sábado, 28 de abril de 2018

Uma articulação bem-vinda: Editorial | O Estado de S. Paulo

As conversas ainda parecem incipientes, mas são animadores os sinais de que o PSDB e o MDB estão se aproximando para a formação de uma chapa unificada para a disputa presidencial. Essa articulação, se bem-sucedida, daria ao centro político um considerável impulso na campanha, criando uma força eleitoral capaz de impedir que a administração do País seja entregue a algum dos consórcios de aventureiros que hoje, bem colocados nas pesquisas, prometem restabelecer a irresponsabilidade como política de governo.

O Estado noticiou no dia 24 passado que o presidente Michel Temer deu aval à retomada das negociações com o PSDB do candidato Geraldo Alckmin. A condição é que Alckmin defenda o legado do presidente Temer na campanha. Não deveria ser difícil.

Diferentemente do que sugerem as pesquisas de opinião, que parecem consolidar uma visão negativa sobre o atual governo, a gestão de Temer conseguiu importantes realizações em um brevíssimo tempo. Em primeiro lugar, reverteu a colossal crise econômica herdada do desgoverno de Dilma Rousseff, com mais de dois anos de recessão, inflação galopante e desemprego nas alturas, além do absoluto descontrole das contas públicas.

Juntem-se a isso, porém, outras louváveis iniciativas, como a aprovação da reforma trabalhista e do teto dos gastos. Faltou a reforma da Previdência, crucial para o reequilíbrio das contas, mas esta foi sabotada por um punhado de inconsequentes que fomentaram um escândalo de corrupção para atingir o presidente Temer. Não fosse por isso, provavelmente a necessária reforma também teria sido aprovada, adicionando mais um importante sucesso à curta Presidência de Temer e facilitando um pouco mais o duríssimo trabalho que espera o próximo governante.

Uma composição entre PSDB e MDB, portanto, serviria para reafirmar, perante o eleitorado, a necessidade não somente de manter esse rumo, mas de aprofundar as reformas. O quadro que aguarda o sucessor de Temer é muito delicado. O primeiro ano do próximo mandato, caso este venha a ser exercido por um presidente que não faça concessões ao populismo, provavelmente será todo ele consumido pela mobilização do governo e do Congresso para aprovar as medidas necessárias para evitar o colapso das contas nacionais e a consequente paralisação do Estado.

Assim, um candidato de centro deverá ter a coragem de assumir, perante o eleitor, que não há atalhos para recolocar o País no rumo do crescimento e que serão necessários sacrifícios. Não se nega que é muito mais difícil fazer campanha assim – basta ver que tem sido infinitas vezes maior o apelo eleitoral de quem promete milagres do que de quem prega a necessidade de austeridade. O fato de um noviço político como Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, aparecer nas pesquisas com dois dígitos mesmo que ainda nem seja candidato e sem que se saiba o que pretende fazer caso seja eleito é mais um indicativo de que a campanha, até o momento, está dominada pela mistificação e pela demagogia, tão bem simbolizadas pelo lulopetismo e pelo bolsonarismo.

Tal cenário indica que há urgente necessidade de esclarecer o eleitor, nos palanques, sobre o risco de dar ouvidos a candidatos que prometem reverter as reformas e retomar o receituário econômico doidivanas que colocou o País no rumo do abismo, sem falar da ameaça que representaria a vitória de alguém sem compromisso com a democracia.

É fundamental, portanto, que as forças de centro realmente se entendam para viabilizar o quanto antes uma candidatura que impeça o triunfo do atraso e assegure a vitória da responsabilidade. Nenhum interesse paroquial e imediatista pode ser obstáculo para uma articulação desse tipo. A mera possibilidade de formação de uma chapa com essas características, comprometida com a continuidade do trabalho de recuperação feito até aqui pelo governo de Temer, já será suficiente para desanuviar a pesada atmosfera nacional.

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