terça-feira, 27 de março de 2018

Bruno Boghossian: Disputa silenciosa

- Folha de S. Paulo

Henrique Meirelles (Fazenda) já consultou advogados eleitorais para saber se poderá gastar parte de sua fortuna na contratação de assessores e no aluguel de aviões para viajar o país como pré-candidato ao Palácio do Planalto.

Relegado a plano B do governo desde que Michel Temer admitiu o desejo de se lançar à reeleição, o ministro decidiu fazer um investimento de peso em seu próprio projeto político. O objetivo é superar o chefe em uma disputa interna e silenciosa pela vaga de presidenciável.

Meirelles sabe que Temer é o candidato natural do MDB —e o próprio presidente fez questão de deixar isso claro na conversa que os dois tiveram na sexta-feira (23). Resolveu, ainda assim, fazer uma aposta de alto risco e deixar o Ministério da Fazenda porque sabe também que as suspeitas de corrupção e a duradoura impopularidade do governo podem mudar esse projeto drasticamente.

O ministro usará o próprio dinheiro para tentar ganhar musculatura e provar aos partidos da base governista que ele é a melhor opção para representar esse bloco nas eleições.

A decisão sobre quem deverá encabeçar a chapa presidencial patrocinada pelo Planalto deve ser tomada em maio, a tempo de costurar alianças e formar equipes de campanha. Até lá, Meirelles espera que seus 2% nas pesquisas se descolem do índice de 1% que Temer ostenta.

Apesar do ímpeto, o ministro não travará uma competição aberta com o presidente. Pelo contrário: até dirá aceitar a hipótese de ser vice de Temer caso ele dispute a reeleição. A ideia pode soar absurda, mas é interpretada como um gesto de boa vizinhança. Meirelles espera que Temer desista da candidatura, devolva a gentileza e o apoie.

O plano parece sólido, mas está longe de ser um contrato registrado em cartório. Nada impede que, em dois meses, Temer e o MDB driblem o novato Meirelles e vendam o apoio do partido a outro candidato mais bem colocado na corrida pelo poder.

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