sexta-feira, 22 de junho de 2018

Corte à esquerda e à direita pode deixar Ciro isolado e sem apoios

Por Raymundo Costa | Valor Econômico

BRASÍLIA - O pré-candidato do PDT ao Palácio do Planalto, Ciro Gomes, pode acabar isolado em sua terceira tentativa de chegar à Presidência da República. Ciro tem cortejado ora a esquerda ora a direita, mas não são as questões programáticas que podem deixá-lo sozinho. Na prática, o charme do pedetista para ampliar apoios se reduziu drasticamente no momento em que o PT sinalizou que terá candidato próprio nas eleições de outubro.

A crença generalizada entre os dirigentes partidários é que Ciro somente terá condições de vencer a eleição se tiver o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa não é uma hipótese inteiramente descartada no PT, mas perdeu força no momento em que as pesquisas eleitorais indicaram que um nome do PT com o apoio de Lula pode rapidamente sair de 3,5%, 4% para 11% nas pesquisas eleitorais. E o candidato a vice dos sonhos de Lula é o empresário Josué Gomes (PR), filho de José Alencar, seu companheiro de chapa em 2002.

Ciro namorar ora à esquerda, ora à direita não chega a constituir problema, sobretudo em partidos pragmáticos como DEM, PRB, PP e SD. Lula fez a mesma coisa em 2002, ao atrair o então Partido Liberal, hoje PR, para a aliança vitoriosa naquela eleição. Mas há problemas de difícil superação por onde o pré-candidato pedetista passa. Ou não passa. À esquerda, o PCdoB avalia que "tem alguém enganando alguém", quando Ciro diz que, antes de fazer um acordo à direita, quer dar estatura "moral e intelectual" à chapa, num acordo com os comunistas e o PSB. Ninguém falou com o PCdoB.

O PSB também tem em Ciro Gomes uma alternativa ao Planalto. Acontece que o partido está sendo literalmente amassado por Lula para ceder a uma aliança com o PT. Ciro tentou atrair os socialistas por meio de governadores e petistas de expressão do Nordeste. Quando soube da articulação, Lula mandou o PT sair de cena. Com o PSB de Pernambuco - que é quem dá das cartas na sigla - passando por dificuldades, Lula pressiona o partido a apoiar o PT à Presidência - em troca retira a candidatura da vereadora Marília Arraes ao governo do Estado.


Cada vez mais bem posicionada nas pesquisas, Marília pode dividir a esquerda pernambucana e tirar o governador Paulo Câmara do segundo turno da eleição. O PSB, em princípio, quer fazer acordos regionais e ficar livre para apoiar quem quiser em nível nacional. Mas Lula joga duro com o PSB, um partido hoje rachado e com preferências variadas. Em São Paulo, por exemplo, o governador Márcio França está liberado para subir no palanque de Geraldo Alckmin (PSDB).

O pré-candidato do PDT tem apoios no DEM, partido que ganhou capital político para sentar à mesa da sucessão, graças à espuma feita pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em torno de uma pré-candidatura que sabe ter de retirar mais adiante. Mas também tem alas que defendem uma aliança com Jair Bolsonaro - o que provavelmente viabilizaria de vez a candidatura do PSL -, com Alvaro Dias (Podemos) e Geraldo Alckmin. O candidato do PSDB, mesmo em baixa nas pesquisas, tem a preferência de uma ligeira maioria.

A velha guarda do DEM entende que o partido está demorando para se definir. A sigla já fechou um acordo onde mais interessa (a vice de João Doria em São Paulo), mas corre o risco de perder a vice-presidência na chapa de Alckmin. A jovem guarda que hoje manda no partido - leia-se Rodrigo Maia e o prefeito de Salvador, ACM Neto - parecem dispostos a vender mais caro e arrancar mais concessões para apoiar Alckmin, como um compromisso para a reeleição de Maia a presidente da Câmara.

As exigências que DEM, PP, PRB e SD fazem para apoiar Ciro em nada ajudam uma candidatura hoje no limbo. Se aceitá-las, Ciro entra na disputa com o cabresto do Centrão. E sem a "hegemonia moral e intelectual" que disse buscar à esquerda para justificar a aliança.

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