sexta-feira, 2 de março de 2018

Vinicius Torres Freire: Memória e futuro do desastre do PIB

- Folha de S. Paulo

Economia do Brasil está na lanterna da América Latina nas últimas três décadas

Se der tudo muito certo, a economia vai se recuperar do desastre apenas em 2022. Quer dizer, se o país crescer 3% ao ano de 2018 até 2021, voltará então ao nível da renda por cabeça (PIB per capita) de 2013, véspera da grande recessão.

Terão sido oito anos de atraso em um país já retardado pelos besteirões dos anos 1980 e 1990. Não é trivial haver tanta autodestruição, essa recorrência de décadas perdidas. O Brasil está entre os países da América Latina que menos cresceram desde 1990 (ou mesmo depois de 2003, anos melhores). Desconsideradas as pequenas ilhas, superamos apenas a Venezuela e empatamos com o México.

Essa memória deprimente vem a propósito do crescimento do PIB em 2017, de 1%. Ao menos a recessão termina em todos os setores, inclusive na construção civil e na finança, que impediram crescimento melhorzinho.

A construção civil é um elefante morto na sala, do qual o país pouco se ocupa. Encolheu ainda 5%, mas chegou à estabilidade do fundo do poço no segundo semestre. A queda do investimento público em obras, a baderna das empreiteiras corruptas e a superprodução do setor eram mesmo problemas difíceis de superar, mas não se fez muita força para dar um jeito.

O governo preferiu dar aumentos para servidores a gastar em obras. Mal mexeu nas concessões de infraestrutura para a iniciativa privada. Não desembaraçou problemas regulatórios, de obras públicas a contratos de compra de imóveis.

O crédito encolheu outra vez em 2017. O peso da dívida das famílias baixou de modo mais relevante apenas no fim do ano. Além do mais, mesmo quem tem emprego está ressabiado, com medo de tomar empréstimo, dada a paisagem ainda arruinada e juros ainda altíssimos nos bancos. No caso das empresas, dívida e receio são ainda maiores.

Em nota menos deprimida, diga-se que construção e crédito dão sinais tênues de vida desde fins do ano passado. Apesar de ainda quebrados, governos devem gastar um pouco mais neste 2018. Os juros para a compra de imóveis foram dos poucos que caíram de modo relevante e, dado o ambiente menos tóxico, o consumo de moradias deve aumentar e incentivar mais obras.

É possível assim que se recupere um tanto do investimento em máquinas, equipamentos, casas e instalações produtivas (formação bruta de capital fixo, no jargão do PIB), que caiu mais de 27% desde 2013. Foi uma destruição de guerra, que deixou o país com pouco músculo para crescer. O Brasil destina pouco mais de 15% de sua renda anual (PIB) em expansão da capacidade produtiva, taxa de investimento vista apenas em país muito primitivo ou muito rico, que não precisa mais crescer tanto.

Comparados apenas os trimestres finais de 2016 e 2017, a economia cresceu 2,1%. Ritmo melhor do que o da média do ano (1%), mas abaixo da estimativa dos economistas de Michel Temer, que era de 2,7%. Pelas previsões da praça, vamos chegar a esse ritmo apenas na metade do ano. Na média de 2018, o PIB cresce uns 3%.

Mas a recuperação até agora é ruim com despiora lentíssima da situação do emprego e ainda crescente precarização do trabalho; o ritmo de crescimento do salário médio começa a decair. Não vai ser um PIB "pop", esse de 2018.

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