sexta-feira, 9 de março de 2018

Merval Pereira: Foi dada a largada

- O Globo

As cartas estão praticamente lançadas para a sucessão presidencial, e quem pode se candidatar já está se alinhando para a largada no pressuposto de que o ex-presidente Lula não estará presente nesta disputa, pelo menos fisicamente. Se conseguirá que o eleitor escolha seu indicado, só se saberá no momento em que ele for obrigado a admitir o que todos já sabem: Lula não estará pessoalmente na linha de largada.

Nos últimos dias foram lançados três postulantes à Presidência, dois deles pelo menos em boas posições no momento: Jair Bolsonaro, pelo PSC, e Ciro Gomes, pelo PDT. O terceiro ator dessa corrida maluca é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que tenta montar sua candidatura à Presidência da República partindo praticamente do zero.

O lançamento da candidatura de Rodrigo Maia foi um sucesso partidário, com a presença de vários representantes da base aliada. O presidente da Câmara transita muito bem entre todos os partidos da base aliada e em muitos da oposição; sabe negociar. O problema é transformar isso num potencial de votos que ele não tem no momento, e só terá se as máquinas partidárias dos aliados entrarem a favor dele.

O problema é saber o que valerá na próxima eleição: a máquina partidária ou a rejeição a essa máquina tradicional? Maia e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, transitam na mesma zona, e o que estiver melhor nas pesquisas deverá ter o apoio do resto da turma.

Os partidos do centrão estão em busca de um porto seguro na sucessão, porque terão que enfrentar outro tipo de candidato, como Bolsonaro, que tem apoio popular forte, e também a esquerda, que vai acabar se unindo em torno de um candidato, seja Ciro Gomes ou o nome que o PT indicar para substituir Lula. Esse centrão está em busca de uma candidatura, depois vai atrás do voto do eleitor.

Não é à toa, portanto, que o presidente da Câmara começou agressivamente sua campanha, atirando contra possíveis aliados, como o governo Temer e o próprio Alckmin. Garantiu que será candidato “até o fim”, mesmo que o presidente Temer venha a se apresentar. E desdenhou uma possível aliança com o PSDB, alegando que seria “negligência política” diante da rejeição que vê do eleitorado aos tucanos.

Alckmin, sem sair de seu estilo, disse que é preciso “dar um desconto” às frases de Rodrigo Maia, e garantiu que o DEM continua sendo um parceiro fundamental. Já Ciro Gomes, que trava sua luta estratégica contra o PT em busca de eleitores petistas que não terão Lula na urna, acha que ele e o governador Alckmin se confrontarão no segundo turno.

Ao contrário do que pensa Lula, que vê o segundo turno sendo disputado pelo PT e o PSDB mais uma vez. Na verdade, esses são raciocínios de candidaturas analógicas, que se preparam para uma disputa eleitoral nos velhos moldes, sem contar com a força das redes sociais.

Também Rodrigo Maia está jogando esse jogo tradicional, reunindo em torno de sua postulação os diversos partidos que hoje estão na base do governo Temer. Vai se apresentar como o candidato do diálogo, mas daqui para frente pretende se afastar gradativamente do governo para manter uma atitude mais independente, que dê um ar de renovação à sua candidatura.

Mas o sonho secreto é contar com o apoio da máquina partidária do PMDB, nada tão evidente que possa prejudicar sua imagem, mas forte o suficiente para montar uma máquina eleitoral das antigas, com candidatos sendo puxados pela força centrípeta para dentro de grandes coalizões eleitorais.

O problema é que o governador Geraldo Alckmin tem a mesma ambição, e os dois trafegam na mesma via eleitoral. O atual presidente da Câmara tem uma vantagem sobre Alckmin: pode permanecer em campanha até julho, mantendo-se no cargo, enquanto Alckmin terá que se desincompatibilizar no início de abril para poder concorrer.


O certo é que só sobrará um dos dois no campo de batalha, da mesma maneira que à esquerda Ciro Gomes terá a vantagem de sair à frente do eventual candidato do PT que substituirá Lula. Os dois candidatos do mainstream enfrentarão ainda Marina Silva, que sempre aparece bem posicionada nas pesquisas eleitorais, mesmo sem estruturas partidária e financeira, e Jair Bolsonaro, que rouba de Alckmin eleitores à direita como a sombra de Lula rouba votos de Ciro Gomes.

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