quarta-feira, 18 de abril de 2018

Vera Magalhães: Dilma, Aécio e a Lava Jato

- O Estado de S.Paulo

O que une o destino dos dois finalistas de 2014 novamente é a Lava Jato

Se havia alguma dúvida de que a Lava Jato mudou os alicerces nos quais estava fundada a política brasileira até 2014, a decisão do STF que tornou réu o senador Aécio Neves acabou de dirimi-la. Dilma Rousseff foi apeada da Presidência provisoriamente em 17 de abril de 2016. Dois anos depois, no mesmo dia, seu adversário no mais disputado segundo turno desde a redemocratização passa a responder a um processo criminal.

O que une o destino dos dois finalistas de 2014 novamente é a Lava Jato. Sim, Dilma caiu em grande parte porque conduziu a economia ao abismo. Mas o que levou as pessoas às ruas para fornecer à receita do impeachment o ingrediente de apoio popular foi a revelação de que os governos petistas tinham montado um mecanismo (ops) de corrupção sistemática para financiar seu projeto de poder.

Aécio foi, em 2016, um dos artífices do impeachment. Foi um condestável na transição do governo Michel Temer, fiador do apoio do PSDB a ele e da indicação de ministros. A partir daí, passou a dizer para quem quisesse ouvir que era preciso separar o “joio do trigo” nas investigações. Por trigo devia compreender a si próprio, então já implicado lateralmente em delações como a de Delcídio Amaral.

Estava tão confiante na tese – similar à do senador Romero Jucá sobre a necessidade de “estancar a sangria” – que ousou ter a conversa que teve com Joesley Batista e combinar o repasse de R$ 2 milhões em dinheiro vivo mesmo depois de tudo que a Lava Jato já havia revelado até ali. Dilma e Aécio caíram pelos próprios malfeitos. Ver na ação da Justiça uma tentativa de criminalizar a política significa inverter as responsabilidades.

EM MINAS 1
Decisão deve consolidar afastamento de tucano

Aliados de Aécio Neves avaliam que o fato de ele ter se tornado réu não prejudica Antonio Anastasia na disputa ao governo, pois pesquisas mostrariam que o eleitor diferencia bem a imagem de um e de outro. Além disso, lembram os tucanos, Fernando Pimentel (PT) também está às voltas com denúncias de corrupção. Mineiramente, apontam até um lado bom: com Aécio réu, ficaria mais fácil colocar em prática a condição imposta pelo próprio Anastasia para ser candidato ao governo, justamente que o ex-presidenciável não concorresse à reeleição ao Senado.

EM MINAS 2
Dilma candidata atrapalha aliança do PT com o PMDB

A confirmação da candidatura de Dilma Rousseff ao Senado por Minas – mais um fator, aliás, a fazer com que seu destino e o de Aécio se cruzem – caiu como uma bigorna no PT estadual. O MDB, que já vinha oferecendo obstáculos à aliança com Fernando Pimentel, viu no lançamento da ex-presidente um fator a atrapalhar a postulação de Adalclever Lopes – que, como presidente da Assembleia mineira, foi fundamental para evitar processo de impeachment do governador petista.

NA MIRA
Incógnita na economia, Barbosa vai sofrer ataque coordenado

Pedra no sapato de vários pré-candidatos, Joaquim Barbosa vai passar a sofrer ataque especulativo sistemático no mesmo flanco: a falta de pistas sobre o que pensa sobre a condução da economia, notadamente em temas polêmicos como privatizações, reforma da Previdência e independência do Banco Central. Henrique Meirelles já deu a largada nessa linha, que será seguida por Geraldo Alckmin e Ciro Gomes.

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