segunda-feira, 4 de junho de 2018

Mercado de crédito cresce com bases mais sustentáveis: Editorial | Valor Econômico

O mercado de crédito dá os primeiros sinais de que está entrando em uma trajetória de recuperação. Embora incipiente, lento e muito frágil, o ciclo atual de expansão é sustentado em bases mais sólidas do que os anteriores. Os empréstimos direcionados, com juros definidos pelo governo, dão lugar ao crédito livre, e os bancos públicos caminham para perder protagonismo para os privados.

Nos 12 meses terminados em abril, o conjunto das carteiras de crédito do sistema financeiro cresceu 0,6%, segundo dados divulgados na semana passada pelo Banco Central. O crescimento segue modesto, inferior à inflação apurada no período, de 2,76%, o que significa que o estoque de crédito da economia continua se contraindo em termos reais. De qualquer forma, é o segundo mês seguido de expansão nominal, depois da retração observada em 2017.

O Banco Central projeta uma alta de 3,5% do crédito neste ano. A concretização desse prognóstico depende do fortalecimento adicional da confiança de bancos, empresas e indivíduos - que pode ter sido abalada pelo choque externo causado pela perspectiva de alta de juros nos Estados Unidos, pelos dados mais fracos de atividade econômica e pela paralisação dos caminhoneiros.

Apesar das incertezas sobre a continuidade do ciclo de expansão de crédito, é certo que hoje ele ocorre em bases mais equilibradas. No primeiro quadrimestre, o crédito livre registra uma expansão de 1%, enquanto que o crédito direcionado encolhe 1,2% no período. A contração dos empréstimos direcionados se concentra nas operações com empresas, que registra queda de 4% no primeiro trimestre, ao passo que há um aumento no estoque de crédito a pessoas físicas.

O crédito direcionado a empresas vem recuando há dois anos devido à redução da carteira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em parte, é um reflexo da baixa demanda por financiamentos, em uma economia que opera com alta capacidade ociosa, quando as empresas costumam investir menos. Neste ano, começou a ser colocada em operação a Taxa de Longo Prazo (TLP), que elimina subsídios implícitos concedidos nos financiamentos.

A queda nos juros básicos da economia, hoje em 6,5% ao ano, tem encorajado empresas a tomarem financiamentos nos mercados de capitais, com o lançamento de papéis como debêntures e ações. No caso das pessoas físicas, o crédito direcionado continua a crescer com a ajuda da renúncia de Imposto de Renda nas captações prevista nas regras do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE).

Outra tendência importante é a queda na presença dos bancos públicos no crédito. Essas instituições oficiais ainda são líderes, com uma participação de mercado de 53%, mas suas carteiras registram queda nominal há dez meses. No governo Dilma Rousseff, os bancos comerciais federais haviam cortado os juros e colocado o pé no acelerador para forçar maior competição no mercado de crédito. Essa estratégia, junto com a distribuição insustentável de dividendos ao Tesouro Nacional, fragilizou a base de capital das instituições oficiais. Agora, elas passam por um período de ajuste forçado, reduzindo as carteiras e elevando as taxas de juros.

Em meio à grave recessão que atingiu a economia até 2016, os bancos privados demoraram a ofertar crédito. Com a gradual recuperação da atividade e a queda da inadimplência a percentuais historicamente baixos - 3,3% em abril - voltaram ao mercado. Os bancos privados com capital nacional apresentam expansão de quase 5% nas suas carteiras no período de 12 meses até abril. Pela primeira vez, o estoque de empréstimos dessas instituições superou R$ 1 trilhão. As carteiras dos bancos estrangeiros aumentaram 9,2% no período.

Reduzir a presença do governo e modular o volume de subsídios concedidos nos empréstimos é um passo importante porque tira os anabolizantes que sustentavam de forma artificial esse mercado. Será necessário mais, porém, para garantir o seu bom funcionamento. Os juros e os spreads bancários seguem entre os maiores do mundo. É necessário insistir na agenda de reformas microeconômicas para reduzir os riscos de inadimplência e estimular a competição entre as instituições financeiras.

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