domingo, 21 de janeiro de 2018

Ranier Bragon: Botox presidencial

- Folha de S. Paulo

Se alguém ainda tinha esperança de aprovação da reforma da Previdência em 2018, pode ir colocando as barbas de molho.

Em entrevista à Folha, Michel Temer indicou que sua prioridade, de fato, é reformar sua imagem pública. "Esteja certo que não vou sair da Presidência com essa pecha de um sujeito que incorreu em falcatruas."

Uma tarefa e tanto, diriam os detratores. Mas o presidente parece não estar muito preocupado com eles: "Estão na cadeia. Quem não está na cadeia, está desmoralizado".

Temer não se recordou de imediato, mas vários dos seus aliados também estão igualmente desmoralizados e/ou presos. Como os emedebistas Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves e Eduardo Cunha.

Esse último tem contra si uma infinidade de investigações, condenação e um pedido de encarceramento de bíblicos 387 anos. Se o exageradamente retumbante pleito do Ministério Público sair vencedor na íntegra e servir de base para as outras ações, podem estar certos os Cavaleiros do Apocalipse que, quando baixarem à terra, a pena do ex-presidente da Câmara ainda não estará esgotada.

"Quem cometeu ilícitos está preso, simplesmente isso", disse Temer, ao ser lembrado desse inconveniente.

O presidente tem contra si investigações que ou estão em curso ou foram congeladas à espera de que ele deixe o cargo. Infelizmente, para ele, o desdobramento penal e político de tudo isso parece não depender muito de seu empenho ou seja lá qual for o estratagema que esteja bolando.

Se usar a máquina federal em campanha limpa-biografia, ou pior, para sorrateira interferência em investigações, tende a produzir nada mais do que eventual efeito artificial e defeituoso. Uma casa de cartas pronta a desabar ao primeiro sopro.

O real resgate de sua honorabilidade depende —ou deveria depender— muito mais da fórmula que empregou aos amigos no xadrez. Quem fez falcatrua se lascou. Quem não fez não se lascará. Simples assim.

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