segunda-feira, 2 de abril de 2018

Massa salarial atinge R$ 194,1 bilhões e praticamente zera as perdas da crise

Por Bruno Villas Bôas e Estevão Taiar | Valor Econômico

RIO E SÃO PAULO - A combinação de aumento de trabalhadores empregados com alta da renda provocou uma reação mais rápida da massa de salários em circulação na economia, que cresceu em R$ 8 bilhões em termos reais em um ano, para R$ 194,1 bilhões no trimestre encerrado em fevereiro. Isso significa que o total da renda real praticamente recuperou as perdas da crise - o valor era de R$ 194,7 bilhões em igual período de 2015, pico histórico da série.

Conforme dados divulgados pelo IBGE, a massa de rendimento real habitualmente recebida no país cresceu 4,1% no trimestre findo em fevereiro, frente ao mesmo período de 2017. O avanço foi resultado da geração de 1,7 milhão de postos de trabalho nessa base de comparação, além do incremento de 2,1% da renda dos trabalhadores ocupados, que chegou a R$ 2.186.

Segundo Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o avanço da massa foi um dos pontos positivos da pesquisa de emprego do IBGE. O indicador cresceu em média 4% nos últimos seis meses. Ele estima que a massa salarial real deve crescer 4,2% neste ano, quase o dobro do avanço de 2017 (2,3%). "Além disso, o equilíbrio desse crescimento é melhor agora", avaliou o economista da MB Associados.

O maior volume de recursos em circulação tende a contribuir para o aumento do consumo das famílias neste ano e, consequentemente, da atividade econômica, segundo economistas. Nas projeções da LCA Consultores, o consumo das famílias deverá crescer 4% neste ano, frente a 2017. Se a projeção se confirmar, esse componente da demanda crescerá no ritmo mais rápido desde 2011 (4,8%).

Cosmo Donato, economista da LCA, acrescenta que o avanço do consumo será influenciado também pelo crédito. Ele lembra que a taxa básica de juros, a Selic, está no menor patamar de sua história, em 6,5% ao ano. O Banco Central (BC) indicou que a taxa tende a sofrer novo corte de 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Copom, em maio.

"Além dos juros mais baixos, vemos uma redução do comprometimento da renda das famílias com o pagamento de dívidas. Essa desalavancagem abre espaço para as famílias voltarem a tomar mais crédito, inclusive num ambiente de melhor confiança", afirmou Donato.

Quando comparado trimestre móvel anterior (setembro-outubro-novembro), a massa real salarial - que não inclui outras fontes de renda para além do emprego, como aposentadorias, pensões, aplicações financeiras - também cresceu, embora em ritmo mais moderado, de 0,4%. Essa pequeno avanço refletiu a piora da taxa de desemprego no período, para 12,6%, acima do trimestre anterior (12%).

"A massa seguiu crescendo apesar da queda da população ocupada no país. Isso foi possível porque a renda teve crescimento real, de 1,3%. O rendimento continua positivo apesar do reajuste pequeno do salário mínimo", disse o economista da LCA.

Para Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, o avanço da taxa de desemprego era esperado, por conta das dispensas típicas de trabalhadores temporários no início de ano. "Em fevereiro, isso ocorre também com a passagem do carnaval. Pode ser que isso continue ainda na entrada do mês de março", disse Azeredo.

Pelos cálculos do Itaú Unibanco, a taxa de desemprego teria recuado 0,1 ponto percentual, para 12,4%, não fosse o efeito sazonal do mercado de trabalho no período. Para o economista Alberto Ramos, diretor do banco Goldman Sachs, a dinâmica do emprego e dos salários seria "encorajadora" na medida em que aponta para uma melhora gradual do mercado de trabalho.

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