sábado, 24 de fevereiro de 2018

Temer afirma ter sido cogitada a retirada de Pezão do governo do RJ

Para presidente, Forças Armadas não devem ser culpadas por um eventual fracasso

Gustavo Uribe | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer afirmou nesta sexta-feira (23) que chegou a ser cogitada uma intervenção no Rio de Janeiro em todo o governo estadual, afastando inclusive o governador Luiz Fernando Pezão.

Ele afirmou, contudo, que refutou a hipótese, por considerá-la radical, mas não quis dizer de quem foi a sugestão feita ao governo federal.

Segundo ele, Pezão não será retirado do cargo mesmo que a intervenção federal seja um fracasso. "Se cogitou em tirar o Luiz Fernando Pezão, mas logo refutei, porque seria muito radical. E, quando refutei, chegou-se à conclusão de que devíamos agir na área de segurança pública", disse, em entrevista à Rádio Bandeirantes.

Segundo o emedebista, a decisão de fazer a intervenção federal foi dele e se ela não tiver êxito, quem errou foi o governo federal. Para ele, as Forças Armadas não devem ser responsabilizadas por um eventual fracasso, uma vez que o comandante supremo dos poderes militares no país é o presidente da República.

"Se não der certo foi o governo federal quem errou, não foram as Forças Armadas, porque elas estão cumprindo uma decisão governamental", disse.

Na entrevista, ele avaliou que o Rio de Janeiro serve de exemplo para o país e que se a intervenção não tiver êxito, a situação também pode piorar em outras unidades federativas. "Chegou-se a um ponto que se não tivesse a intervenção, e ela dará certo, não haveria condições de habitabilidade no Rio de Janeiro", disse.

Ele afirmou esperar que não tenham episódios de violência durante a operação federal, mas ressaltou que, se for necessário, as Forças Armadas irão "partir para o confronto". "Mas no próprio Ministério dos Direitos Humanos estamos promovendo um grupo que vai acompanhar as ações durante a intervenção federal", ponderou.

O presidente ressaltou que a estratégia de solicitar judicialmente mandados de busca e apreensão coletivos só será adotada em "casos extremos" e avaliada "caso a caso". "Será em caso extremo se houver necessidade e amparo legal, porque eu reconheço que a casa é ambiente inviolável, como prevê a Constituição Federal", afirmou.

MINISTÉRIO
Na entrevista, Temer disse ainda que o nome do novo ministro extraordinário da Segurança Pública será anunciado na segunda-feira (26). Ele afirmou ter dez opções em mente, mas não quis citar nenhuma. Ele reconheceu que cogita criar o novo cargo por meio de decreto, o que evitaria passar pelo Congresso Nacional, mas ressaltou que também avalia fazê-lo por medida provisória.

Segundo ele, a nova pasta deverá criar uma espécie de guarda nacional, que seria subordinada às Forças Armadas e atuaria no policiamento estadual em casos de necessidades. "O ministério vai cuidar disso, de constituir uma guarda nacional. Nós vamos levar adiante, mas vai depender de estudos feitos pela própria pasta", afirmou.

Ele negou que criará um novo imposto para prover mais recursos para a segurança pública e disse que as investigações da Polícia Federal no âmbito da Operação Lava Jato não serão afetadas com sua transferência para a nova pasta. "Não haverá interferência nas investigações de corrupção pela Polícia Federal. Haverá, na verdade, até reforço delas", disse.

Para ele, há chance zero hoje no país de ocorrer um novo golpe militar. "A hipótese de golpe militar é zero. Não existe clima na população ou clima interno nas Forças Armadas para isso", ressaltou.

ELEIÇÃO
O presidente disse ainda que a intervenção militar é uma "jogada de mestre", mas negou que ela tenha motivações eleitorais. Ele disse ainda que não será candidato à reeleição neste ano. "Em política, as circunstâncias é que ditam a conduta. E as atuais mostram que não sou candidato. Eu não serei candidato", prometeu.

Perguntado se disputaria outro cargo, no caso para manter foro privilegiado, ele chamou as acusações contra ele de "pífias". "Não tenho nenhuma preocupação com essas denuncias pífias", disse.

Nos bastidores, contudo, o presidente avalia a possibilidade de disputar a reeleição. Para ser candidato, no entanto, ele sabe que precisa se viabilizar eleitoralmente até maio, prazo que estabeleceu para definir se tentará continuar no cargo.

A meta do chamado "Plano Temer", estruturado pela equipe de marketing do emedebista, é elevar os índices de aprovação para 15% e reduzir os percentuais de rejeição para 60%.

PREVIDÊNCIA
O presidente reconheceu que o governo federal teve de fazer uma escolha entre a intervenção militar e a votação da reforma previdenciária e admitiu que a segunda enfrentava dificuldades de votos. Ele afirmou não saber se haverá possibilidade dela ser apreciada apenas pelo próximo governo, mas considerou não ser "improvável" que seja retomada no final do ano.

"Pode ser que em setembro ou outubro cessem os efeitos da intervenção e, a partir de então, ocorram novas votações, inclusive da emenda da reforma", disse.

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