quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Petistas minimizam declaração de Gleisi sobre 'matar gente'

Catia Seabra / Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Dirigentes petistas buscaram minimizar nesta terça (16) declaração da presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR). Ela disse que, para que o ex-presidente Lula seja preso, "vai ter que matar gente".

"Para prender o Lula, vai ter que prender muita gente, mas, mais do que isso, vai ter que matar gente. Aí, vai ter que matar", afirmou Gleisi, em entrevista ao site "Poder360", em alusão a eventual condenação de Lula pelo TRF4(Tribunal Regional Federal da 4ª região), no próximo dia 24, em Porto Alegre.

O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, chamou a declaração de infeliz, afirmando que essa foi uma força de expressão.

"Haverá uma comoção social. Vamos ficar chateados. Eu mesmo, se o Lula for preso, vou morrer do coração", reagiu Okamotto, que disse que não há orientação de endurecimento às vésperas do julgamento. "Não haverá uma revolução, infelizmente."

Ele acrescentou: "Vamos insistir na via institucional, o que não significa entrar com uma ação [na Justiça] e ir para casa de braços cruzados".

Para o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), a fala de Gleisi foi "força de expressão". "Não tem sentido literal. Não tem relevância."

O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) opinou que Gleisi sofreu de "ansiedade cibernética", fruto de tentativa de se mostrar proativa na internet.

Após sua declaração causar polêmica, a senadora se justificou nas redes sociais: "Usei uma força de expressão para dizer o quanto Lula é amado pelo povo brasileiro. É o maior líder popular do país e está sendo vítima de injustiças e violência que atingem quem o admira. Como não se revoltar com uma condenação sem provas?".

Temerosos de acirramento de ânimos, petistas viram na declaração novo deslize de Gleisi. No sábado (13), ela divulgou que Lula havia sido homenageado pela torcida do clube alemão Bayern de Munique. Na faixa onde Gleisi leu "Forza Lula" estava, na verdade, "Forza Luca", em referência a um torcedor ferido.

A afirmação da senadora ocorre dias após o tesoureiro do PT, Emídio de Souza, reconhecer a militantes incertezas sobre o destino de Lula e estimular petistas a demonstrar força para constranger a Justiça. "Quanto mais força tiver o nosso movimento mais comedida a Justiça vai ser. Não sei se ela vai se amedrontar. Nós temos que demonstrar nossa força. Fazer nossa parte e depois a gente vê o que acontece."

O presidente do TRF4, Carlos Eduardo Thompson Flores, já manifestou preocupação com a segurança dos juízes da corte após ameaças.

Lula será julgado em segunda instância. Ele foi condenado a nove anos e seis meses de prisão pelo juiz Sergio Moro, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex em Guarujá (SP).

LULA BARRADO
O juiz João Pedro Gebran Neto, do TRF4, negou nesta terça pedido da defesa de Lula para que ele fosse ouvido pela corte. Os advogados argumentam que garantias fundamentais foram violadas na primeira instância e que Lula tem o direito de ser ouvido por órgão imparcial e isento.

Para Gebran, a repetição do interrogatório exigiria reconhecimento de eventual nulidade do primeiro, tomado por Moro. O juiz do TRF4 disse que não poderia tomar a decisão sozinho, deixando a questão para a 8ª Turma da corte.

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