sábado, 6 de janeiro de 2018

Gustavo Patu; O social, o centrão e os credores

- Folha de S. Paulo

O Congresso colocou a carroça à frente dos bois ao depor Dilma Rousseffantes de cumprir sua tarefa elementar, constitucional, de julgar as contas anuais do governo que motivaram as acusações de fraude orçamentária.

Com a derrocada econômica e moral do petismo, o eterno centrão teve de deixar às pressas seus esconderijos no subterrâneo da política e assumir a condição de protagonista. Respondia ao alarme do mercado credor, ao qual cabe, desde o restabelecimento da democracia, o papel de moderar os apetites do progressismo desmiolado, do fisiologismo legislativo e do capitalismo de compadres.

Improvisou-se um arranjo de emergência, com o congelamento dos gastos do governo por duas décadas. Por inverossímil que pareça o prazo, a tensão mais premente foi dissipada. Mas as diretrizes nacionais para as finanças públicas se tornaram ainda mais tortuosas.

Na Constituição, que agora prevê o teto para a despesa, permanecem as promessas sociais da Nova República —verbas carimbadas para educação, saúde, assistência, previdência generosa e insustentável.

A Carta contém ainda o dispositivo básico, de mero bom senso, segundo o qual não se pode depender de dinheiro emprestado para pagar despesas do dia a dia como salários, aposentadorias e juros da dívida. Pois nem isso será mais possível cumprir sem nova gambiarra.

O ajuste cobrado pelos credores não está ao alcance das capacidades do centrão situacionista, cuja feiura fisiológica solapa a popularidade do governo Michel Temer. A oposição regride ao esquerdismo mais pueril, conveniente porém para a aliança com as corporações do Estado.

Resta promover alguma manobra de contabilidade, desta vez com amparo legislativo, para evitar que mais um presidente incorra em burla do Orçamento. E o Congresso deverá acumular mais alguns anos de contas federais por serem julgadas.

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