sábado, 2 de junho de 2018

Saída de Parente escancara fragilidade de política econômica do governo

Subsídio cedido aos caminhoneiros pode prejudicar o caixa da Petrobras

Natália Portinari | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Desde maio do ano passado, quando foram divulgados os áudios de conversas com Joesley Batista e a base aliada no Congresso se retraiu, a agenda econômica do governo Temer tem sofrido sucessivos reveses ---dos quais a Petrobras tinha conseguido, até o momento, se esquivar.

“O governo sofreu um choque político terrível em maio de 2017 e não se recuperou”, diz o economista Samuel Pessôa, colunista da Folha. Desde então, bandeiras da gestão emedebista, como a reforma da Previdência e a privatização da Eletrobras, estão à margem por falta de apoio.

O pedido de demissão de Pedro Parente nesta sexta (1º) mostra que a estatal não estava tão blindada assim. Ruiu a política de preços impopular que, desde julho de 2017, permite que o custo dos combustíveis flutue de acordo com o mercado internacional.

“A saída [de Parente] é o ápice de um processo de deterioração da força política do governo”, diz a economista Ana Carla Abrão Costa. “A greve colocou o governo contra a parede e foram resgatadas práticas que o governo tinha vindo para mudar, como a interferência política na Petrobras, tabelamento de preços [como o do frete], ceder aos grupos de pressão.”

Durante a crise na última semana, o governo defendeu que a Agência Nacional de Petróleo (ANP), e não a Petrobras, determinaria o preço de referência do petróleo. O valor será a base para o cálculo da subvenção que será paga pelo governo à estatal pela redução do preço do diesel.

Na prática, isso significa que o subsídio cedido aos caminhoneiros pode prejudicar o caixa da Petrobras, o que não agradou Parente. “Com essas jogadas, o governo jogou fora o que foi feito nos últimos anos de gestão”, analisa Otto Nagami, professor de economia do Insper.

Na visão de Pessôa, a política de preços poderia ser suavizada para não impactar tanto o mercado interno, mas tem uma razão de ser. “Talvez não precise oscilar com a mesma frequência do mercado internacional, mas o preço no exterior tem que ser o grande balizador.”

Para o economista Alexandre Schwartsman, não faz sentido argumentar que, por ser monopolista, a empresa deva regular os preços com “sensibilidade social”, como disse Eunício Oliveira (MDB-CE), presidente do Senado, nesta sexta.

“A política de preços é justamente uma correção da distorção do fato de a Petrobras ser monopolista”, diz Alexandre Schwartsman. “Se ela segue o preço internacional, se comporta como um concorrente perfeito. Não precisa ter refinarias [de outras empresas] no país para corrigir o monopólio.”

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