sábado, 14 de abril de 2018

Pior para quem mais sofre: Editorial | O Estado de S. Paulo

A profunda crise econômica que o lulopetismo legou ao País está sendo duplamente mais penosa para a faixa da população que vive em piores condições. O partido afastado do poder com o impeachment de sua presidente dizia que este era o segmento social para o qual se voltavam preferencialmente suas políticas ditas sociais, mas essa se tornou a parcela da sociedade mais prejudicada pelas aventuras e irresponsabilidades do PT. Na crise, as faixas de menor renda perderam proporcionalmente mais do que as demais e, enquanto outros segmentos da população passaram a sentir os efeitos dos primeiros sinais de retomada da economia, os que menos ganham continuaram a ficar mais pobres. No ano passado, embora o ritmo da atividade econômica tenha começado a se intensificar de maneira ainda tímida, o rendimento real de todas as fontes continuou a cair, mas caiu mais para quem ganha menos.

De acordo com o relatório Rendimento de Todas as Fontes 2017, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, 124,6 milhões de pessoas que tinham algum rendimento em 2017 – salários e fontes como aposentadoria, pensões, programas sociais e aluguéis – recebiam em média R$ 2.112. Esse valor é 0,6% menor do que a renda mensal média de R$ 2.124 recebida em 2016.

A redução da renda média foi maior entre os que ganham menos. Os 43,4 milhões de trabalhadores que representam os 50% mais pobres da população com alguma forma de rendimento tiveram perda média de 2,46%. No ano passado, a renda dessa faixa da população era de R$ 754 (contra R$ 773 em 2016), quase 20% menos do que o salário mínimo.

Muito pior era a situação de 10,36 milhões de pessoas que, no ano passado, viviam com apenas R$ 40 por mês, em média. Também entre esses mais pobres a situação piorou no ano passado. Em 2016, a renda real média dos mais pobres era de R$ 49. O que já era pouco há dois anos encolheu 18% em 2017. Pode-se dizer que os pobres ficaram ainda mais pobres no ano passado.

A consequência estatisticamente óbvia da disparidade entre a variação da renda dos que ganham menos e dos que ganham mais foi o aumento da distância entre a base e o topo da pirâmide e o aumento da fatia da renda total obtida pelos mais ricos. No topo, cerca de 2 milhões de pessoas (1% da população) recebiam R$ 27.213 por mês, 36 vezes a renda média dos 50% mais pobres.

Curiosamente, o Índice de Gini, principal medida da desigualdade de renda, permaneceu inalterado entre 2016 e 2017. Mas isso se deveu à queda da renda dos estratos mais altos, não à recuperação proporcional da renda dos mais pobres.

Há uma aparente contradição entre a queda da renda e os sinais, ainda que tímidos, da recuperação do emprego detectados por pesquisas do próprio IBGE e de outros órgãos públicos, como o Ministério do Trabalho. Embora no ano passado o número de pessoas com alguma ocupação tenha aumentado, o aumento se deveu ao mercado informal, onde a renda é menor e as garantias sociais igualmente menores. “Tudo o que o mercado de trabalho gerou de ocupação em 2017 foi voltado para a informalidade”, observou o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo. “Não houve aumento no trabalho com carteira assinada. Isso influencia muito fortemente o rendimento da população.”

A superação dos piores efeitos sociais e econômicos do fracasso das políticas do PT e de seus aliados levará tempo e dependerá da preservação das condições mínimas para o crescimento do País. Isso implica responsabilidade na gestão do dinheiro público, manutenção da inflação em níveis toleráveis, garantia de condições para o investimento produtivo que gera emprego e faz crescer a renda média, entre outros fatores. É de um governo que tenha compromissos como esses que depende a pavimentação da estrada para o crescimento econômico e para a redução da pobreza e das desigualdades sociais. O eleitor terá a oportunidade e a responsabilidade de elegê-lo em outubro.

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