segunda-feira, 18 de junho de 2018

Conserto dos danos: Editorial | O Globo

O fracasso do populismo no continente abre espaço para outras alianças na região e fora dela

O ciclo de nacional-populismo por que passa mais uma vez a América Latina está no fim, e países da região que foram contaminados por esta praga ideológica tratam, sob novos governos, de reparar danos, para recuperar empregos e renda perdidos devido a clássicas políticas demagógicas — subsídios sem critérios técnicos rígidos, aumentos salariais concedidos acima do avanço da produtividade, tudo resultando em inflação, entre outros males. Brasil e Argentina são os maiores exemplos, passados o lulopetismo e o kirchnerismo.

Também enfrentam mudanças instituições multilaterais que o bolivarianismo chavista, o kirchnerismo e o lulopetismo, braços do populismo, instrumentalizaram para executar um projeto retrógrado de articulação continental.

A mais importante delas, o Mercosul, bloco geopolítico e comercial, pôde expulsar a Venezuela com a ascensão de Macri e Temer, na Argentina e no Brasil. Nunca fizera sentido, do ponto de vista formal, a Venezuela ter sido aceita no grupo. Primeiro, porque infringia a cláusula democrática do Mersosul, pela qual regimes autoritários não podem participar deste mercado, em que há preferências tarifárias entre seus membros.

Além disso, a ideologia nacional-populista do bolivarianismo sempre foi contrária ao livre comércio, ao intercâmbio com o exterior. Ao contrário, a visão de economia do regime chavista sempre foi cartorial, de controles excessivos exercidos pelo Estado. E foi assim que a Venezuela que Maduro herdou de Chávez entrou em crise terminal, com a desarticulação do sistema produtivo a partir do estrangulamento do setor privado. Não escapou sequer a PDVSA, estatal petrolífera, assentada sobre uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Desmantelada por perseguições políticas e outros desmandos do governo, a empresa não tem sequer conseguido aumentar a produção de petróleo, para o país se beneficiar de um novo ciclo de alta mundial da cotação do barril.

É um avanço o Mercosul poder executar seus estatutos sem empecilhos decorrentes de simpatias ideológicas deletérias do Brasil lulopetista e da Argentina kirchnerista. Passa a ser uma possibilidade concreta o bloco ampliar o número de acordos bilaterais de comércio, pela inexistência neles de visões protecionistas e xenófobas da economia.

Isto será de grande importância para o Mercosul, diante do avanço do protecionismo dos Estados Unidos. Porque, enquanto Trump procura fechar os EUA ao mundo, surgem oportunidades de aproximações dentro da América Latina (entre Mercosul e a Aliança do Pacífico, por exemplo), assim como fora do continente. Inevitável, ainda, além do arejamento do Mercosul, que haja o esvaziamento da Unasul, organismo criado para servir de base ao projeto geopolítico de distanciamento dos EUA e das grandes economias capitalistas. Fadado ao fracasso, como comprovado.

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