domingo, 11 de março de 2018

Slogan complica possível plano B do PT

Defender o mote ‘eleição sem Lula é fraude’ divide filiados e militantes e vira problema com risco de o ex-presidente ser impedido de disputar o pleito

Sérgio Roxo | O Globo

SÃO PAULO - Com a possibilidade cada vez mais real de o PT ser obrigado a aderir a um plano B na eleição presidencial deste ano, o partido começa a discutir internamente o que fazer com o slogan “eleição sem Lula é fraude”, adotado no ano passado, depois da condenação do ex-presidente pelo juiz Sergio Moro no caso do tríplex do Guarujá.

A palavra de ordem só faria sentido se a sigla decidisse, na hipótese de a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser enquadrada na Lei da Ficha Limpa, boicotar a disputa eleitoral ao Palácio do Planalto. Apesar de a ideia continuar a ter adeptos na legenda, ela é encampada hoje apenas por um grupo minoritário. O próprio ex-presidente disse, em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, no dia 1º de março, ser contra “boicotar as eleições”.

Uma liderança petista defende que o caminho correto seria amenizar o tom do discurso e deixar de usar o slogan desde já. A preocupação é que o eleitor fique confuso em aderir a um plano B petista com o partido desqualificando o pleito. Os cotados para assumir a cabeça da chapa se Lula tiver a candidatura cassada são o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-governador da Bahia Jaques Wagner.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, foi questionada pelo GLOBO se a legenda orientará seus dirigentes e aliados a deixarem de lado a palavra de ordem, mas não respondeu. Como discussões públicas sobre o plano B petista estão proibidas, os debates sobre o que fazer com a palavra de ordem ainda estão restritos aos bastidores.

GLEISI X LINDBERGH
No último grande ato público petista, realizado no dia 22 de fevereiro, em São Paulo, para comemorar os 38 anos do partido, Gleisi evitou o slogan em seu discurso. Na ânsia de defender Lula das condenações judiciais, a palavra de ordem já chegou a ser destacada em uma resolução do PT, em setembro do ano passado. Em dezembro, foi lançado um manifesto com esse tema para colher assinaturas no Brasil e no exterior.

Mas, apesar de ter sido evitado por Gleisi, o slogan não ficou totalmente de fora do ato de aniversário do PT. O líder da legenda no Senado, Lindbergh Farias (RJ), o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, e Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos Populares, tentaram inflar a militância ao destacarem em suas falas: “Eleição sem Lula é fraude”.

— Como dirigente do movimento popular, acho que o mote “eleição sem Lula é fraude” tem que ser para valer. Tem que ir até as últimas consequências — afirmou Bonfim, que também faz parte da Frente Brasil Popular e costuma discursar em eventos organizados pelo PT.

Na avaliação de Bonfim, o partido, se Lula for impedido de concorrer, deve “denunciar o processo eleitoral fraudado”.

— E não disputar a Presidência — acrescentou.

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