terça-feira, 27 de março de 2018

Meirelles vai deixar Fazenda, afirma Temer

Ministro vai entregar o cargo e trocar o PSD pela sigla do presidente Michel Temer, mesmo sem ter a garantia de candidatura ao Planalto

Adriana Fernandes / Igor Gadelha | O Estado de S. Paulo.


BRASÍLIA / PORTO ALEGRE - O presidente Michel Temer confirmou que Henrique Meirelles vai deixar o Ministério da Fazenda nos próximos dias para tentar se viabilizar como candidato à Presidência. Meirelles trocará o PSD pelo MDB e pode ser candidato pelo partido ou vice numa eventual chapa com Temer.

Mesmo sem garantia de que será cabeça de chapa na eleição para o Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, decidiu se arriscar e vai deixar o cargo, se filiar ao MDB e tentar se candidatar na disputa de outubro. O ato de filiação deverá ser feito no início da próxima semana, quando será anunciado também o sucessor de Meirelles.

O secretário executivo do Ministério da Fazenda, Eduardo Guardia, foi o indicado por Meirelles para substituí-lo. O nome de Guardia, no entanto, enfrenta resistências dentro do MDB, mas a expectativa é de que o presidente Michel Temer aceite a sugestão. O presidente foi alertado de que há risco elevado de outros integrantes do chamado “dream team” deixarem a equipe econômica, caso o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, seja indicado para o cargo.

Meirelles preferiu não confirmar ontem, em Porto Alegre, a decisão de ir para o MDB até que o anúncio do nome do seu sucessor seja feito. Após a decisão de deixar a pasta, Meirelles cancelou a ida a um fórum jurídico em Portugal.

A costura do acordo de sua ida para o MDB foi confirmada ontem pelo presidente Michel Temer ao Estadão/Broadcast, o que precipitou a movimentação em torno da sucessão. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu a escolha de Guardia.

Ao Estadão/Broadcast, Temer disse, por telefone, que já era a intenção de Meirelles deixar a pasta. “Já era a intenção dele. Acertamos nesses últimos dias”, afirmou o presidente. Para tentar viabilizar seu projeto eleitoral, o ministro da Fazenda vai deixar o PSD, sua atual legenda, e se filiar ao MDB, mesmo com o partido tendo o próprio Temer como pré-candidato à reeleição. A ideia é que o ministro fique como “plano B”, caso Temer não consiga viabilizar sua candidatura e desista de entrar no páreo. Se Temer não recuar, o MDB quer que Meirelles seja candidato a vice-presidente na chapa do emedebista.

O ministro resiste a ser vice e, por isso, ficou incomodado com a precipitação do presidente. A declaração de Temer foi feita enquanto Meirelles estava em voo para Porto Alegre, onde faria duas palestras para líderes empresariais. Meirelles não gostou de ter sido atropelado pelo presidente, porque queria ele mesmo fazer ao anúncio. Por isso, preferiu dizer publicamente que vai decidir somente no fim de semana.

Temer ligou para Meirelles para desfazer o mal-estar e depois acabou fazendo um recuo tático. Ontem à tarde, após participar de evento na Fecomercio-SP, em São Paulo, disse que conversou sobre todas as hipóteses com Meirelles. “Eu e o ministro Meirelles consideramos as várias hipóteses no fim de semana, não havia exatamente uma decisão, mas considerando a hipótese de sua saída. E, evidentemente, ao cuidar de sua saída, se ele vier a sair, vou ouvi-lo muito na indicação do seu substituto”, disse o presidente a jornalistas.

Substituto. A indicação de Guardia, segundo fontes, faz parte das costuras políticas para a migração de Meirelles ao MDB. O ministro também sugeriu o nome do secretário de Acompanhamento Fiscal, Mansueto Almeida, para o Ministério do Planejamento, já que o ministro Dyogo Oliveira, como mostrou o Estado, é cotado para a presidência do BNDES. Para um interlocutor do ministro, seria um “desprestígio” de Meirelles o presidente não aceitar a indicação de Guardia.

Em Porto Alegre, Meirelles já foi tratado como candidato e aplaudido na Federasul quando respondeu sobre a sua candidatura. No entanto, o ministro da Fazenda não chegou à decisão final com o MDB. “No momento em que eu tomar a decisão, eu anuncio”, disse. “Presidência não é questão de desejo, é de oportunidade”, afirmou.

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