quinta-feira, 29 de março de 2018

Violência política radicaliza debate eleitoral

- Valor Econômico

SÃO PAULO, CURITIBA E BRASÍLIA - Uma disputa pela narrativa marcou o dia seguinte ao mais grave episódio de violência política no Brasil nos últimos anos, com o ataque a tiros a dois dos três ônibus da caravana que acompanha o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Paraná. O ex-presidente, em vídeo, equiparou o incidente ao surgimento do nazismo. "Não podemos permitir, depois do nazismo e do fascismo, grupos fanáticos nesse país", disse.

O incidente serviu a Lula para reaglutinar a esquerda. Os pré-candidatos do Psol e do PCdoB à Presidência, Guilherme Boulos e Manuela d'Ávila, compareceram ao ato de encerramento da caravana promovido por Lula no fim do dia, em Curitiba.

Para o segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que também esteve ontem no Paraná, Lula pode ter simulado o atentado. "Para mim é algo feito por eles, para buscar a vitimização", disse. Recebido por cerca de 200 pessoas no aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais (PR), Bolsonaro simulou espancar um "pixuleco", dando tapas na cabeça do boneco.

O duelo entre as manifestações favoráveis a Lula e a Bolsonaro na capital paranaense não se deu. Até o início da noite, não havia incidentes na capital paranaense, no que foi paradoxalmente o dia mais tranquilo da caravana de Lula pela região Sul.

O governo federal e o estadual agiram para, na prática, minimizar o episódio. No Palácio do Planalto a decisão será a de manter a Polícia Federal fora das investigações, ao contrário do que a bancada do PT pediu, em audiência com o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. Para o governo federal, não está caracterizada a existência de crime político.

A investigação seguirá nas mãos da Polícia Civil do Paraná, sob comando do governador Beto Richa (PSDB) por mais alguns dias, já que o tucano deve se desincompatibilizar para disputar uma cadeira ao Senado e ser substituído pela vice-governadora Cida Borghetti (PP), mulher do ministro da Saúde, Ricardo Barros. Segundo o delegado titular da Polícia Civil de Laranjeiras do Sul (PR), Helder Lauria, o episódio não será tratado a princípio como uma tentativa de homicídio, mas como "disparo de arma de fogo com dano". Richa despachou duas equipes de Curitiba, com três homens cada, para auxiliar Lauria no inquérito. Mas o Ministério Público do Paraná, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), anunciou que vai acompanhar as investigações e que trabalha com a hipótese de tentativa de homicídio.

O presidente Michel Temer lamentou o incidente. "Desde que assumi o governo, venho dizendo que precisamos reunificar os brasileiros. Essa onda de violência não pode continuar", escreveu em sua conta no Twitter. Já o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) definiu o caso como "gravíssimo". Afirmou em entrevista à rádio Bandeirantes que o país chegou "à beira do precipício" e que é necessária uma reação conjunta de todas as esferas de poder.

A primeira reação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), foi de dizer que Lula estava colhendo o que plantou, em declaração a jornalistas na noite de anteontem. Na manhã de ontem, modulou o tom. "É papel das autoridades apurar e punir os tiros contra a caravana do PT", escreveu em sua conta no Twitter.

Nas redes sociais, a polarização dividiu quase pela metade o espaço no Twitter e no Facebook. Lula recebeu 10,449 milhões de menções positivas e Bolsonaro 10,777 milhões, de acordo com levantamento divulgado pela agência de análise MAP.

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