terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Opinião do dia: Luiz Werneck Vianna*

A política brasileira encontra-se criptografada, indecifrável para os mortais comuns, que a cada dia são aturdidos pelos meios de comunicação com notícias de que o fim do nosso mundo está próximo e não há o que fazer para salvá-lo do pântano da corrupção em que estaria atolado. Nossos profetas do apocalipse são prisioneiros de suas fabulações sobre a História do País, que identificam como um experimento malsucedido a ser “passado a limpo” por sua intervenção redentora. Querem nos fazer crer que atuam em nome de ideais e sem interesse próprio, mas o gato está escondido com o rabo de fora, pois em meio à alaúza que provocam se pode entrever a manipulação da sucessão presidencial de 2018.

Essa sucessão abre uma janela de oportunidade para uma agenda inovadora que procure, em meio a um amplo processo de deliberação pública, identificar novos rumos legitimados pelo voto para o País. No entanto, caso se frustre esse caminho por desastradas ações dos agentes políticos, pode apontar para o derruimento do regime da Carta de 88, concedendo passagem às potências malignas que ora nos espreitam. O cenário que se tem pela frente, é forçoso reconhecer, não favorece previsões de desenlaces felizes para os dilemas com que ora nos confrontamos.

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* Sociólogo, PUC-Rio, ‘A sucessão e o novo espírito do tempo’, O Estado de S. Paulo, 3/12/2017.

Merval Pereira: O papel das Forças Armadas

- O Globo

O papel do presidente da República como Comandante Supremo das Forças Armadas não está bem definido na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que implanta o semipresidencialismo no país, o que poderá gerar conflitos entre o presidente, o ministro da Defesa e o primeiro-ministro. É o que avalia o cientista político Octávio Amorim Neto, professor associado da Ebape/FGV-Rio, que estuda esse sistema de governo há 20 anos, especialmente o utilizado em Portugal, onde atualmente é investigador visitante do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

A meu pedido, ele fez uma análise da PEC, que circula em Brasília no meio político, gerada em discussões entre o presidente Michel Temer e o ministro do Supremo Gilmar Mendes, que acumula a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Embora a mudança de sistema de governo não possa vigorar já na eleição de 2018, o Supremo Tribunal Federal tem na pauta próxima uma definição sobre se é possível fazer uma alteração do nosso sistema presidencialista apenas por emenda constitucional, depois que ele foi aprovado duas vezes por plebiscitos.

Eliane Cantanhêde: Quem é mais anti-Lula

- O Estado de S.Paulo

Alckmin patina e as forças de centro estão se guardando para quando o carnaval chegar

Ao mesmo tempo em que viabiliza sua candidatura à Presidência da República, Geraldo Alckmin patina nas pesquisas e atrai pressões e ataques especulativos de dentro e de fora do PSDB e até mesmo de adversários. Isso significa fraqueza, mas também pode significar força.

Se Alckmin não empolga, está em quarto lugar e não consegue criar a expectativa de vitória, por que ele incomoda tanto, preocupa tanto, mobiliza tanto os adversários? Porque, em uma política polarizada como continua sendo a brasileira, um candidato do PSDB, qualquer que seja, ainda é um fator relevante na eleição. Especialmente se o PT é quem lidera.

Ao dizer que os antilulistas estão migrando para Jair Bolsonaro, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, não faz uma mera constatação e sim exercita uma estratégia: insuflar Bolsonaro e minimizar Alckmin. Apesar dos pesares, para Lula é melhor Bolsonaro do que Alckmin no segundo turno.

Bolsonaro se consolidou e não faltam relatos de como é recebido em festa pelo País afora e estimula anônimos a lançarem camisetas para ele no Aeroporto de Brasília, outdoors em Criciúma (SC) e adesivos de carro em Natal, para ficar em poucos exemplos. Mas Bolsonaro não tem a estrutura partidária, as alianças, o tempo de TV, os recursos e a experiência de Alckmin. E, ao contrário de quem é governador de São Paulo, também não tem muito o que mostrar em uma campanha.

Logo, o tucano Alckmin é “mais perigoso” para um candidato petista do que um deputado que vive há 25 anos da política, mas se diz antipolítico. Por isso, os petistas vão martelar o oposto: que Bolsonaro é o anti-Lula e Alckmin não está com nada. Para bom entendedor, basta: eles temem Alckmin.

A vida do tucano, porém, não está nada fácil e a cobrança sistemática é de que Alckmin tem prazo: ou encorpa nas pesquisas até fevereiro, ou vai enfrentar competição interna. Ali ao lado, na espreita, estarão João Doria e Luciano Huck. Eles estão praticamente fora do páreo, mas “praticamente” não quer dizer “totalmente”.

Míriam Leitão: Volatilidade política

- O Globo

A dez meses das eleições, há tempo para muita mudança no quadro eleitoral porque os processos eleitorais brasileiros são voláteis. Ciro Gomes, Garotinho, Roseana, nas disputas presidenciais, Celso Russomanno e Francisco Rossi, em São Paulo, conheceram esses movimentos que os levaram a ter altos índices de preferência em ondas que quebraram antes. Lula e Bolsonaro são eventos de natureza diferente.

Lula conhece a volatilidade da intenção de votos, nas duas eleições que perdeu para Fernando Henrique. Agora, o que o mantém na liderança é o recall e a campanha que tem feito com sua experiência e a estratégia de fugir da Justiça. Quando ele deixou o governo, o país estava crescendo 7,5% e a inflação era baixa. A recessão foi provocada pelo governo Dilma, mas Lula pode dizer que nos seus oito anos as famílias estavam usufruindo do aumento da renda e do consumo. Principalmente no Nordeste, endereço de 27% do eleitorado brasileiro. Ao mesmo tempo, Lula segue a estratégia de se fortalecer nas intenções de voto para acuar a Justiça. O Judiciário terá coragem de vetar o candidato que estiver na preferência do eleitorado?

Hélio Schwartsman: Lula ameaça a economia?

- Folha de S. Paulo

A pedidos, tento responder à pergunta que eu próprio lancei na coluna de sábado (2), na qual questionei se investidores têm reais motivos para temer uma piora da economia, caso Lula seja eleito presidente. Eu receio que tenham, mas, como veremos, os motivos são mais sutis do que sugere a polarização nossa de cada dia.

O primeiro fato a destacar é que, em 2002, também sob a desconfiança do mercado, Lula sagrou-se presidente e fez, especialmente no primeiro mandato, uma administração responsável da economia. Sua gestão não apenas produziu superavits primários como ainda patrocinou uma importante reforma da Previdência.

Foi só no final de seu segundo mandato, com o propósito de fazer o sucessor e impulsionado pela exuberante bonança das commodities, que Lula começou a flertar com o populismo. Nada de irrecuperável, porém. Foi preciso Dilma para que a responsabilidade fiscal realmente desandasse.

José Casado: Choque de desconfiança

- O Globo

Lula lidera nas mesmas pesquisas em que há 12 meses é campeão de rejeição. Eleitores duvidam da honestidade e da capacidade dos candidatos à Presidência

Vai ser a eleição da desconfiança, sugerem as pesquisas. Os eleitores não escondem suas dúvidas sobre a honestidade, a sinceridade e a capacidade de liderança dos atuais candidatos à Presidência. Essa resiliência se reflete nas taxas de rejeição, persistentemente elevadas.

O caso de Lula é exemplar. Aos 72 anos, é o político mais popular — nove entre dez eleitores o reconhecem, segundo o Datafolha, e, entre esses, 67% afirmam conhecê-lo “muito bem”. Natural para quem atravessou metade da vida em cima de um palanque.

O primeiro comício de Lula candidato aconteceu 35 anos atrás, na Curitiba de 1982. Eleito presidente, duas décadas depois, manteve três discursos diários, por rádio e TV, durante oito anos. Elegeu Dilma Rousseff falando por ela na campanha de 2010, às vezes imitando-a, como fez em Salgueiro (PE) para uma plateia de sertanejos. Escanteado por Dilma, em 2014, persevera como o eterno candidato preferencial do PT.

Raymundo Costa: Governo tenta salvar Previdência à força

- Valor Econômico

Fundo partidário pode ser usado para retaliar dissidência

A mesma eleição que ameaçava a reforma da Previdência pode funcionar como argumento decisivo para aprová-la, se tiver êxito uma ousada manobra em curso no Palácio do Planalto e no Congresso. A articulação avançou no fim de semana, a partir do entendimento de sete dos principais partidos aliados do presidente Michel Temer segundo o qual o sucesso da reforma da Previdência significa o sucesso da economia e o sucesso na economia a vitória nas eleições presidenciais de 2018.

Os dirigentes dos sete partidos - PMDB, PP, DEM, PR, PRB, PTB e PSD - firmaram um pacto para aprovar a reforma da Previdência, talvez ainda este ano, e pressionar o governador de São Paulo e presidenciável do PSDB Geraldo Alckmin a somar forças na votação da proposta. Se conseguirem ficar juntos, os comandantes dos sete partidos acreditam que podem ter voz e força na sucessão do presidente. Somado, o "grupo dos sete" representa cerca de metade do tempo de televisão que os candidatos a presidente terão na eleição.

Na avaliação dos dirigentes de partidos, a não aprovação da proposta previdenciária seria o verdadeiro risco eleitoral, pois significaria jogar fora o que até agora foi alcançado na economia, a dispersão desses partidos e a cristalização do atual panorama sucessório, com o ex-presidente Lula da Silva e o capitão Jair Bolsonaro na liderança, segundo informam as pesquisas eleitorais, o que não interessa a nenhum deles.

Joel Pinheiro Da Fonseca: Direitos humanos para humanos de esquerda

- Folha de S. Paulo

Os direitos humanos são vistos como coisa de esquerda no Brasil. É uma pena. Suspeito que isso se deva mais a animosidade para com a "turma dos direitos humanos" do que ao tema em si. Ela é vista como pronta para defender os direitos humanos de criminosos (o que é correto -a lei é para todos, sem exceção) enquanto silencia sobre a violência e o crime organizado que assolam tantos inocentes.

Nem toda turma é igual. O Human Rights Watch (HRW), uma das principais ONGs internacionais de defesa dos direitos humanos,publicou semana passada um relatório ("Crackdown on Dissent: Brutality, Torture, and Political Persecution in Venezuela") sobre o maior violador de direitos humanos da América do Sul: o regime de Nicolás Maduro.

Os casos relatados pela HRW dão uma ideia da violência do regime. Um exemplo: Ernesto Martin (pseudônimo) foi apreendido em sua casa por oficiais não-fardados, levado até Caracas, vendado e acusado de ser um terrorista, sem julgamento. Foi despido, pendurado por uma corrente no teto, recebeu jatos d'água e choques elétricos para confessar que recebia dólares da oposição. Depois de semanas preso e submetido a torturas, assinou um termo em que afirmava ter sido detido por apenas um dia e, com a obrigação de se apresentar às autoridades a cada 15 dias, foi liberado. Finalmente, conseguiu fugir do país.

Fábio Medina Osório: Uma nova Idade Média?

- Folha de S. Paulo

Em 1993, Alain Minc escreveu "A Nova Idade Média", em que caracterizava os novos tempos ou o fim dos tempos modernos. Ele mirava a queda do Muro de Berlim e cenários internacionais subsequentes para a perspectiva de uma nova ordem mundial, identificando muitas semelhanças de nosso contexto com a Idade Média.

Uma característica central seria a predominância das zonas cinzentas no universo normativo e nas sociedades, como um retorno à "lei da selva" nos mercados, na expansão de regulações paralelas ou na desobediência aos sistemas normativos por parte de muitos atores.

Algumas características de tal panorama: a insegurança jurídica, a incerteza absoluta, o caos, a extrema dificuldade de se diferenciar o permitido do proibido e a violência (real ou simbólica, do mercado ou das autoridades) nas disputas.

Como consequência, o autor identifica —e se espelha no modelo italiano— a emergência de uma inevitável aliança entre juízes, opinião pública e mídia, perante os quais os outros Poderes necessitariam prestar contas.

Luiz Carlos Azedo: A anistia das urnas

- Correio Braziliense

Apesar da Lava-Jato, a candidatura de Lula tornou-se quase irreversível nos tribunais, pois sua inelegibilidade poderia parecer uma tentativa de tirá-lo da disputa de 2018 no tapetão

Quem quiser ver o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fora do poder a partir de 2018 que trate de pisar no barro e deixar de lado os tapetes felpudos, porque a senha de que dificilmente o petista estará impedido de disputar as eleições por causa da Operação Lava-Jato foi dada ontem pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, que ainda é o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Esse cenário cada dia que passa fica mais improvável, ainda mais com Lula na frente dos adversários em todas as pesquisas.

Ontem, Gilmar Mendes voltou à carga contra decisões judiciais que determinam a prisão preventiva — aquela aplicada antes de qualquer condenação judicial —, sobretudo nos processos da Operação Lava-Jato, e relativizou a jurisprudência sobre a prisão após condenação em segunda instância, ameaça que paira sobre a candidatura de Lula à Presidência nas próximas eleições. O ministro fez palestra num seminário sobre ativismo judicial na sede do Superior Tribunal de Justiça (STJ), do qual participaram magistrados, procuradores, advogados e estudiosos do direito.

Mendes voltou a criticar os juízes federais de primeira instância e os procuradores da República, numa referência indireta à força tarefa da Lava-Jato em Curitiba: “A prisão em segundo grau, em muitos casos, especialmente no contexto da Lava-Jato, se tornou algo até dispensável. Porque passou a ocorrer a prisão provisória de forma eterna, talvez até com o objetivo de obter a delação. Sentença de primeiro grau, o sujeito continuava preso, confirmava-se a provisória, e com certeza no segundo grau ele começa a execução”, disparou.

José Márcio Camargo*: Em casa que não tem pão...

- O Estado de S.Paulo

Quase 40% da arrecadação tributária do Brasil financia 8,5% da população. Sobra pouco para o resto

“Em casa que não tem pão, todo mundo grita e ninguém tem razão.” Essa é a situação do Brasil neste momento. Com um déficit público de 8,0% do PIB e uma dívida crescente, que caminha para 75% do PIB, a falta de recursos é generalizada. Cientistas reclamam de que não têm recursos para manter seus laboratórios, professores das universidades reclamam de que não têm recursos para manter as universidades, médicos dos hospitais públicos reclamam da falta de remédios e material cirúrgico, a população reclama das filas para ser atendida pelo SUS, sanitaristas reclamam da falta de investimentos em saneamento básico, etc.

Não é necessário afirmar que todas são demandas meritórias. O País precisa de mais investimento em ciência e tecnologia, mais recursos para a manutenção das universidades públicas, mais investimento em saneamento básico, mais recursos para a manutenção de hospitais públicos e para o atendimento do SUS. O problema é que não tem dinheiro. O dinheiro acabou.

Meirelles aprofunda impasse entre PMDB e PSDB para 2018

Tucanos reagiram à fala que exclui Alckmin da lista de candidatos aliados

Maria Lima / O Globo

-BRASÍLIA- Ao afirmar que o governo de Michel Temer terá um candidato próprio à Presidência em 2018 e que ele não será o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, aprofundou a crise do Planalto e do PMDB com o PSDB. Os tucanos subiram o tom das respostas a Meirelles, acusando-o de ter assumido uma posição que pode ser danosa nas relações entre os dois partidos por “ansiedade”. E disseram que sua candidatura “começa muito mal”.

Líderes do PSDB saíram em defesa de Alckmin e disseram ter dúvidas de que o ministro da Fazenda, que fez as declarações em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, tenha condições de sustentar uma candidatura a presidente ou que possa influir nas alianças de 2018, porque não tem controle sobre o PSD, seu partido. Por outro lado, parlamentares da base e da oposição avaliam que as declarações podem ser um tiro no pé e desandar as articulações da reforma da Previdência.

— Nessa altura, quando a reforma ainda está sendo discutida e o governo aposta tudo em votá-la, tem que puxar pra dentro, não empurrar pra fora. É loucura você afugentar apoios dessa forma. Menosprezar quem está ajudando o governo é muito feio. Meirelles começou mal, não se faz campanha assim — disse o líder do PSDB, Ricardo Tripoli (SP).

O PSDB está em vias de desembarcar do governo, na convenção do próximo sábado, e o texto do governo para a reforma da Previdência ainda divide os tucanos, que devem decidir amanhã se fecham questão sobre o tema.

O presidente do Instituto Teotônio Vilela (ITV), José Aníbal, disse que a “ansiedade” levou Meirelles a falar o que “não devia”.

Presidência, um desejo distante

Maia diz sonhar com Planalto, mas calcula votos para a Câmara

Chico Prado / O Globo

SÃO PAULO -Um sonho: chegar à Presidência da República. Mesmo com uma autocrítica de que são poucas as chances a curto prazo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), admitiu interesse em que este dia chegue. Após ter o nome mencionado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, como possível candidato a vice-presidente, apoiado pelo presidente Michel Temer, Maia evitou alimentar expectativas, apesar de admitir que “sonha” com a ideia.

O deputado, no entanto, avaliou que hoje não se elegeria nem mesmo governador do Rio de Janeiro, seu estado. A declaração foi dada ao receber o prêmio de “Personalidade Política do Ano”, oferecido pela Central Brasileira do Setor de Serviços (Cebrasse), ontem, em São Paulo.

— É claro que eu sonho (com a Presidência), mas eu acho que não é o momento. Acho que o momento de discutir uma candidatura presidencial minha é quando eu tiver base eleitoral pra isso. Eu não tenho base eleitoral no meu estado. Tenho boas condições de me reeleger deputado, mas não tenho votos pra me eleger governador e, muito menos, presidente do Brasil — disse ele.

Meirelles ataca PSDB de olho em 2018

Críticas do titular da Fazenda aos tucanos têm respaldo de Temer; Planalto cobra apoio à PEC da Previdência e defesa do legado do presidente
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Adriana Fernandes Vera Rosa / O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA -As críticas feitas pelo ministro Henrique Meirelles (Fazenda) ao PSDB e ao governador Geraldo Alckmin tiveram aval do presidente Temer. A ideia do Planalto para as eleições presidenciais é reunir os principais partidos da coalizão governista numa chapa de centro-direita. Meirelles (PSD) quer se fortalecer como postulante a essa vaga e deixar ao PSDB o ônus por eventual fracasso na votação da reforma da Previdência.

As críticas do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao PSDB e até ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tiveram o aval do presidente Michel Temer. O movimento de Meirelles tem como objetivo não apenas se fortalecer como possível candidato à Presidência, em 2018, mas também jogar no colo do PSDB a responsabilidade por eventual fracasso na votação da reforma da Previdência.

Conforme revelou o Estado no fim do mês passado, Temer começou a desenhar uma estratégia para a eleição. A ideia é reunir os principais partidos da coalizão governista em uma chapa de centro-direita para disputar a corrida ao Palácio do Planalto. Filiado ao PSD, Meirelles quer ser esse concorrente e já tenta repaginar sua imagem, para torná-la mais popular.

O outro nome que, na avaliação de aliados, pode quebrar a polarização das possíveis candidaturas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do deputado Jair Bolsonaro (PSC) é justamente o de Alckmin. O problema é que o governador – prestes a ser eleito presidente do PSDB, em convenção marcada para sábado – já defendeu o desembarque do partido da equipe de Temer e, no diagnóstico do Planalto, dá sinais dúbios sobre a defesa da gestão do PMDB.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Meirelles disse que o governo Temer terá um candidato à Presidência, em 2018. Afirmou, porém, que esse postulante não será Alckmin. “O PSDB está tendendo na direção de não apoiar o governo e isso terá consequências no processo eleitoral”, afirmou o ministro. “Não há um comprometimento do PSDB em defesa dessa série de políticas e do legado de crescimento com compromisso de continuidade.”

O ataque de Meirelles ao PSDB encontra respaldo da cúpula do PMDB, que cobra a defesa do “legado” de Temer e o apoio à reforma da Previdência, em troca de alianças para a eleição. Mesmo se não conseguir renovar a dobradinha com o PSDB, o Planalto tentará manter sob sua órbita o maior número possível de partidos aliados. A chapa dos sonhos de Temer reuniria o DEM e siglas que compõem o Centrão, como o PSD, o PP, o PR e o PTB.

Ministro ‘falou mais do que devia’, afirma Alberto Goldman

Presidente interino do PSDB rebate declarações de Meirelles; para líder na Câmara, foi uma ‘deslealdade com a sigla
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Pedro Venceslau / O Estado de S. Paulo

Os tucanos reagiram ontem à entrevista do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao jornal Folha de S.Paulo, na qual ele criticou o PSDB e disse que a saída do partido do governo “terá consequências eleitorais” em 2018. Segundo Meirelles, os tucanos não estão comprometidos com a atual política econômica, que será o “legado” de Temer.

Presidente interino do PSDB, o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman foi um dos que criticaram a entrevista. “Ele falou mais do que devia”, afirmou o dirigente. Segundo Goldman, Meirelles tem “plena consciência” de que o PSDB é a favor da reforma da Previdência, mas ressaltou que o governo ainda não chegou à versão final do texto que vai para votação no plenário.

“Meirelles não está lendo jornal”, disse Goldman sobre o posicionamento público de líderes tucanos em defesa das reformas. Sobre as “consequências eleitorais” da saída do PSDB do governo levantadas pelo ministro da Fazenda, o presidente interino do partido disse que isso é um problema “para depois”. “Temos tempo até julho do ano que vem. Não tem de discutir aliança agora”, afirmou.

Ofensiva de Meirelles é recado ao PSDB

Ribamar Oliveira e Andrea Jubé | Valor Econômico

BRASÍLIA - A entrevista do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, à "Folha de S. Paulo", publicada ontem, foi um claro recado ao PSDB, de acordo com interlocutores do ministro ouvidos pelo Valor. Meirelles quis lembrar aos tucanos, segundo as mesmas fontes, que não adianta sinalizar desembarque do governo e, ao mesmo tempo, esperar apoio da base aliada na eleição presidencial do próximo ano.
"É uma definição de posição, no sentido de que é importante o engajamento de todos nesse processo de ajuste da economia do país. O PSDB toma decisão (de deixar o governo) que tem consequência eleitoral para a composição de alianças no ano que vem", disse um dos interlocutores.

O ministro considera um equívoco dos tucanos, segundo as fontes, achar que os partidos e os eleitores que não estiverem com a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou com a candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), os dois extremos do universo eleitoral, apoiarão o PSDB. "Eles acham que eles [os partidos e os eleitores] cairão, por gravidade, no colo do PSDB e, neste caso, do governador Geraldo Alckmin", observou uma fonte.

Na entrevista à "Folha", Meirelles contrariou essa avaliação atribuída aos tucanos, ao afirmar que o governo terá o seu candidato próprio à eleição presidencial. "Um candidato que se comprometa com as medidas de ajuste da economia, que defenda o que foi realizado e a estratégia seguida pelo governo", disse outra fonte.

Mercado avalia com ceticismo chances eleitorais de ministro

Lucinda Pinto e José de Castro | Valor Econômico

SÃO PAULO - Uma solução à la 1994 - quando o então ministro da Fazenda fez da estabilização da economia a plataforma política que o levou à Presidência da República - é um sonho do mercado financeiro para o resultado da eleição de 2018. Mas nem o mais otimista dos agentes vê hoje chances concretas desse feito se repetir.

Se Fernando Henrique Cardoso estabilizou a economia e debelou a hiperinflação, Meirelles tem como legado a retomada do crescimento econômico, após a mais longa e intensa recessão da história, num ambiente de inflação e juros baixos. Mas os efeitos dessas conquistas não devem ser completamente percebidos pela população a tempo de conferir-lhes os votos necessários. Além disso, sem uma história política consistente, o ministro não encontra nas pesquisas respaldo para a pretendida candidatura. "Meirelles seria um nome excelente, mas sair dos 2% para 6% nas pesquisas até março seria uma tarefa hercúleo", define o gestor de um fundo de São Paulo, referindo-se ao prazo que os eventuais candidatos têm para se desincompatibilizar com seus cargos no governo e disputar a eleição.

Meirelles é um velho conhecido do mercado e, por isso, seu nome agrada. Como presidente do Banco Central no governo Lula (entre 2003 e 2010), Meirelles conduziu uma política monetária crível e independente, que manteve a inflação sob controle, além de avançar na agenda da regulação bancária. Já na Fazenda, é um dos grandes defensores e negociadores de uma agenda que passa pelas reformas da Previdência e Trabalhista, medidas microeconômicas, controle de gastos, redução dos incentivos fiscais e privatização. Combinação que soa como música aos ouvidos do mercado.

Meirelles está começando campanha muito mal, afirma líder do PSDB

Daniel Carvalho / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O PSDB reagiu às declarações do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de que o candidato do governo à Presidência da República não será o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e de que os tucanos seguem a direção de não apoiar a gestão Michel Temer.

"É um desrespeito dele com a bancada federal, que ajudou tanto o governo até agora. Demos mais votos na reforma trabalhista que o partido dele [PSD] e que o partido do presidente Michel Temer, o PMDB. Acho uma ingratidão. O PSDB tem ajudado muito nas medidas importantes e nas reformas", disse o líder tucano na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), nesta segunda-feira (4).

Em entrevista à Folha, Meirelles disse que "o PSDB está tendendo na direção de não apoiar o governo e isso terá consequências no processo eleitoral" e que não há "um comprometimento do PSDB em defesa dessa série de políticas e do legado de crescimento com compromisso de continuidade".

Por isso, justifica Meirelles na entrevista, Alckmin não pode ser o candidato do governo.

"Isso é porque ele é candidato e ele quer agora, obviamente, começar a campanha eleitoral. Começou muito mal. Não é por aí que ele vai conseguir convencer a população brasileira que o PSDB não tem ajudado o governo. Quero ver na hora de pegar os votos lá e conferir", reagiu Tripoli em entrevista à Folha.

Meirelles ainda não se lançou candidato, mas admite essa possibilidade.

Segundo pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana, o ministro da Fazenda oscila entre 1% e 2% de intenções.

Declaração de Meirelles veio em momento inadequado, diz Maia

Lucas Vettorazzo / Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou nesta segunda-feira (4) o tom da entrevistado ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, à Folha. Maia afirmou que há no país um debate que pretende juntar questões eleitorais com a aprovação da reforma da Previdência.

Na entrevista, Meirelles disse que o governo terá candidato no ano que vem e ele não será o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Sobre o apoio ou não dos tucanos na votação da Previdência, Meirelles afirmou que não teria a "pretensão de entender o PSDB".

Nesta segunda, o presidente da Câmara disse que Meirelles faz trabalho exemplar à frente do ministério, mas que não deveria entrar na discussão eleitoral e política.

"A entrevista foi num momento inadequado. Para alguém que não é ator político natural, [a forma com que ele se posicionou] atrapalha", disse. Segundo Maia, a "responsabilidade fiscal precisa estar separada da ideologia". "Sem reforma [da Previdência], qualquer candidato que prometer algo na eleição estará mentindo".

Mais cedo, em agenda em São Paulo, Maia disse que seria um "sonho" disputar a Presidência do país, conforme citado na entrevista por Meirelles e por interlocutores do presidente Michel Temer, que afirmam que o presidente tem simpatia por uma chapa Meirelles-Maia como opção governista no ano que vem.

Maia afirmou que, apesar de querer disputar um cargo no Executivo no futuro, agora não seria o momento ideal. Ele reconheceu ter baixa votação no Estado e disse que tentará uma nova vaga na Câmara em 2018.

Prisão após 2ª instância opõe Gilmar e PGR

Ministro do STF vê prisão provisória ‘eterna’ na Lava Jato, enquanto PGR defende cumprimento de pena após recurso

Beatriz Bulla, Breno Pires / O Estado de S. Paulo.

BRASÍLIA - O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e a procurador-geral da República, Raquel Dodge, apresentaram ontem, em eventos diferentes, entendimentos antagônicos sobre a execução da prisão após decisão em segunda instância. Gilmar afirmou que o cumprimento da pena, com a Lava Jato, tornou-se “algo dispensável”, uma vez que a prisão provisória passou a ser “eterna”. Raquel, por sua vez, defendeu a prisão após julgamento do recurso nos tribunais de segundo grau como um dos instrumentos jurídicos de combate à corrupção, sem os quais o Brasil viverá um “duro golpe”.

“Se a corrupção continuar em níveis tão elevados e perdermos os instrumentos jurídicos que realmente nos permitem enfrentá-la, como a execução da pena em segunda instância, a titularidade (do Ministério Público Federal) para celebrar acordo de colaboração premiada, a força do acordo de leniência, o Brasil sofrerá o duro golpe de perder o futuro promissor e ter de viver em um presente marcado pela desonestidade e pela desconfiança”, afirmou Raquel, em sua mais longa manifestação pública sobre o tema, durante um evento em comemoração ao Dia Internacional de Combate à Corrupção.

A previsão de execução da pena após uma decisão de segunda instância – antes do esgotamento de todos os recursos nos tribunais superiores – foi admitida pela maioria do Supremo em outubro do ano passado. Recentemente, no entanto, parte da Corte tem sugerido a possibilidade de reversão desse entendimento, com um novo julgamento.

Em outro evento ontem em Brasília, sobre independência e ativismo judicial, Gilmar afirmou que, sem a revisão do entendimento sobre a prisão em segunda instância, o papel do Supremo e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) fica reduzido na garantia dos direitos do cidadão brasileiro. “Se tem quase uma demissão nossa”, disse o ministro.

É indevido a PF fechar acordos de delação: Editorial/O Globo

Subordinadas ao Executivo, polícias não podem ser responsáveis por acertos sobre colaboração premiada, pelo risco de influência política

As corporações se movem pela lógica do interesse próprio, sem qualquer outra preocupação. Exemplo atual são as pressões de castas da burocracia estatal para que a reforma da Previdência não reduza privilégios que as tornaram segmentos incluídos nas faixas de renda mais elevada da população. Costuma haver, também, entre corporações que atuam no Estado, choques na defesa de espaços de poder.

Mas, embora pareça à primeira vista, não é o que acontece na disputa entre o Ministério Público e a Polícia Federal sobre a atuação nos acordos de colaboração premiada, instrumento-chave no combate em curso aos esquemas de corrupção montados por políticos e empreiteiros para desviar dinheiro público por meio de contratos superfaturados assinados principalmente com estatais. É este o caso do petrolão de PT, PMDB, PP e aliados, um escândalo de centenas de milhões de dólares, de repercussão mundial.

A utilidade das pesquisas: Editorial/O Estado de S. Paulo

Os mais importantes dados da mais recente pesquisa do Datafolha sobre a corrida presidencial são os que indicam que 46% dos entrevistados ainda não escolheram um candidato e que 19% não pretendem votar em nenhum dos possíveis postulantes. Isso significa que a maioria absoluta dos eleitores, quando convidados a responder espontaneamente – isto é, sem que lhes sejam apresentados nomes –, ou não se decidiu sobre seu voto ou diz que já decidiu anular ou votar em branco. Portanto, qualquer conclusão a respeito das chances deste ou daquele nome, nesta altura do campeonato, quando nem se sabe quais serão os candidatos a presidente, é precário exercício de futurologia.

A dez meses da eleição, não é possível dizer nem mesmo se Lula da Silva, que aparece em primeiro lugar na pesquisa estimulada – quando o eleitor escolhe um nome numa lista –, poderá concorrer. O chefão petista, já condenado em primeira instância por crime de corrupção, pode vir a ter em breve a sentença confirmada em segunda instância, o que o tornaria inelegível, como estabelece a Lei da Ficha Limpa. É claro que, caso seja condenado mesmo, Lula recorrerá aos tribunais superiores e espera que o previsível melê jurídico lhe permita não apenas escapar da prisão, mas também manter a candidatura – alimentada pela farsa da “perseguição política”.

Improvável candidato: Editorial/Folha de S. Paulo

Dadas a esmagadora impopularidade do governo e a escassez de apelo eleitoral de seu ministro da Fazenda, a hipotética candidatura de Henrique Meirelles (PSD) ao Planalto só é levada a sério em razão das dimensões do personagem.

Trata-se, possivelmente, do tecnocrata mais bem-sucedido das últimas três décadas de regime democrático, com ampla aceitação no setor empresarial e experiência no trânsito político.

Ex-presidente mundial do BankBoston, obteve em 2002 um mandato de deputado pelo PSDB goiano, do qual abriu mão para comandar o Banco Central, de modo ortodoxo, ao longo dos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Desde 2016, personifica o arrojado e doloroso programa de ajuste orçamentário e superação de quase três anos de recessão profunda.

PIB do 3º trimestre mostra economia em rota de ascensão: Editorial/Valor Econômico

O Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre deu um sopro de otimismo, apesar da apreensão com o futuro da reforma da Previdência, com o ajuste das contas de 2018 e com a provável turbulência com as eleições. O otimismo veio não propriamente no resultado pontual do PIB, mas da composição desse número, que trouxe o primeiro aumento dos investimentos após 15 trimestres consecutivos de baixa, e a expansão da indústria e dos serviços, mostrando a extensão da retomada, liderada pelo consumo das famílias.

O PIB registrou crescimento de 0,1% no terceiro trimestre sobre o segundo, menor do que o de 0,3% esperado em média por economistas e analistas. Pelo lado da oferta, foi afetado pelo recuo de 3% da agropecuária, contrabalançado pelo crescimento de 0,8% da indústria e de 0,6% dos serviços. Mas foi o terceiro trimestre seguido de alta, acumulando expansão de 0,6% no ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo que o trimestre atual fique empatado, apesar do impulso cíclico provocado pelas vendas de Natal e pagamento do 13º salário, o PIB tem boas chances de fechar o ano em 1%, acima do 0,6% antes projetado. Os números já provocaram o aumento da projeção para o resultado do ano, colhida pelo Banco Central em sua pesquisa semanal Focus, que subiu de 0,73% para 0,89%. A estimativa para 2018 também foi contagiada e passou de 2,5% para 2,6%, superando os 3% em algumas planilhas.

Vinicius de Moraes: Soneto de aniversário

Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

Faça-se a carne mais envelhecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.