quarta-feira, 9 de maio de 2018

Bruno Boghossian: Saída de Barbosa zera jogo e dá fôlego a Alckmin, Marina e Ciro

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- Folha de S. Paulo

Desistência provocará recuo nas articulações partidárias para as eleições

A decisão de Joaquim Barbosa de não disputar as eleições zera o jogo da corrida presidencial. O impacto de sua desistência é vasto e produzirá efeitos sobre as campanhas de Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT).

A filiação de Barbosa ao PSB, em abril, incluiu na disputa um personagem com capacidade de abraçar uma escala ampla de eleitores, atraindo segmentos tradicionalmente alinhados tanto aos tucanos quanto aos petistas. Suas chances de chegar ao segundo turno eram significativas.

A saída do ministro aposentado do STF (Supremo Tribunal Federal) da disputa provocará uma reacomodação desses votos e, principalmente, um recuo nas articulações partidárias para as eleições.

A desistência representa um alívio para o grupo de Geraldo Alckmin, que enxergava Barbosa como obstáculo no chamado centro do espectro político. O ex-presidente do STF começava a ocupar um eleitorado-alvo do PSDB: grandes cidades, renda mais alta e educação superior.

O congestionamento provocado pela entrada de Barbosa foi o que determinou a precipitação dos esforços pela unificação desse centro —exemplificada pela aproximação entre Alckmin e o presidente Michel Temer (MDB).

Os tucanos queriam evitar ou adiar qualquer articulação de uma aliança com o MDB, devido ao desgaste sofrido pelo partido do presidente, mas a multiplicação de adversários competitivos e a crescente chance de derrota os levou a antecipar esse movimento.

A saída de Barbosa deve dar algum fôlego a Alckmin nas pesquisas. Ainda que seu crescimento seja residual, qualquer solavanco pode ser suficiente para que ele se torne um polo de atração de alianças. Nesse caso, convém ao PSDB recuar duas casas nas conversas com Temer e esperar a reorganização do tabuleiro.

MARINA, CIRO E PT
A desistência do ex-presidente do STF também retira das urnas um candidato que absorveria parte de um eleitorado sem alinhamento ideológico nítido, mas insatisfeito com a corrupção e com a classe política tradicional.

É natural que Marina Silva seja uma das principais herdeiras desse estoque de votos. Ainda que a ex-senadora tenha dado seguidas declarações contrárias a uma aliança com Barbosa nesta eleição, os dois têm uma série de interlocutores comuns, como o ministro aposentado do STF Carlos Ayres Britto.

À esquerda, a desistência de Barbosa devolve à arena eleitoral o PSB, que tem uma fatia de 45 segundos em cada bloco de propaganda de TV —tempo considerado razoável na nova formatação das campanhas.

No processo de articulação com o ex-presidente do Supremo, a cúpula do partido deu demonstrações incisivas de que a linha-mestra da sigla é uma plataforma de centro-esquerda.

Uma ala da direção do PSB já declarou apreço pela candidatura de Ciro Gomes e, embora haja uma ligação íntima com o ex-presidente Lula, esse grupo se esforça para reduzir a associação da sigla com o PT.

A volta do PSB ao jogo como uma peça solteira também levará a rearranjos regionais. Sem Barbosa, os candidatos da legenda nos estados do Nordeste terão caminho livre para formar alianças com petistas, mesmo que a cúpula do partido queira seguir outros caminhos.

Pressionado por seus próprios dirigentes em direções diversas, o PSB pode até se declarar neutro na eleição presidencial, e liberar cada diretório local para agir como bem entender. O governador paulista Márcio França, age nesse sentido. Ele precisa do apoio de Geraldo Alckmin em São Paulo, mas sabe que não terá força para levar a sigla a fechar uma aliança nacional com o tucano.

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