sexta-feira, 25 de maio de 2018

Movimento teve apoio de políticos e empresários para cortar imposto

Líderes reconhecem não ter controle total da ação dos caminhoneiros

Geralda Doca e Bruno Rosa | O Globo

-BRASÍLIA E RIO- A falta de uma liderança nacional dos caminhoneiros — que promoveram uma paralisação nacional desde segunda-feira — dificultou uma solução rápida para o problema. O movimento teve apoio de empresários do setor do transporte e de alguns parlamentares, mas está fragmentado entre diversas associações. O perfil de transporte feito quase que totalmente por rodovias no país é o que dá força à movimentação, disse um representante do setor.

Segundo os dirigentes das entidades, o movimento não tem ligações políticas, mas eles mantêm interlocuções no Congresso, com o deputados como Nelson Marquezelli (PTB-SP) — que foi relator da Lei dos Caminhoneiros —, Valdir Colatto (MDB-SC) e Assis Couto (PDT-RS).

Na quarta-feira, depois da reunião no Planalto, alguns líderes da paralisação fizeram uma investida no Congresso e conseguiram emplacar o fim do PIS/Cofins no projeto da reoneração da folha de salários, votado pela Câmara, apesar dos apelos do governo.

Dez entidades representativas participaram da reunião na quarta-feira no Palácio do Planalto para discutir soluções para a crise. O movimento ganhou a adesão dos empresários do setor de transporte e da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), que representa cerca de 200 mil empresas e dois milhões de caminhoneiros autônomos e taxistas, que estão reunidos em 37 federações, cinco sindicatos nacionais e 19 associações, como a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam).

O presidente da CNT, Bruno Batista, disse, antes de o acordo ter sido anunciado pelo governo na noite de ontem, que o que a estatal fez até o momento, de congelar o preço por 15 dias, ainda é muito pouco:

— O que foi feito é pouco. É preciso um equilíbrio por parte da Petrobras. A estatal precisa de um compromisso maior com o crescimento do país. O anúncio da Petrobras foi intempestivo. Estamos acompanhando o movimento de greve, mas não estamos participando. Agora, o foco maior do debate está na necessidade de redução de impostos federais, como PIS/Cofins e Cide, e o ICMS, no nível estadual. Os impostos têm um peso grande no preço do diesel.

SINDICALISTAS ADMITEM EXCESSOS
Os líderes que estão respondendo pela paralisação, da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno, e da Abcam, José da Fonseca Lopes, admitiram não ter o controle dos filiados. Por isso, alguns excessos foram cometidos, como bloqueio de alguns pontos nas estradas, impedimento de passagem de caminhões com produtos perecíveis e carga viva. A ordem da direção é que os protestos sejam pacíficos.

A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos diz somar cerca de um milhão de caminhoneiros autônomos, que seriam 70% do total. Ela representa 120 entidades entre associações, federações e sindicatos em todo o país. Já a Abcam representa um grupo de cerca de 600 mil. Muitos caminhoneiros autônomos, no entanto, agem por conta própria e por isso, há dificuldades de acabar com greve.

O setor de transportes tem duas categorias de caminhoneiros: os autônomos e os que são funcionários de empresas. Indústrias, cooperativas, rede de supermercados e diversos outros setores da produção têm motoristas próprios, contratados com carteira assinada, ou então contratam empresas de transporte de carga, que, por sua vez, contratam os motoristas autônomos.

Em geral, segundo fontes do setor, os autônomos respondem por cerca de 40% da frota das empresas de transporte de carga, dependendo do setor. De acordo com redes de varejo, as empresas de transporte fazem o carregamento de produtos de matérias-primas até as centrais de distribuição. Depois, o trajeto até as lojas é feito ou pela própria rede ou por outras distribuidoras.

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