segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Bolsonaro nega que acordo inclua presidente do PSL como vice da chapa

Cristian Klein | Valor Econômico

RIO - O acerto do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) para se filiar ao Partido Social Liberal (PSL), anunciado na sexta-feira, representa uma guinada na pré-candidatura à Presidência da República que passou a sugerir a instabilidade de decisões de uma equipe de campanha ainda em formação, com disputa de poder entre os principais assessores e lances dignos de leilão, embora o parlamentar negue.

Ao Valor, em entrevista concedida ontem, Bolsonaro afirmou que sua filiação interessa ao presidente do PSL, o empresário e deputado federal Luciano Bivar, pois o partido precisa superar a cláusula de barreira que entrará em vigor na próxima eleição - e sua candidatura à Presidência puxará votos para os candidatos da sigla à Câmara dos Deputados. Bolsonaro negou que Bivar tenha pedido o cargo de vice da chapa em troca de lhe oferecer a legenda. "Negativo, isso está em aberto, pode ser qualquer um, até mesmo você".

Quanto aos seus próprios interesses, Bolsonaro disse que o acordo lhe dá mais garantias de concorrer ao Planalto. Afirmou que desistiu de ir para o PEN/Patriota porque o presidente do partido, Adilson Barroso, poderia rifar sua candidatura a qualquer momento, ao deter o controle de uma instância partidária incomum. "O PEN tem uma particularidade, que é o conselho, que manda mais que todo mundo. Não adiantava ter cargos na executiva nacional. Eu ficaria sob risco. É como se eu estivesse no quartel e me dessem o comando do batalhão, mas acima de mim tem um general", comparou.

Mas no PSL também haverá um general e dono de partido. "Tudo bem, o vice-presidente vai ser nosso. E confio na palavra dele [Bivar]. Não vou desconfiar dele", disse. Sendo assim, por que não poderia ter confiado no presidente do PEN; o que deu de tão errado para procurar se filiar a outro partido? Bolsonaro prefere evitar o assunto e afirma que o PEN é "página virada".

Mas o fato é que por meio de aliados e prepostos indicados ao PEN, Bolsonaro já se esparramava e colonizava mais de duas dezenas de diretórios estaduais com gente sua. No PSL, o deputado conta que o controle das direções regionais será feito em parceira com Luciano Bivar, o que aparentemente é menos do que tinha. "A gente vai compor, eu, meu representante, ele [Bivar]. O importante é ter bons nomes [para as presidências estaduais], não precisa ter essa divisão", diz. Bolsonaro também evita comentar se herdará automaticamente o espólio dos 12 diretórios que eram do movimento Livres, grupo liberal liderado pelo filho de Luciano, Sérgio Bivar, e que já anunciou desfiliação em massa com a sua chegada ao partido (ver abaixo).

A experiência com o PEN/Patriota até pode ser uma "página virada" na pré-campanha de Bolsonaro, mas deixou marcas e conflitos internos ao grupo, embora o presidenciável tente minimizar. De acordo com fonte próxima ao deputado, a ocupação da legenda - à qual Bolsonaro só aportaria em março, para aproveitar a janela partidária de transferência sem correr risco de perder o mandato - foi marcada por disputa e intrigas entre os principais colaboradores do parlamentar.

Indicado como primeiro vice-presidente na executiva nacional do PEN, o ex-árbitro de futebol Gutemberg de Paula, "amigo de pelada" do filho de Bolsonaro, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSC-RJ), perdeu espaço com a chegada à equipe do advogado Gustavo Bebianno Rocha. O presidenciável evita comentar como se conheceram: "Isso é um particular meu e dele."

Ao mesmo tempo, Bolsonaro teria se indisposto com outros amigos de Flávio, como o advogado Bernardo Santoro, que indicara como secretário-geral, e Rodrigo Amorim, que foi candidato a vice-prefeito na chapa de Flávio, no ano passado, e nomeado secretário de Relações Internacionais da direção nacional do PEN. "Eu dou liberdade para todo mundo", diz o pré-candidato. Bolsonaro nega que haja um racha na equipe de pré-campanha mas afirma não saber se todos os principais colaboradores o acompanharão para o PSL. Quanto ao filho Flávio, nega que o tenha enquadrado. "Se eu não tiver unidade em casa, vou ter unidade onde? Como vou ter unidade fora?", responde.

Para Adilson Barroso, a recente ascensão de Gustavo Bebbiano no comando dos destinos da candidatura foi o fator que atrapalhou as negociações com o PEN, ao exigir cada vez mais espaço, inclusive seu próprio cargo de presidente nacional do partido. Em sua opinião, seria um "espião", alguém desagregador, com interesses contrários aos de Bolsonaro, com supostos e improváveis vínculos até mesmo com o PT, por ter sido sócio do escritório de Sérgio Bermudes, que já defendeu o ex-ministro petista José Dirceu. "Pelo que ele me disse, nunca defendeu o PT, saiu do escritório em 2012", afirma Bolsonaro. Em post publicado em seu Facebook, em 2015, durante processo que levaria ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Bebbiano faz pesadas críticas ao PT.

Mas Barroso insiste no estilo de negociar do homem de confiança de Bolsonaro. O dirigente afirma que houve um processo duro de barganha. Cita mensagem enviada por e-mail na qual o advogado teria lhe dito que o PSL "me deu tudo" - em referência aos cargos de direção nacional e estaduais - e perguntava se Barroso cobriria a oferta, porque a preferência do grupo seria pelo PEN.

No partido, Bolsonaro chegou a aparecer no programa da legenda exibido na TV, em setembro, a despeito de não pertencer à agremiação. Assinou ficha de filiação com data de 10 de março - dentro da janela partidária -, enviou o grupo de aliados que mudou o estatuto, numa guinada à direita, ocupou cargos e provocou o início do processo de troca de nome do partido para Patriota.

Sem poder contar com Jair Bolsonaro, segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto a presidente, Adilson Barroso, já traça outro plano "JB": o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa. "É o primeiro sonho meu. Vou atrás do Joaquim Barbosa. Ao Bolsonaro desejo um feliz partido novo. Só vou dizer para ter cuidado e não repetir o Garotinho que embarcou numa aventura ao se filiar no PMDB, e não lhe deu legenda para se candidatar em 2006", disse.

Criticado pelos auxiliares de Bolsonaro por ter o controle total da cúpula do PEN - onde consta sua mulher, irmão, filho e aliados do município paulista de Barrinha, onde foi vice-prefeito e vereador - Barroso minimiza: "Imagina, nem Lula tem o controle do PT. Se o Bolsonaro pode confiar no Gustavo, porque não pode confiar em mim?".

Jair Bolsonaro passou a procurar um partido para se candidatar ao Planalto depois de brigar com o presidente do PSC, o pastor Everaldo Dias, que pretende lançar na disputa o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro.

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