sexta-feira, 18 de maio de 2018

Vinicius Torres Freire: O dólar e todos contra o governo

- Folha de S. Paulo

BC causa ira e confusão no mercado; dólar caro piora imagem política de governistas

O povo dos mercados teve alguns prejuízos, precisou rever onde coloca seu dinheiro e ficou desnorteado com a decisão do Banco Central de não mexer na taxa de juros, o que causou viva irritação na praça.

O revertério do BC explica o tumulto desta quinta-feira (17) nos negócios. Como de costume, porém, um dia apenas não permite saber qual o novo tom do mercado, se é que a banda vai tocar mesmo de outro modo. As notícias econômicas dos últimos dias talvez tenham mais importância para a política eleitoral.

Um primeiro motivo do tumulto foi uma rearrumação da casa da finança. Como o BC decidiu manter a Selic em 6,5% ao ano, contrariando expectativa quase geral, teve gente que amanheceu comprando ou vendendo dinheiro a preço errado, digamos, levando prejuízo. Uma perda relevante aqui costuma demandar compensações ali, vendas de certos ativos. Uma reação em cadeia, grosso modo.

Segundo, além de recomposição das aplicações, a decisão do Banco Central provocou incerteza e, assim, levou gente para a retranca. Sejam as dúvidas boas ou não, investidores e negociantes de dinheiro passaram a perguntar:

1) O BC está vendo mais risco de a alta do dólar chegar à inflação, mais do que se imaginava?

2) O mero aumento do risco de que o dólar afete a inflação pode agora ter mais impacto nos juros, mesmo que as expectativas de inflação continuem comportadas?

3) Em que medida os movimentos de taxas de juros estarão mais dependentes da taxa de câmbio, do "preço do dólar"?

4) É possível que o BC volte a elevar os juros antes do ano que vem, talvez já em outubro?

Era o que se ouvia ontem pela praça do mercado. Figuras mais graúdas ou menos ligadas à operação financeira cotidiana pareciam menos nervosas. Isto é, bem menos propensas a ver mudanças significativas e de curto prazo na taxa básica de juros e na atividade econômica devidas ao tumulto do dólar e à pequena reviravolta do BC.

Na dúvida, quem estava na linha de frente vendeu ou foi mais agressivo. Ações, que estavam a bom preço e, em especial, as mais vendáveis (líquidas), foram à liquidação, como Petrobras e bancos.

Até agora comportadas neste paniquito, as taxas de juros deram um pulo como não o faziam desde o Joesley Day, faz um ano, o dia em que repercutiu no mercado a notícia do grampo de Michel Temer. O ajuste, embora grande, em boa parte apenas compensou as apostas (sic) baseadas na crença de que o BC cortaria a Selic em mais 0,25 ponto.

Até terça-feira (29), quando o BC publicará sua exposição de motivos, não será possível saber direito se vai haver mexida maior nos juros, em especial nos de prazo mais longo.

É preciso que a poeira assente. Mesmo o pessoal do dinheiro está desnorteado.

POLÍTICA
Tenha ou não efeitos mais significativos sobre o destino das taxas de juros e sobre a atividade econômica, a corrida do dólar a R$ 3,70 vai contribuir para a desmoralização de governistas e associados. O preço do dólar é um termômetro com efeito psicológico considerável, mesmo que apenas esteja a indicar uns dias de frio excepcional e passageiro no verão.

O dólar caro impressiona ainda mais nestes dias de frustração com a economia real, que se levantara da cama no fim de 2017 e desmaiou neste primeiro terço de 2018.

O governismo está ainda mais morto, politicamente. Agora é saber para onde e como vão debandar, o MDB em particular.

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