quarta-feira, 6 de junho de 2018

Rosângela Bittar: As cartas são essas e o jogo não tem curinga

- Valor Econômico

É impossível fazer hoje prognóstico honesto para eleição

Levando-se em conta que o presidente da República pode ser preso dentro de seis meses, que um ex-presidente é presidiário, e que uma ex-presidente e dois outros ex-presidentes estão implicados em inquéritos e processos correntes, todos pelas mesmas razões, não é de se estranhar que o Brasil tenha, no rol de candidatos a presidente que está oferecendo ao eleitorado, os nomes que aí estão. A fábrica dessa geração de políticos, digamos sem abuso da generalidade, pois há exceções, produziu essas espécimes que todos já sabem como são.

Não é de repente que, saindo do buraco onde se encontra, o país encontrará o paraíso. Candidatos intelectualmente preparados, probos, nobres, inteligentes e justos, constituem uma demanda sem oferta.

Não há luz no fim desse túnel de outubro? Há, a luz de um trem que vem em direção contrária, em sua direção. A velha piada foi resgatada por um pessimista inveterado. Contando com a sorte, o imponderável e o acaso, o otimista, na sua vez, diz esperar que alguém diferente ainda apareça, ou que a disputa pelos que atualmente constam das enquetes se eleve a partir da formação da candidatura, com seu lastro. Ou seja, com ajuda, os pecadores se converterão em suas sombras puras.

Essas preocupações, em pleno junho, faltando três meses para a escolha compulsória, são graves e denotam a existência de uma maioria abúlica.

O sociólogo e cientista político Antonio Lavareda é um dos otimistas. A seu ver, o quadro vai desembaralhar. "Isso não significa prosperar numa boa direção, mas essas coisas vão se afunilando a partir de um determinado momento". Que todos, o professor e os candidatos, localizam no início da campanha na TV e no rádio.

"Define-se aí umas cinco candidaturas competitivas", afirma Lavareda. O que é tecnicamente uma candidatura competitiva? A seu ver, é a candidatura que passa dos dois dígitos, 10% em diante.

Mas ainda assim a campanha será uma coisa embaralhada, nervosa, prevê. "Essa eleição vai ter essa característica, não adianta esperar o contrário".

O segundo turno se definirá, segundo diz, "no olho mecânico". Mais ou menos o que aconteceu em 1989, quando Lula passou para o segundo turno com apenas 0,6% em distância de Brizola.

E ainda há o que ele chama de ponto de corte, também semelhante a 1989: "O ponto de corte pode ficar em torno dos 17 pontos". Portanto, esse seria o percentual necessário a passar para o segundo turno. "Dois candidatos que ultrapassem 17%, nessa hipótese de eleição muito fragmentada, podem estar no segundo turno".

Há sempre os agravantes da situação difícil mas ainda não impossível. Da mesma forma que a greve dos caminhoneiros agravou a situação do governo Temer, algo pode atropelar mais ainda as eleições.

Portanto, os candidatos são esses e podem mudar de lugar no ranking, mas sempre entre eles, ou chegando um novo nome mas nascido de suas costelas.

Assim, está o eleitor, hoje, diante de Jair Bolsonaro, Marina Silva, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin. E um candidato a ser apontado por Lula.

Nas pesquisas recentes, quando se coloca o nome de Fernando Haddad, sua performance vai a 2% ou 3%. Quando a pergunta atribui a ele a condição de indicado por Lula, cresce para 11%, chegando à categoria dos competitivos. São esses quatro e mais o indicado por Lula os competitivos definidos faltando três meses para a abertura das urnas, sem ter ainda começado a propaganda eleitoral de TV.

João Amoêdo e Alvaro Dias estão crescendo, argumenta-se. "Estão crescendo, mas partem de um patamar baixo, portanto só têm a crescer mesmo. Quando o candidato tem 1%, tem muita dificuldade para cair e muita facilidade para subir", diz, ironizando a quantidade de candidatos nessa faixa que o ranking mostra atualmente.

A quem lhe pede prognóstico sobre um segundo turno entre esses ases e um coringa lulista, Lavareda dá sua opinião: "É absolutamente difícil, senão impossível, você hoje fazer um prognóstico honesto sobre quem vai estar ou não no segundo turno".

Com a campanha e a propaganda na TV, mais os debates, as alianças, o esforço para se tornar conhecido, os candidatos, ora um ora outro, irão se destacar, tal qual uma corrida de cavalos. É o momento em que aparece o voto estratégico, o voto em um só para derrotar o outro, evitar que passe ao segundo turno.

O segundo turno afeta o primeiro tanto quanto vice-versa. Mas uma situação parece inabalável. A disputa está entre esses que aí estão.

E que não souberam agir no momento da greve dos caminhoneiros, um evento sobre o qual disseram generalidades e que só não prejudicou mais o governo, porque é difícil prejudicá-lo mais do que já está. Mas os candidatos, sim, ficaram em cima do muro, que é lugar confortável. Se isso acontecesse a uns 15 dias da eleição, e não numa distância de três meses, os políticos poderiam esperar, com certeza, uma chuva de votos em branco e nulos, ou abstenções, já que se é obrigado a escolher alguém. Uma prova de nosso atraso.

E como, na previsão de Lavareda, não deve surgir ninguém que já não esteja no jogo, configura-se aí dilema, a angústia e a preocupação do eleitorado, que se colhe por todos os ambientes do país.

Lanternas
Pesquisa divulgada ontem pelo site "Poder 360", uma das duas únicas a sair esta semana do pós-greve de caminhoneiros (a outra, da XP, será divulgada na sexta-feira), mostra Manuela d'Ávila, candidata do PCdoB, com o dobro das intenções de voto em Henrique Meirelles, Rodrigo Maia, Fernando Collor e Flávio Rocha, todos com 1%. Abaixo desses ainda estão, com zero, Guilherme Boulos, Afif Domingos, João Amoêdo e Paulo Rabello de Castro. Todos devem subir, pelo menos um pouquinho, porque abaixo do que se encontram não é possível.

Do primeiro ao quinto lugares estão os chamados candidatos competitivos.

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