aécio foi eleito presidente do PSDB antes de disputar a Presidência, assim como (o ex-governador) Eduardo Campos, que era presidente do PSB. O Geraldo Alckmin teria uma boa condição para promover a convergência no partido”, disse o ex-senador José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela, braço teórico do PSDB.

Contra medidas, servidores vão à Justiça e ameaçam parar

Funcionalismo reage a adiamento de reajuste salarial e elevação da contribuição; auditores fazem operação-padrão

Lorenna Rodrigues / O Estado de S. Paulo.


BRASÍLIA - Sindicatos que representam funcionários públicos federais vão entrar na Justiça contra a medida provisória editada pelo governo que adia o reajuste salarial de 2018 para 2019 e eleva a contribuição previdenciária dos servidores. Em protesto, eles já iniciaram paralisações. Ontem, auditores fiscais, que também estavam insatisfeitos porque ficaram sem um bônus salarial, fizeram operação-padrão nos aeroportos e aduanas. Todas as cargas e bagagens são revistadas como forma de atrasar as liberações. Eles suspenderam ainda trabalhos em escritórios da Receita Federal, o que afeta fiscalizações e, conse- quentemente, a arrecadação de tributos. Para o próximo dia 10 está programada manifestação. O ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, disse que a Advocacia-Geral da União (AGU) está preparada para defender a decisão do governo de congelar o reajuste dos servidores.

Sindicatos que representam funcionários públicos federais vão entrar na Justiça contra a medida provisória editada nesta semana que adia o reajuste salarial e eleva a contribuição previdenciária dos servidores. Em protesto, eles já iniciaram paralisações. Ontem, auditores fiscais, que também estavam insatisfeitos porque ficaram sem bônus salarial, foram os primeiros a cruzarem os braços.

Nos aeroportos e aduanas, os auditores deram início a uma operação padrão em que todas as cargas e bagagens são revistadas como forma de atrasar as liberações. Suspenderam ainda trabalhos em escritórios da Receita Federal, o que afeta fiscalizações e, consequentemente, a arrecadação de tributos.

No dia 10 de novembro, está programada uma manifestação que pretende levar trabalhadores às ruas em várias cidades do País. “O próprio governo espera essa reação diante das atrocidades que foram cometidas”, disse o presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais (Sindifisco), Cláudio Damasceno. “As entidades vão reagir de forma articulada, não só na atuação parlamentar, como na via judicial e com estratégias de paralisações conjuntas.”

Como parte do pacote de ações para cortar despesas e aumentar receitas, o governo enviou na segunda-feira a Medida Provisória 805, que inclui o adiamento do reajuste dos servidores de 2018 para 2019 e o aumento da contribuição previdenciária de 11% para 14% para quem ganha acima de R$ 5 mil.

Carlos Drummond de Andrade: Cartola, no moinho do mundo

Você vai pela rua, distraído ou preocupado, não importa. Vai a determinado lugar para fazer qualquer coisa que está escrita em sua agenda. Nem é preciso que tenha agenda. Você tem um destino qualquer, e a rua é só a passagem entre sua casa e a pessoa que vai procurar. De repente estaca. Estaca e fica ouvindo.

Eu fiz o ninho.
Te ensinei o bom caminho.
Mas quando a mulher não tem brio,
é malhar em ferro frio.

Aí você fica parado, escutando até o fim o som que vem da loja de discos, onde alguém se lembrou de reviver o velho samba de Cartola; Na Floresta (música de Sílvio Caldas).

Esse Cartola! Desta vez, está desiludido e zangado, mas em geral a atitude dele é de franco romantismo, e tudo se resume num título: Sei Sentir. Cartola sabe sentir com a suavidade dos que amam pela vocação de amar, e se renovam amando. Assim, quando ele nos anuncia: “Tenho um novo amor”, é como se desse a senha pela renovação geral da vida, a germinação de outras flores no eterno jardim. O sol nascerá, com a garantia de Cartola. E com o sol, a incessante primavera.

A delicadeza visceral de Angenor de Oliveira (e não Agenor, como dizem os descuidados) é patente quer na composição, quer na execução. Como bem me observou Jota Efegê, seu padrinho de casamento, trata-se de um distinto senhor emoldurado pelo Morro da Mangueira. A imagem do malandro não coincide com a sua. A dura experiência de viver como pedreiro, tipógrafo e lavador de carros, desconhecido e trazendo consigo o dom musical, a centelha, não o afetou, não fez dele um homem ácido e revoltado. A fama chegou até sua porta sem ser procurada. O discreto Cartola recebeu-a com cortesia. Os dois convivem civilizadamente. Ele tem a elegância moral de Pixinguinha, outro a quem a natureza privilegiou com a sensibilidade criativa, e que também soube ser mestre de delicadeza.

Em Tempos Idos, o divino Cartola, como o qualificou Lúcio Rangel, faz o histórico poético da evolução do samba, que se processou, aliás, com a sua participação eficiente: