segunda-feira, 4 de junho de 2018

Na Bahia, petista tenta reeleição contra 'órfãos' de ACM Neto

Governador Rui Costa enfrentará um campo oposicionista fragmentado em três pré-candidaturas

Yuri Silva / O Estado de S.Paulo

SALVADOR - A eleição deste ano na Bahia já está marcada pela frustração de uma disputa que vinha se desenhando havia pelo menos dois anos entre o governador Rui Costa (PT), que tentará a reeleição, e o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), principal liderança da oposição, que surpreendeu o ambiente político local, em abril, ao anunciar que não renunciaria ao mandato para concorrer ao Palácio de Ondina. Com a desistência de Neto, Rui enfrentará um campo oposicionista fragmentado em três pré-candidaturas, formado por "órfãos" do prefeito.

A campanha de Rui carrega não somente a responsabilidade de se manter à frente, por mais quatro anos, do maior dos três Estados administrados hoje por petistas, mas também de garantir um palanque forte ao PT no maior colégio eleitoral no Nordeste, região em que o partido tem mais força.

Para impedir o que seria a quarta vitória consecutiva do PT no Estado, os partidos de oposição a Rui agora trabalham pela unificação da "centro-direita". O principal gesto nesse sentido foi a desistência do deputado federal João Gualberto (PSDB) para apoiar a pré-candidatura de José Ronaldo (DEM), ex-prefeito de Feira de Santana, segundo maior colégio eleitoral do Estado. A negociação, que teve participação ativa do ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência, garantiu um palanque regional ao tucano paulista.

O principal problema para os opositores do PT na Bahia, contudo, é o MDB - que no Estado é controlado pelos irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima. Após os problemas da dupla com a Lava Jato, o maior partido do grupo oposicionista tem sido isolado pelos aliados. Ambos são réus por lavagem de dinheiro e associação criminosa no caso do "bunker" de R$ 51 milhões, e Geddel está preso desde setembro do ano passado.

O MDB lançou o ex-ministro da Integração Nacional João Santana ao governo baiano. Ligado a Geddel, a quem substituiu no ministério, Santana participará de sua primeira campanha política.

De um partido cobiçado por ter a maior bancada no Congresso e, portanto, maior fatia do horário eleitoral de rádio e TV e do Fundo Partidário, o MDB passou a ser considerado por aliados um pesado fardo a ser carregado, sobretudo após a apreensão dos R$ 51 milhões.
Esse foi o principal motivo para a desistência da candidatura de ACM Neto, segundo apurou o Estado com fontes próximas ao democrata. Após fracassar na tentativa de "higienizar moralmente" o MDB, quando propôs a transferência do deputado federal Lúcio Vieira Lima para um partido nanico, ACM Neto se recusou a ter sua imagem associada ao MDB baiano - que tem no deputado sua figura mais visível.

Na avaliação de um interlocutor de Neto, sem o MDB na chapa, o tempo de TV e o fundo partidário para a campanha do prefeito seriam pequenos, o que tornaria mais difícil enfrentar o PT com um governador bem avaliado e com a máquina na mão.

Conversas
Ainda que provoquem divergências no grupo, as negociações com o MDB não foram descartadas. O pré-candidato José Ronaldo é um dos que estão dispostos a conversar com João Santana. Questionado se conversaria com Lúcio, que controla o MDB na Bahia, no entanto, Ronaldo disse apenas que "o candidato é o João Santana." Antigos aliados de Lúcio avaliam hoje que a candidatura de Santana é uma forma de barganhar a reeleição do deputado federal.

“Do mesmo jeito que o prefeito ACM Neto já disse que não gostaria de ter o MDB na chapa, caso fosse ele o candidato, eu também abriria mão do apoio do MDB, caso o candidato fosse eu. Mas cabe ao conjunto de partidos avaliar e definir”, afirmou o vice-prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM).

Tabu
Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o cientista político Paulo Fábio Dantas lembrou que o governo Rui Costa terá de enfrentar uma estatística que o desfavorece. Desde 1958, quando Juracy Magalhães se elegeu governador da Bahia fazendo oposição a Juscelino Kubitschek, o governo eleito pelo Estado tem o apoio do presidente em exercício.

Foi assim em 1982, 1986, 1990, 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014. “Talvez o governador Rui Costa quebre esse paradigma, mas a situação nacional sempre é muito influente na eleição da Bahia”, destacou o cientista político, ressaltando que a incerteza da conjuntura política atual “lança nuvens sobre qualquer conjectura”.

Para Dantas, se nada mudar, o resultado das eleições estaduais deve levar a uma polarização futura entre as forças de ACM Neto e do senador Otto Alencar (PSD) - que tem conquistado poder no governo em detrimento do próprio PT. “Será curioso se o desfecho for esse, porque são essas duas alas do antigo carlismo”.

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