segunda-feira, 2 de abril de 2018

BC entra em uma nova fase do ciclo de corte de juros: Editorial | Valor Econômico

A inflação segue muito baixa, e a recuperação da atividade está mais lenta do que o mercado financeiro esperava. O Banco Central, porém, antecipa que provavelmente fará uma pausa no ciclo de distensão monetária em junho. Embora seja recomendável uma dose de cautela depois de cortar os juros básicos ao menor percentual da história do regime de metas de inflação, será fundamental o BC estar pronto para reagir tempestivamente a eventuais sinais de debilidade da inflação ou da economia.

O Relatório de Inflação, divulgado na semana passada, mostra que a evolução dos preços na economia vem surpreendendo sistematicamente o Banco Central desde fins de 2017. As leituras mensais do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficaram abaixo do antecipado não apenas porque houve surpresas em um item ou outro, como preços de alimentos, mas porque a tendência subjacente da inflação está mais baixa.

Isso está expresso nos núcleos de inflação, que expurgam preços mais voláteis e permitem uma análise mais precisa do nível verdadeiro da inflação. Desde novembro, esses indicadores estão abaixo do centro da meta de inflação e, nos dois primeiros meses do ano, caíram abaixo do seu piso.

Reagindo ao risco de descumprimento da meta pelo segundo ano seguido, o Banco Central decidiu prolongar o ciclo de distensão monetária. Os juros básicos, que em fins de 2017 já haviam chegado o menor nível da história, foram reduzidos mais uma vez em março, de 6,75% ao ano para 6,5% ao ano. Surpreendendo o mercado, o Banco Central anunciou, ainda, um novo corte na próxima reunião, de maio, para 6,25% ao ano. E avisou que cogita uma pausa a partir de junho.

A inflação muito baixa não seria, em si, um problema, se a recuperação da economia não estivesse ocorrendo com menos força do que o esperado. Mais para o começo do ano, analistas econômicos estavam revisando para cima suas projeções para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018, para perto de 3%. Os dados econômicos divulgados desde então, entretanto, foram mais fracos do que o previsto. Preocupa, em particular, a lenta queda da taxa de desemprego - que, quando ocorre, se concentra nos empregos sem carteira assinada.

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, parece não estar alheio a essas preocupações. Em entrevista para divulgar o Relatório de Inflação, ele disse que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC entrou em um "mundo diferente", em que ao mesmo tempo tem que garantir que a inflação suba em velocidade adequada em direção à meta e também garantir que os ganhos obtidos com a queda do IPCA e dos juros sejam perenes.

O cenário básico do BC é que a inflação, que hoje está em 2,84% no acumulado em 12 meses, acelere-se para 3,8% até o fim desse ano. Pode até subir um pouco mais, depois dos estímulos adicionais decididos em março, chegando mais perto da meta, definida em 4,5%. No ano que vem, prevê o BC, já terá se acelerado para 4,1%, basicamente na meta do ano, de 4,25%. Em 2020, coincidiria com a meta, de 4%.

Há, entretanto, o risco de a inflação ficar abaixo do esperado, levando mais tempo do que o desejável para convergir à meta. O Banco Central promete que vai agir caso isso ocorra. Será vital que essa ação seja feita no tempo certo e que, caso necessário, seja revista a sinalização de pausar o ciclo de distensão monetária em junho.

O risco de a inflação subir mais do que o previsto, no entanto, não é desprezível. Há muita incerteza sobre como os cortes de juros chegam à inflação, tanto na sua intensidade quanto na defasagem. A história mostra que, em geral, quando a inflação é muito baixa, tanto o mercado financeiro quanto o próprio Banco Central costumam se contagiar pelo otimismo e subestimar a aceleração no índice de preços que vem logo em seguida.

Também há incertezas importantes no horizonte. O Banco Central citou duas no seu relatório: a falta da aprovação da reforma da Previdência, sem a qual o ajuste fiscal segue incompleto, e uma eventual virada nas condições de liquidez internacionais, que hoje são extremamente favoráveis aos países emergentes. A essas duas, soma-se a eleição presidencial. Será fundamental dosar a política monetária para, ao mesmo tempo, garantir os ganhos da baixa da inflação e também assegurar a recuperação da atividade e do emprego em um ritmo adequado.

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