quarta-feira, 20 de junho de 2018

Padrão colonial no setor de petróleo: Editorial | O Globo

A produção cresce, faz o país passar o Kuwait, mas os desmandos ocorridos na Petrobras forçam a exportação da matéria-prima e a importação de combustíveis

A rara conjugação de intervencionismo estatal, dirigismo, incompetência e corrupção constrói, no setor de petróleo, uma situação clássica de país subdesenvolvido. Ou seja, embora chegue à posição de nono maior produtor de petróleo do mundo, com 3,2 milhões de barris diários, o Brasil deverá ser um dos cinco maiores importadores de combustíveis. Exporta matéria-prima, importa o produto manufaturado, como nos sistemas coloniais.

Por paradoxal que seja, as políticas que resultaram neste quadro degradante foram acompanhadas, nos governos Lula e Dilma, por bravatas nacionalistas e brados de independência em relação ao “imperialismo” e ao mundo. Não deu certo, aconteceu o contrário.

Era previsível. Sabia-se, desde que começaram as descobertas de reservas na camada do pré-sal, principalmente nas costas paulista e fluminense, que a Petrobras aumentaria bastante a produção. Tornou-se óbvio que o parque de refino precisaria ser ampliado.

Não que todo o petróleo produzido tenha de ser refinado no próprio país. A depender do seu tipo, deve-se exportá-lo. Há estratégias de combinação de exportações e importações de óleo, a depender do seu tipo e da adequação técnica do parque de refino. Mas o estatismo dirigista que tomou conta da Petrobras, paralelamente à corrupção sistêmica, com Lula e Dilma, impediu a definição e execução de um programa estratégico eficiente para o processamento do óleo do pré-sal.

O projeto ambicioso de substituição de importações de equipamentos ligados à exploração de petróleo, inclusive navios, e a definição de projetos de refinarias feitos sob medida a fim de gerar comissões para o lulismo e aliados explodiram o endividamento da estatal, e sem nenhum resultado positivo. A Petrobras chegou a ter a maior dívida corporativa do planeta, equivalente a meio trilhão de reais.

Duas refinarias, para Maranhão e Ceará, locais escolhidos para Lula afagar aliados políticos, ficaram na terraplenagem, e mesmo assim consumiram centenas de milhões de reais. Já a Abreu e Lima, em Pernambuco, só parte dela produz, e, mesmo que seja concluída, jamais se pagará, tamanho o superfaturamento praticado na obra. Há, ainda, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), um repeteco do projeto da Abreu e Lima. Impagável.

É por isso que a produção cresce, o Brasil acaba de passar o Kuwait, país membro da Opep, mas não há capacidade instalada para refinar o volume crescente deste petróleo. Ainda muito endividada, a estatal precisa de parceiros privados no refino, única alternativa sensata para ampliar/modernizar seu parque de refinarias.

Mas, neste momento, vem o congelamento do preço do diesel, solução populista para tentar enfrentar a greve de caminhoneiros. O resultado é espantar investidores em potencial no refino. Mais um desafio para o próximo presidente.

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