sábado, 10 de março de 2018

Duplo palanque em São Paulo já afeta base de Alckmin

Atritos entre Doria e França dificultam 'alianças casadas' nos planos nacional e estadual

Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Depois da preocupação com o DEM, que lançou Rodrigo Maia à Presidência, e o PSB, que sinalizou que não apoiará Geraldo Alckmin(PSDB) na eleição nacional, tucanos paulistas voltaram-se à tensão do duplo palanque do governador em São Paulo.

Nesta semana, o PSB aprovou resolução que impede a aliança com candidatos fora do "campo progressista" e que apoiem medidas como a reforma da Previdência ou a privatização da Petrobras, o que foi interpretado como obstáculo ao tucano.

O sinal de alerta no PSDB de São Paulo foi ligado diante da necessidade de manter a boa vontade do vice-governador Márcio França em apoiar Alckmin, considerada a possível pressão do partido por outros nomes.

Aliados do governador reconhecem que ter um único palanque em São Paulo teria facilitado não apenas a composição de alianças como tenderia a aumentar o total de votos do tucano no Estado.

Como nem vice nem PSDB abriram mão, a tensão entre os dois polos já respinga na composição de Alckmin.

O PSB de São Paulo, que França preside, aliou-se ao PSC, PR, Solidariedade e Pros sem estender o compromisso à eleição nacional.

O prefeito paulistano, João Doria (PSDB), que agora trabalha para se lançar ao governo paulista, por sua vez, acertou a vaga de vice em sua eventual chapa com o PSD de Gilberto Kassab, que declarou apoio nacionalmente a Alckmin subentendida a composição em São Paulo.

França reconheceu que a tensão acirrará ânimos na eleição, mas reiterou a disposição em apoiar Alckmin.

"É claro que não é bom, bom é unidade, mas, do meu ponto de vista, as pessoas que são mais próximas ao Alckmin me apoiam. As que nunca quiseram Alckmin candidato a presidente, essas eu percebo que preferem disputar SP a disputar o Brasil", cutucou o vice-governador.

Aliado de Alckmin, o deputado federal Silvio Torres (PSDB-SP) reconheceu que a tensão existe. "Dentro do próprio partido, parte é contra a saída de Doria", disse. "Mas se os dois [Doria e França] falam que apoiarão Alckmin, que o consideram o seu candidato, espero que um mais um seja igual a dois."

DUPLO COMANDO
Na Assembleia, o que foi apelidado como "duplo comando" explicita o racha na base do governador.

Tucanos reclamam do que consideram ser obstrução da pauta de interesse de Alckmin pelo bloco aliado a França, composto por cerca de 30 deputados estaduais.

Segundo deputados do PSDB, projetos como o reajuste do funcionalismo acima da inflação ficam sem quórum e acabarão não votados antes da desincompatibilização de Alckmin, em 7 de abril.

França pediu que a votação ocorra ainda na próxima semana.

Um exemplo simboliza a divisão. O projeto que tornará mais de 40 municípios paulistas de interesse turístico e receberão, por isso, R$ 500 mil cada, seria sancionado em 20 de março, de acordo com a proposta do PSDB.

Venceu a data desejada pelo bloco do PSB, 10 de abril, quando França será o governador e poderá sancioná-la.

DENTRO DE CASA
O desgaste em São Paulo começa dentro do próprio PSDB. A movimentação de Doria incomodou inclusive aliados de Alckmin que trabalhavam pelo palanque único de França.

Também tem irritado os pré-candidatos a governador, que reclamam da forma do prefeito de conduzir o processo, sem nem sequer admitir publicamente a intenção de disputar as prévias.

"Doria quer impor o seu projeto pessoal e autoritário sem levar em conta o projeto do Alckmin nem o projeto do partido", disse o deputado estadual Carlos Bezerra Jr. (PSDB). "Ele não aceita o debate e rechaça toda e qualquer opinião crítica."

Aliado de Doria, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, que já definiu França como o "maior adversário do PSDB", afirmou que, "em campanha, quando tem concorrente, tem que tratar como concorrente".

"Na eleição passada, PSB já foi adversário do PSDB em várias cidades, não tem nada de novo", disse.

Morando afirmou que o arco de alianças em formação pelo vice-governador é composto por "partidos que historicamente estiveram do lado do PT, como PC do B [que ainda não apoiou oficialmente] e o próprio PR".

Para o prefeito, o duplo palanque "não atrapalha Alckmin, não vejo com preocupação". Segundo ele, Doria tem agido democraticamente e deverá se apresentar na próxima semana para as prévias.

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