sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Plano B começa a ser tratado no bastidor

Candidatura de Lula, porém, só será retirada por decisão da Justiça Eleitoral

Gustavo Schmitt e Sérgio Roxo / O Globo

-SÃO PAULO- Um dia depois de ser condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), o ex-presidente Lula admitiu ontem, pela primeira vez, a hipótese de que possa ficar fora da eleição, abrindo espaço para que as articulações sobre quem será o escolhido para encabeçar o plano B petista ganhem força. O ex-governador Jaques Wagner e o ex-prefeito Fernando Haddad são os mais cotados para a missão.

Em discurso após ser indicado pelo PT para disputar a Presidência, Lula cobrou que a candidatura seja levada adiante em qualquer circunstância:

— É importante que vocês tenham claro que não estamos jogando sozinhos no campo. Nós temos outros candidatos e temos as pessoas que me julgaram ainda com a caneta com tinta e que certamente vão criar obstáculos para que o Lula não continue andando pelo país falando mal deles.

O ex-presidente, em sua fala, levantou a hipótese de acontecer o que ele chamou de “indesejável” durante a campanha.

— Eu espero que essa candidatura não dependa do Lula. Essa candidatura só tem sentido se vocês fossem capazes de fazê-la mesmo que aconteça o indesejável. É colocar o povo brasileiro em movimento.

EX-PRESIDENTE SERÁ INSCRITO
Antes da declaração de Lula, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, havia afirmado que não “não existe plano B”. Apesar do discurso oficial, as alternativas a Lula já são discutidas nos bastidores. Jaques Wagner tem mais apoio dentro do partido. Já Haddad enfrenta resistências. Os petistas dizem que, em qualquer circunstância, quem decidirá o candidato será Lula.

Ainda antes da condenação do TRF-4, Wagner admitiu que o partido pode ter um “plano E”, de emergencial, mas declarou que não teria “tesão” em assumir a tarefa.

Seja quem for o escolhido, Lula só se retiraria da disputa se houvesse uma decisão da Justiça Eleitoral nesse sentido. A ideia dos petistas é inscrever o ex-presidente como candidato no dia 15 de agosto, iniciar a campanha com ele e fazer a troca somente no prazo final estabelecido pela legislação, a 20 dias da disputa.

O placar do julgamento deu força para as discussões sobre o plano. Com a condenação por 3 a 0, Lula só terá direito a apresentar um tipo de recurso no próprio TRF-4, os embargos declaratórios.

Lula acusou os desembargadores de formarem “um cartel” para condená-lo sem o direito de apresentar embargos infringentes.

— Construíram um cartel para dar uma sentença unânime — disse.

Em entrevista publicada ontem pelo jornal “Valor Econômico”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que “o jogo começa agora”. O tucano lamentou a situação do petista e acrescentou que “as forças políticas vão se acomodar à nova realidade”.

Visto no PT como um potencial aliado, o PSB deflagrou nesta semana discussão sobre o lançamento de candidatura própria nas eleições. O ex-deputado federal Beto Albuquerque colocou seu nome à disposição e cobrou a aplicação da Lei da Ficha Limpa a Lula:

— Em 2010, era deputado e todos nós celebramos a aprovação da Lei da Ficha Limpa. Todo mundo lutou por isso, a começar pelo ex-deputado José Eduardo Cardozo, do PT. Tem que se aplicar a Ficha Lima porque ela é clara: julgado e condenado em segundo grau é inelegível.

O presidente da legenda, Carlos Siqueira, explicou que a nota de solidariedade a Lula divulgada antes do julgamento não tem relação com o processo eleitoral de 2018 e com a decisão do partido de eventualmente lançar candidato.

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