domingo, 4 de fevereiro de 2018

A aposta de Crivella e de sua igreja para o governo do Rio

Indio da Costa, do PSD, pretende esconder na capital apoio da Universal

Marco Grillo e Fernanda Krakovics / O Globo

Depois de conquistar sua primeira capital, com a eleição do bispo licenciado Marcelo Crivella (PRB) para a prefeitura do Rio, em 2016, a Igreja Universal do Reino de Deus mudou de estratégia e aposta em um nome fora do mundo evangélico para chegar ao comando de um governo estadual. Secretário municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação da administração Crivella até a última quarta-feira, Indio da Costa (PSD) vai reassumir seu mandato de deputado federal com a promessa de que terá o PRB na sua coligação e a Universal dando suporte à sua provável candidatura.

O desafio de Indio será tentar se beneficiar da capilaridade da Universal e do apoio a Crivella em determinadas regiões, sem deixar que sua imagem seja desgastada pela rejeição ao prefeito e à Universal em outros setores. Na prática, o pré-candidato do PSD pretende se afastar de Crivella na capital, em Niterói e na Região Serrana, por exemplo; e colar nele em áreas como a Baixada Fluminense e São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio.

Os mapas eleitorais de Indio e do prefeito são complementares. Em 2016, quando disputou a prefeitura do Rio, Indio teve seu melhor desempenho percentual na zona eleitoral que abrange Ipanema. Em 2014, 57% dos votos que o elegeram deputado federal vieram da capital. Já Crivella superou, em 2014, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) no segundo turno em colégios eleitorais importantes, como Duque de Caxias, São João de Meriti e Belford Roxo, na Baixada, e em São Gonçalo — locais onde o deputado é pouco conhecido.

Os estrategistas de Indio trabalham com um universo de 650 mil eleitores na órbita da Universal, o que representa 5% dos 12,3 milhões de eleitores do Rio. Segundo o Censo de 2010, a Universal tem 273.324 fiéis no estado. Pessoas próximas a Indio confiam que o desgaste gerado em parte do eleitorado pela associação com a igreja será diluído pelo discurso pró-mercado e a defesa da reforma da Previdência com os integrantes de sua chapa, principalmente o candidato à Presidência.

IGREJA JÁ FOI ALVO DE INDIO
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ensaia uma candidatura ao Palácio do Planalto pelo PSD, mas o presidente do partido, Gilberto Kassab, é próximo ao PSDB, cujo précandidato é o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Uma das vagas da chapa de Indio, porém, está reservada para o senador Eduardo Lopes (PRB-RJ), bispo da Universal, que tentará a reeleição. Ele foi eleito como suplente de Crivella e assumiu a cadeira no Senado quando o titular virou prefeito do Rio.

No primeiro turno da eleição para a prefeitura em 2016, Indio chegou a afirmar que Crivella usava a estrutura da Universal em prol de sua candidatura. No debate da RedeTV!, ele perguntou aos telespectadores se gostariam de uma gestão municipal com “os dogmas da Igreja Universal”.

Hoje ele nega haver contradição em ter sua pré-candidatura apoiada por Crivella e pela Universal, dois anos depois.

— A influência da igreja na prefeitura foi zero. E ele (Crivella) não usou a máquina da prefeitura a favor da Universal. Na minha secretaria nunca houve um pedido — disse Indio da Costa, que ficou em quinto lugar, com 8,98%, na disputa pela prefeitura do Rio em 2016.

Neste mês, Crivella nomeou o pastor evangélico Rubens Teixeira, da Assembleia de Deus, para a Secretaria municipal de Transportes. Em outubro do ano passado, Fábio Macedo foi nomeado coordenador do Centro Administrativo São Sebastião. Ele é primo em primeiro grau do fundador da Universal, o bispo Edir Macedo, e, em segundo grau, do próprio prefeito.

O PRB foi criado em de 2005 com o nome de Partido Municipalista Renovador (PMR), já ligado à Universal, e tinha o então vice-presidente, José Alencar, como presidente de honra.

Indio e Crivella também trocaram acusações de corrupção no primeiro turno das eleições. Mesmo assim, o deputado do PSD apoiou o atual prefeito no segundo turno. Na ocasião, Indio afirmou que selou a aliança com a garantia de que a Universal e o ex-governador Anthony Garotinho não participariam da administração. Indio ainda tenta o apoio do PSB e do PR — nesse caso, a situação foi facilitada pela expulsão de Garotinho, que também pretende concorrer ao governo.

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