quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

"Quanto mais candidatos, melhor", diz Cesar Maia

Estevão Taiar | Valor Econômico

SÃO PAULO - A condenação em segunda instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva abre espaço para o surgimento de novas candidaturas de centro, diz o ex-prefeito do Rio de Janeiro, hoje vereador, Cesar Maia (DEM-RJ). Cesar é pai do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), apontado como um dos possíveis candidatos de centro na disputa presidencial deste ano.

Em entrevista ao Valor por e-mail, Cesar Maia repete o discurso do filho e diz que "o foco dele (Rodrigo) são as reformas, e não eleição". Mesmo assim, admite que, caso Lula realmente não dispute a eleição, "terminou a necessidade de buscar um nome aglutinador pelo centro". Sem o ex-presidente na disputa, diz, "não há mais polarização radical" com o segundo colocado nas pesquisas, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ). "Quantos mais candidatos, melhor para todos", afirma.

A derrota de Lula por 3 a 0 no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) na semana passada era esperada por Cesar Maia. "Foi uma missa anunciada", diz.

Na seara eleitoral, os mais prováveis concorrentes de centro que Rodrigo Maia teria na disputa pela Presidência, pelo menos por enquanto, seriam o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD).

Com Meirelles, a disputa começou ainda antes, a respeito de quem pode ser o defensor e herdeiro da retomada econômica que o governo do presidente Michel Temer quer deixar como legado.

Cesar Maia é cético em relação aos pontos fortes de Meirelles. "Pontos fortes só se em agosto a curva [de Temer] for a mesma de Itamar Franco no mesmo período de 1994", diz, citando o ex-vice-presidente também transformado em presidente que, com a implantação do Plano Real, conseguiu eleger o seu então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso.

Já Alckmin é visto pelo ex-prefeito como alguém com a "capacidade de aglutinação". Deputado mais votado do Rio de Janeiro nas últimas eleições, Bolsonaro, por sua vez, tem como ponto forte a "antipolítica populista". "Forte, claro, para ele", afirma.

Ocupando atualmente uma das 51 vagas de vereador na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, o economista Cesar Maia entrou para a vida pública em meados dos anos 80, quando assumiu a Secretaria de Fazenda do Estado no primeiro governo de Leonel Brizola (1922-2004). Eleito deputado federal em 1986, foi ele quem apresentou na Assembleia Constituinte a proposta de regra de ouro do orçamento, que prevê, de maneira simplificada, que o governo não pode se endividar para pagar despesas correntes.

No começo do ano, dada a gravidade do quadro fiscal, a flexibilização da regra de ouro chegou a ser discutida pelo próprio Rodrigo Maia e por Meirelles.

O descumprimento da regra pode levar à condenação do presidente da República e equipe econômica por crime de responsabilidade fiscal, passível de impeachment.

Esse é um risco que o próprio Cesar Maia não vê como totalmente desprezível. "Espero que sim [haja o cumprimento em 2019]. Se não for assim, o próximo presidente arcará com um ônus político difícil de prever", diz.

Dias depois de vir à tona, o debate chegou ao fim, após intervenção do próprio Temer. Cesar Maia também diz que é contra qualquer mudança. Se levada adiante, a flexibilização, de acordo com ele, aprofundaria a crise fiscal não só do governo federal, mas também de Estados e municípios. O tema chegou a pautar uma conversa entre pai e filho.

"Reproduzi [para o Rodrigo] o item III do artigo 167 e opinei que não deveria ser alterado", conta, citando a parte da Constituição que trata da regra de ouro.

Ainda em relação ao quadro eleitoral, o ex-prefeito desconversa sobre uma eventual nomeação dele como candidato do DEM na disputa pelo governo do Rio de Janeiro.

"Espero que não ocorra e que o partido coordene uma coligação que fortaleça o candidato que for escolhido", diz. Ainda evita comentar se seria possível uma aliança ampla em torno do também ex-prefeito Eduardo Paes, filiado ao MDB. "Não me cabe opinar", afirma.

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