sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Moreira defende candidatura única

O ministro Moreira Franco disse que há chance de a base do governo ter candidato único à Presidência, com metade do tempo total de TV.

‘Reciprocidade vem desde Roma’

Moreira minimiza barganha de Marun por votos; ministro aposta em candidato único da base

Geralda Doca, Leticia Fernandes e Paulo Celso Pereira / O Globo

- BRASÍLIA- Um dos mais próximos aliados do presidente Michel Temer, o ministro Moreira Franco guarda no bolso uma lista dos problemas que mais afligem o governo: todos temas da agenda econômica. No comando da SecretariaGeral da Presidência, ele admite que a base do governo está menor, mas que existe a chance de montar uma candidatura que represente o governo e seu aliados. Ele diz ainda que, se não for aprovada, a reforma da Previdência “será a pauta do debate eleitoral”. Sobre as declarações do ministro Carlos Marun, que admitiu negociar empréstimos da Caixa em troca de votos a favor da proposta, Moreira diz que houve má interpretação, mas que a “reciprocidade” acontece desde o Império Romano.

REFORMA MINISTERIAL
Isso precisa ser feito porque é necessário que o novo titular fique um tempo adequado para se organizar e dar continuidade às ações do Ministério. Mas depende dos ministros. O tempo na política não é definido nem pelo calendário e nem pelo relógio. Há pessoas que têm mais traquejo, mais presença, mais experiência. Como dizia um amigo meu, está rodando bolsinha na rua há muitos anos e, portanto, têm mais facilidade. Do ponto de vista eleitoral, evidentemente, aqueles que não têm experiência precisam de mais tempo para organizar suas candidaturas.

TITULAR DO MINISTÉRIO DA INDÚSTRIA E COMÉRCIO
Isso é uma conversa política que ainda não houve. Mas a tendência é que o ministério continue com o PRB.

CANDIDATO ÚNICO DA BASE
Nós fizemos uma primeira reunião, em que estavam os presidentes de partidos, do PR, do PRB, do PSD, do PTB, e o Rodrigo Maia, que representava o DEM. Segundo os cálculos a grosso modo, aquele núcleo tem um potencial de eleição de algo em torno de 300 deputados federais. E creio que, se não a metade, um pouco mais, um pouco menos da metade do tempo de televisão. Se essas forças se unem, se nós conseguirmos ter um programa de governo comum e tivermos a possibilidade de um candidato... Esse candidato não pode ser imposto, tem que ter a naturalidade da sua capacidade de convencimento, de confiança para que possa representar esse conjunto. Eu creio que há possibilidade de termos candidato. Nas conversas que tenho tido com o presidente e outros companheiros, essa questão eleitoral não entrou ainda na nossa pauta. Nós estamos todos mobilizados para a Previdência.

APOIO A NOME DO PSDB
Eu não trabalho com achismo, trabalho com fatos. Esse é o fato, o Alckmin não estava na reunião. Nem poderia (ele ainda não era presidente do PSDB). Mas o PSDB não estava nessa reunião.

TEMER CANDIDATO
Não é a intenção, não creio. Mas a eleição não está ainda na nossa agenda.

SEMIPRESIDENCIALISMO
Pelo relógio e pela folhinha, poderia prosperar ( ainda no governo Temer). Temos que caminhar para isso. No fato não tem desejo. É claro que isso vai ter que passar por um processo educativo, vai ter que se discutir com a sociedade, mas essa decisão se toma por quem tem legitimidade para tomar, e o Congresso tem essa legitimidade.

LAVA- JATO
Neste governo eu não vejo nenhuma manifestação objetiva, nenhuma atitude política, nenhuma atitude institucional do governo no sentido de inibir a atuação da Lava- Jato. Não vejo.

INDULTO DE NATAL
As pessoas estão mobilizadas para a politização, para o conflito, confundem divergências políticas com o ambiente institucional e legal. A Lava- Jato é muito boa, mas essa confusão de você trazer para a disputa política pontos de natureza judicial não é bom, porque são mundos distintos. Neste fato do indulto, que é uma ação humanitária, praticada no mundo todo, eu vi um excesso de politização.

QUADRILHÃO DO PMDB
Eu nunca tive nada, absolutamente nada, não iria ficar praticando o indevido a esta altura da minha vida. E a leitura minuciosa feita pelos meus advogados do que foi dito pelos delatores dão a garantia de que, do ponto de vista legal, não tem nada. E a minha consciência do que eu fiz me dá segurança de dizer que o que está dito ali, da maneira que está, são insinuações. Tanto que uma delas é que eu teria pedido, numa reunião, R$ 4 milhões, e esse dinheiro foi cobrado por outra pessoa em uma época distinta, ou seja, não me foi passado.

PREVIDÊNCIA NA CAMPANHA
A vida continua ( se a reforma não passar), o Congresso continua aberto, ainda há coisas que precisam e serão feitas. Qual a consequência de aprovar a Previdência? A eleição vai se dar como uma pauta totalmente distinta porque vamos discutir qual o futuro da economia brasileira, porque política no Brasil é economia. Se a Previdência não for aprovada, será a pauta do debate eleitoral. A pergunta a ser colocada para os candidatos será qual é a sua posição sobre a Previdência porque as pessoas querem receber suas aposentadorias

NEGOCIAÇÕES DE VOTOS PARA A REFORMA
Se você vai a Roma, verá que, nessas negociações, sempre se fala na reciprocidade, no Império Romano. Se você ler o livro que gerou até um filme sobre o Abraham Lincoln, no fim da escravidão, vai ver que, respeitando as mudanças culturais da época, você vê negociações, que as pessoas conversam. Aí você vê com naturalidade que essas coisas ocorrem. Evidentemente que o método depende muito do temperamento. Eu creio que, no caso do ministro ( Carlos) Marun, o excesso foi fruto de uma má interpretação.

TAMANHO DA BASE
Comparativamente, é evidente que a base está menor, existem mais dificuldades hoje do que quando foi feita a primeira denúncia. Isso é visível a olho nu. Por outro lado, o compromisso público do governo com a lealdade aos que têm dito que apoiam a reforma é presente. O governo entende que é preferível fazer a reforma agora do que você levar o país a perder dois anos.

PREVIDÊNCIA E LOBBY
Hoje a reforma não é mais questão de governo. Existe um risco objetivo de os aposentados não terem condições de receber. Nos estados do Rio, do Rio Grande do Sul, os aposentados tiveram seus pagamentos atrasados. Não podemos deixar que isso ocorra no plano federal. Há consciência de que não é possível construir uma sociedade com igualdade de oportunidades com um sistema montado em cima de privilégios. Os servidores estão fazendo lobby no Congresso, anúncio na TV, no rádio. São fortes porque conseguiram capturar núcleos mais importantes da administração pública. Mas não vamos ceder.

CONCESSÕES
A pressão partidária (do PR) dificultou a realização dos estudos para a concessão do aeroporto de Congonhas, que é complexo. Para fazer a modelagem, precisa da Infraero, detentora do aeroporto, que manifestou interesse contrário. Com isso, não iríamos conseguir fazer ainda este ano.

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