segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Temer em campanha: Editorial/Folha de S. Paulo

Em entrevista à Folha, publicada no sábado (20), o presidente Michel Temer declarou que vai dedicar o último ano de seu governo a aprovar reformas e a promover a sua "recuperação moral".

"Não vou sair da Presidência com essa pecha de um sujeito que incorreu em falcatruas", disse.

Temer fez tais afirmações após ser questionado sobre as acusações de irregularidades contra executivos da Caixa Econômica Federal. Considerou que as perguntas acerca do caso embutiam a possibilidade de ele próprio ter agido de modo inadequado, "como se eu fosse um sujeito capaz das maiores barbaridades".

Num cenário em que as investigações da Lava Jato e de outras operações atingem políticos das mais variadas tendências, o MDB, núcleo do atual governo, não tem demonstrado em suas fileiras comportamento diferenciado.

Ao contrário, a sigla, de longa tradição patrimonialista, conta com extensa lista de filiados com problemas judiciais —entre os quais ex-colaboradores diretos do mandatário. É evidente, por outro lado, que essas circunstâncias não autorizam ilações precipitadas quanto à conduta presidencial —o que é diferente de perguntas jornalísticas com vistas ao esclarecimento do público.

Na realidade, a principal queixa do presidente acerca do que chamou de "guerra moral" diz respeito às duas denúncias oferecidas contra ele pela Procuradoria-Geral da República, quando comandada por Rodrigo Janot.

Em sua visão, as iniciativas foram "armações" com o propósito de removê-lo da Presidência.

As denúncias cobraram alto preço político e consumiram energia de um governo que ainda está por aprovar a prometida reforma da Previdência —agora em versão já menos ambiciosa.

Temer pretende que a mudança seja aprovada em fevereiro. Para isso, está em campanha, na tentativa de demonstrar que a medida não prejudicará os mais pobres.

No fim de semana foi a programas de TV para defendê-la contra a pecha de impopular. Quer convencer parlamentares de que a aprovação da nova Previdência não provocará prejuízos eleitorais.

Além da "guerra moral", a rejeição ao governo, detectada pelas pesquisas, também parece ter se transformado num incômodo para o presidente. Embora tenha negado a intenção de candidatar-se à reeleição, mostrou forte ânimo em advogar por suas realizações.

Ainda à espera de um candidato competitivo de centro-direita, não é improvável que Temer alimente a expectativa de preencher a vaga de postulante do MDB e defensor do governismo. O tempo dirá.

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