segunda-feira, 19 de março de 2018

Luiz Carlos Mendonça de Barros: Os fatores de incerteza para 2018

- Valor Econômico

Corte de impostos para empresas elevará déficit fiscal dos EUA e poderá levar à desvalorização do dólar e à volta da inflação

Volto a tratar na coluna desta semana do risco que o governo Trump representa para a economia mundial e, particularmente, para o Brasil. Com a nossa recuperação econômica cíclica consolidada, em um cenário de aceleração do crescimento mundial, somente acontecimentos do tipo Black Swan podem mudar este cenário.

Esta visão mais otimista sobre o futuro é hoje partilhada por vários analistas que, até o final de 2017, não consideravam este cenário. Fico confortável com esta mudança pois respeito muito as instituições financeiras que passaram a olhar nosso futuro - apesar de desafios gravíssimos que vamos enfrentar - com olhos mais favoráveis.

Mas voltemos ao nível do imponderável que pode ainda afetar a economia brasileira em 2018. Vejo hoje dois grandes movimentos que podem ocorrer até o fim do ano e para os quais não temos ainda uma visão clara dos seus efeitos. O primeiro: as eleições presidenciais e legislativas no Brasil; o segundo: a crise econômica que o presidente Trump pode gerar na economia americana na virada do ano.

No caso das eleições presidenciais caminhamos para mais uma polarização esquerda/direita, como tem acontecido sequencialmente no Brasil. Embora desta vez a crise que vive o ex-presidente Lula e o PT possa gerar uma esquerda mais dividida, o conflito entre os softs econômicos de um lado e do outro vai repetir o passado. O candidato Ciro Gomes, uma das alternativas da esquerda não petista, já deixou isto muito claro em suas manifestações sobre como gerir a economia brasileira. Posteriormente, o economista apresentado como seu porta voz, em uma longa entrevista, defendeu com energia todo o legado petista dos últimos governos. Não vão mudar nada em seus conceitos e na forma de gerir a economia. A vitória da esquerda, portanto, trará de volta fantasmas já conhecidos por nós.

Os candidatos de centro-direita que se apresentam ao eleitor neste início de campanha têm a seu lado economistas com pensamento liberal e defensores da gestão macroeconômica do governo Temer. A crise econômica herdada da ex-presidente Dilma e a retomada que assistimos agora está permitindo a estes candidatos uma convergência sobre os caminhos da política econômica a serem seguidos pelo próximo presidente. É o lado bom da crise que vivemos, pois permitirá na campanha separar o joio do trigo e sensibilizar pelo menos 60% da população brasileira.

Com isto teremos nas urnas uma situação polarizada em relação à condução da economia no próximo mandato presidencial. Não vejo a possibilidade do aparecimento de uma carta ao povo brasileiro escrita pelo candidato - ou candidatos - da esquerda para acalmar a ansiedade do mercado, pois somente Lula reúne, como político, condições para tal manobra. Se estiver certo, e as pesquisas mostrarem um cenário eleitoral muito fluido para a polarização esquerda e direita, vamos viver meses de muita especulação e volatilidade no mercado. Quando este sentimento de alta ansiedade vai chegar à economia só vamos saber um pouco mais à frente, talvez na virada do semestre.

Volto agora à segunda ameaça ao ciclo de crescimento que estamos assistindo depois de oito anos de crise mundial. A combinação de uma agressiva política de expansão fiscal no primeiro mandato do presidente Obama com uma política monetária ultra-expansiva operada pelo Fed e pelo BCE fez com que chegássemos a um novo ciclo de crescimento nos países do primeiro mundo. Com a expansão chinesa estimulando a economia na Ásia, e em países emergentes como o Brasil, chegamos à fase de ouro que vivemos hoje, com PIB mundial crescendo quase 5% ao ano.

Mas na economia americana, que iniciou sua recuperação antes da Europa e do Japão, chegaremos ao fim de 2018 em uma fase perigosa, pois vários segmentos do tecido econômico americano já estão trabalhando a plena carga. Embora a inflação esteja surpreendendo os analistas - o núcleo do chamado PCE ainda cresce bem abaixo da meta do Fed - a prudência faz com que a política de juros já esteja em fase adiantada de normalização. Sem pressa, a autoridade monetária americana vem elevando os juros com parcimônia enquanto fiscaliza o comportamento da demanda e dos preços. Maneira adequada de lidar com a inflação sem matar o crescimento econômico.

Mas aí entra o presidente Trump e sua equipe de governo, com uma política econômica centrada em conceitos populistas e incorretos, colocando a gestão do Fed em apuros. A profunda redução de impostos para as empresas americanas trará de volta os déficits fiscais de US$ 1,3 trilhão na virada do ano. Isto já aconteceu no passado, em outros governos republicanos, e o resultado foi a desvalorização do dólar e a volta da inflação.

No caso do governo Trump os analistas mais lúcidos da economia americana estão prevendo consequências ainda mais deletérias para a maior economia do mundo e, por consequência, para todos nós. A confusão administrativa que se instalou na Casa Branca, com a troca de pessoas influentes ligadas à elite do partido Republicano - e sua substituição por populistas do Tea Party - aumenta o risco de um governo em crise permanente.

Embora seja ainda muito cedo para ligar o botão de PÂNICO aconselho ao leitor colocar suas barbas de molho.
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Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é presidente do Conselho da Foton Brasil. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.

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