segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Dividido, Copom faz o ajuste fino da política monetária: Editorial/Valor Econômico

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central chega dividido ao fim de mais um ciclo de distensão monetária, mas não se deve exagerar as divergências. O que está em jogo é um ajuste fino em março, de 0,25 ponto percentual, depois de os juros básicos da economia caírem de 14,25% ao ano para 6,75% ao ano. A discussão relevante será, em breve, quanto tempo a Selic ficará no terreno estimulativo.

A ata da reunião de fevereiro do Copom, divulgada na última quinta-feira, informa que alguns membros do colegiado queriam comunicar mais fortemente que o ciclo de baixa de juros terminou. Outros pretendiam enfatizar as chances de uma nova baixa de juros, caso o cenário inflacionário se mostre ainda mais favorável que o esperado. Por fim, decidiu-se por uma mensagem salomônica, indicando que o ciclo de distensão monetária chegou ao fim, a menos que haja surpresas positivas nos próximos meses.

O Copom destaca no documento alguns fatores que vai acompanhar com especial atenção para decidir o que vai fazer em março. De um lado, o BC poderá cortar os juros a 6,5% ao ano se os núcleos de inflação seguirem muito baixos e se houver alguma notícia positiva que retire riscos da economia. Do lado negativo, que poderia fazer o Copom manter a Selic em 6,75% ao ano, está uma eventual piora no cenário internacional ou uma recuperação mais consistente da economia brasileira.

Em 2017, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 2,95%, abaixo tanto do centro da meta (4,5%) quanto do piso (3%). Em boa parte, isso se deveu a uma queda de 5% nos preços de alimentos. O Banco Central prefere acompanhar os núcleos, que descartam os preços mais voláteis, para identificar a tendência da inflação. Esses indicadores, porém, têm emitido sinais ambíguos.

O Copom destacou que em novembro alguns dos núcleos ficaram muito baixos, indicando que a inflação poderia se perpetuar próximo do piso da meta. Em dezembro, os núcleos subiram a um patamar descrito pelo Banco Central como confortável, consistente com a convergência da inflação para o centro da meta. Mas, em janeiro, os núcleos caíram de novo. Se seguirem tão baixos, o Copom provavelmente cortará os juros, para evitar que a inflação fure de novo o piso da meta. Se subirem para níveis mais confortáveis, a tendência é a Selic ficar onde está.

Outro ponto crucial é a evolução do que o que o BC chama, de forma genérica, de fatores que determinam os prêmios de riscos na economia. Essa é uma referência indireta à aprovação de reformas que procuram equacionar os riscos fiscais, em especial a da Previdência. Neste caso, importa para os juros tanto a perspectiva de aprovação do projeto que tramita no Congresso quanto o comprometimento em lidar com o problema dos principais candidatos na eleição presidencial.

O Copom cita, na ata, o risco de a economia bater no teto. Até dezembro, o Banco Central dizia que a atividade tinha uma retomada "gradual", mas em janeiro começou a se referir a uma recuperação "consistente". Depois de uma recessão de dois anos, a capacidade ociosa da economia é muito grande. Mas há dúvidas sobre quanto, de fato, o Brasil pode crescer sem pressionar a inflação - e os riscos se tornam maiores à medida em que o Produto Interno Bruto (PIB) cresce de forma mais acelerada.

Merece atenção ainda uma eventual mudança nas condições de liquidez internacional, o que poderia reduzir o fluxo de capitais para o Brasil. O cenário básico do Copom é que os bancos centrais de economias desenvolvidas subam os juros de forma gradual. Mas a ata destaca que os riscos aumentaram depois que os salários começaram a subir nos Estados Unidos e a inflação em alguns países começa a se deslocar para mais perto das metas.

Os pontos citados acima são tão importantes que, muito provavelmente, estarão sob exame pelo BC durante vários meses para decidir quando remover os estímulos monetários. Hoje, a aposta do mercado é que isso só ocorra em 2019, mas o cenário poderia mudar rapidamente caso ocorram turbulências no exterior, em especial se os mercados entenderem que há falta de comprometimento com a aprovação da reforma da Previdência Social.

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