quinta-feira, 29 de março de 2018

Políticos repudiam ataque à caravana

Pré-candidatos ao Palácio do Planalto condenaram o ataque a bala contra o comboio do ex-presidente Lula no Paraná. Numa rede social, o presidente Temer criticou o clima de “uns contra outros”, enquanto o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tachou o fato de “gravíssimo.” Os petistas pediram que a investigação seja federalizada.

Reação conjunta

Opositores de Lula repudiam ataque à caravana; Planalto oferece apoio à investigação

Dimitrius Dantas | O Globo

-SÃO PAULO E BRASÍLIA- Apesar das divergências políticas, os disparos contra dois ônibus da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Paraná, provocaram reações da maior parte dos presidenciáveis, da OAB e do presidente Michel Temer, além de parlamentares governistas e de oposição. A Polícia Civil do Paraná, responsável pelas investigações, ainda não tem pistas sobre os autores do ataque. O PT pediu a federalização da investigação, porém a entrada da Polícia Federal no caso só deve ocorrer se for comprovado crime político, de acordo com o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann.

O inquérito da Polícia Civil do Paraná passou a investigar o crime de disparo de arma de fogo com danos, e não mais tentativa de homicídio, como informado anteontem pelo delegado plantonista Wilkison Fabiano Oliveira de Arruda. Há duas semanas viajando por cidades da Região Sul, a caravana de Lula é marcada por hostilidades, como ataques com ovos e pedras, e agressões, como a de seguranças, a serviço do PT, contra o repórter Sérgio Roxo, do GLOBO.

Ontem, pelo menos sete postulantes ao Planalto condenaram o ataque, que ocorreu entre as cidades de Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul. Único a destoar, o deputado Jair Bolsonaro (PSCRJ) sugeriu, sem apresentar nenhuma prova, que os tiros foram dados pelos próprios petistas. Márcio Macedo, coordenador da caravana, afirmou que Bolsonaro quer tirar dividendos eleitorais do caso, “querendo polarizar” com Lula.

— Lamento o que aconteceu com a caravana do ex-presidente Lula. Desde quando assumi o governo venho dizendo que nós precisamos reunificar os brasileiros. Precisamos pacificar o país. Essa onda de violência, esse clima de “uns contra os outros” não pode continuar — escreveu Michel Temer, no Twitter, antes de entrevista à rádio BandNews de Vitória, na qual afirmou: — Devo dizer também que, na verdade, essa onda de violência não foi pregada talvez por aqueles que tomaram essa providência, talvez tenha sido, tenha começado lá atrás. E a história de uns contra outros, realmente cria essa dificuldade que gera atritos dessa natureza.

Embora a pré-campanha esteja marcada pela polarização política, os presidenciáveis, ontem, amenizaram o discurso. Em texto publicado no Twitter, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), reprovou o ataque a tiros e cobrou a apuração e punição dos responsáveis.

— Toda forma de violência tem que ser condenada. É papel das autoridades apurar e punir os tiros contra a caravana do PT — disse o governador, que também afirmou que os homens públicos devem pregar “a paz e a união” entre os brasileiros. Anteontem, em entrevista à “Folha de S. Paulo”, ele afirmou que os petistas estavam “colhendo o que plantaram”. O governador de São Paulo também acusou o PT de sempre tentar “dividir o Brasil, nós contra eles”.

Ainda na noite de anteontem, logo depois do episódio, Marina Silva (Rede) recriminou na internet a agressão sofrida pela caravana: “O uso da violência com motivações políticas é uma afronta ao regime democrático”.

Também em rede social, ontem pela manhã, Ciro Gomes (PDT), que está em uma viagem à França, falou sobre o caso: “O ataque criminoso à caravana do ex-presidente Lula é absurdo e deve ser investigado com rigor”.

Os primeiros a se manifestarem foram os dois candidatos mais próximos ao ex-presidente: Manuela D’Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL), logo após os primeiros relatos sobre o ocorrido. Os dois participaram de um ato em Curitiba promovido pela caravana de Lula no Sul do país, que terminou ontem, justamente na capital paranaense. Ambos acusaram os responsáveis de fascistas.

— Transformemos o ato da caravana do Lula de hoje (ontem), em Curitiba, num grande ato de resistência ao fascismo e ao ódio. De reafirmação do compromisso com a democracia — disse Manuela D’Ávila.

COBRANÇAS DE PROVIDÊNCIAS
Henrique Meirelles, que deve deixar o Ministério da Fazenda na semana que vem para tentar viabilizar sua candidatura à Presidência, também condenou os ataques. Segundo ele, os tiros contra os ônibus que faziam parte da caravana são um atentado contra a liberdade de expressão.

— Numa democracia, resolvemos nossas divergências políticas nas eleições, através do debate e do respeito ao resultado eleitoral. O que aconteceu ontem no Paraná foi um atentado contra a liberdade de expressão de um líder político e isso é inadmissível numa democracia — escreveu.

O presidente da Câmara e pré-candidato à Presidência pelo DEM, Rodrigo Maia, disse que “é gravíssimo o que aconteceu ao ex-presidente Lula, não apenas o ataque a tiros contra o ônibus, que foi o ponto final de alguns dias de absurdos, uma tentativa de inviabilizar a mobilização do ex-presidente”.

Maia cobrou o governo federal, por meio do Ministério da Segurança Pública, para que tome providências em relação a episódios como esse. Segundo ele, o Estado deve apresentar soluções firmes, rápidas e exemplares para que essa violência não se repita.

Embora o comando da investigação esteja a cargo da Polícia Civil, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, afirmou ontem que o Planalto pôs a Polícia Federal à disposição do governo do Paraná para ajudar nas investigações. De acordo com Marun, a ajuda foi oferecida pelo ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, ao governador Beto Richa (PSDB).

— Nós repudiamos de forma absoluta o que aconteceu e oferecemos ajuda. O ministro Jungmann fez contato com o governador do estado e colocou a Polícia Federal à disposição, caso ele entenda que seja necessária uma contribuição em relação às investigações. Essa é a medida tomada pelo governo em relação ao caso — disse o ministro.

No entanto, segundo Marun, até a noite de ontem, o governo do estado do Paraná não havia se manifestado sobre a oferta de ajuda.

Um relatório da Polícia Rodoviária Federal, divulgado pelo Jornal Nacional, aponta que policiais que acompanhavam a comitiva não perceberam “nada de anormal” no trajeto entre Queda do Iguaçu e Laranjeiras do Sul. O relatório, porém, não faz menção ao momento descrito por várias testemunhas, em que os ônibus param e os passageiros constatam que o pneu de um deles está furado e que há marcas de tiro na lataria. A TV Globo procurou a PRF para esclarecer o caso, mas não conseguiu contato. (Colaboraram Daniel Gullino, Karla Gamba e Renata Mariz)

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