sexta-feira, 27 de julho de 2018

Cristian Klein: Bolsonaro contra a história que se repete

- Valor Econômico

PSDB pode "salvar" PT e colocá-lo no segundo turno

O mundo deu muitas voltas para a formação do cenário à Presidência da República. Os partidos, diante do desencanto do eleitorado, flertaram com outsiders, supostos salvadores da pátria e radicais. Teve a onda JB (Joaquim Barbosa), duas marolas JD (João Doria e José Datena), ensaiou-se a JG (Josué Gomes) e esvaziou-se a LH (Luciano Huck). Tudo para culminar - nestes dias de convenções - num movimento que reforça o padrão de competição que vigora há mais de duas décadas no Brasil.

E no isolamento do líder das pesquisas na ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Sem coligação, Jair Bolsonaro (PSL), o deputado de extrema-direita, chega ao início da disputa para valer menor do que entrou na pré-campanha e com tendência ao declínio. As seguidas recusas de pessoas ou partidos (senador Magno Malta e PR; o inexpressivo PRP do general Heleno; e até a correligionária Janaína Paschoal, com quem já esperava formar a dupla Ja-Ja) mostram apenas parte da fragilidade e da dificuldade com que Jair terá que se acostumar para chegar ao segundo turno.

Em 2018, nada de repetir 1989, como se imaginou, em sua extrema pulverização de 22 candidaturas. Serão em torno de 15, dos quais dois terços nanicos eleitorais, incluindo o representante do governo e do MDB, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles. O apoio do Centrão - ou, mais apropriadamente, Blocão ou Direitão, pelo perfil ideológico das legendas que reúne - ao ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), oficializado nesta quinta-feira, deixou para trás, de uma só tacada, quatro pré-candidatos. Na hora da decisão, os partidos de estratégia tipicamente parlamentar abriram mão do Executivo para quem sempre liderou o campo na disputa majoritária à Presidência.

Com a adesão ao tucano, o Blocão dá condições para o PSDB decolar o voo de Alckmin. É muito tempo de TV, muita capilaridade nos cinco milhares de municípios e muita estrutura à disposição do ex-governador. Alckmin terá cerca de 42,5% dos 12 minutos e meio de propaganda em rádio e televisão, exibidos em dois blocos por dia, três vezes por semana (terça, quinta e sábado). No melhor cenário - com o PT sem alianças - seu programa eleitoral será 3,5 vezes maior do que o tradicional adversário. No pior cenário - com uma improvável coligação entre PT, PSB, PCdoB e Pros -, Alckmin ainda teria o dobro do tempo.

É muita vantagem, que se repete na quantidade de inserções de 30 segundos ou nas menos utilizadas de um minuto de duração. São os chamados "spots", que pegam o eleitor de surpresa durante a programação e têm sido cada vez mais voltados para a campanha negativa. Se partir, no primeiro momento, para o ataque a Bolsonaro - como é se de esperar, para conquistar o campo conservador - Alckmin terá em sua artilharia 60 inserções a cada dois dias de propaganda em rádio ou TV. O deputado contará com apenas um spot. No horário eleitoral, enquanto o tucano terá mais de cinco minutos, Bolsonaro mal terá tempo de dizer seu nome e pedir voto em estimados sete, oito segundos. Será metade dos 15 segundos de que dispunha o folclórico Enéas Carneiro (Prona) na campanha de 1989.

É o processo de demolição de Bolsonaro pela ampla aliança tucana que pode abrir espaço para o crescimento tanto de Alckmin quanto do candidato do PT. O PSDB pode "salvar" o maior rival e ajudar a colocá-lo no segundo turno do mesmo modo que o PT, ao desconstruir Marina Silva em 2014, colaborou indiretamente para a arrancada de Aécio Neves. Essa é apenas uma das maneiras com que os partidos que formam o duopólio nas eleições presidenciais desde 1994 se reforçam mutuamente.

Além de Bolsonaro, há, claro, Marina e Ciro Gomes, ambos igualmente com pouco tempo de TV e estrutura partidária. A situação da líder do Rede Sustentabilidade é quase tão ruim quanto a do ex-capitão e também terá menos segundos de propaganda do que Enéas em 1989. O candidato do PDT, caso feche aliança com o PSB, é quem representa uma ameaça maior ao PT no campo da esquerda, mas já demonstrou não ter se curado da incontinência verbal.
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A persistência do padrão de competição entre petistas e tucanos em seis das sete disputas ao Planalto desde a redemocratização é um dos fenômenos analisados no livro "25 anos de eleições presidenciais no Brasil", que será lançado na terça-feira, em Curitiba, durante encontro da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP). "O Bolsonaro vai ter o mesmo fim que outros potenciais candidatos que apareceram e sumiram - Huck, Barbosa etc - e tende a cair. A terceira via vai se pulverizar. Ainda que ele seja um deputado, isso mostra que a política é para profissionais, não para amadores", afirma Argelina Figueiredo, do Iesp/Uerj, organizadora do livro ao lado de Felipe Borba, professor da Unirio.

O volume reúne 12 capítulos com artigos escritos por 23 cientistas políticos e está dividido em duas partes. A primeira aponta as tendências e padrões das eleições presidenciais desde 1989. A segunda se dedica aos temas da campanha eleitoral, da opinião pública e do voto. Fatores de campanha costumam ser a origem de eventuais tropeços que podem levar um favorito a perder uma campanha, contrariando padrões e regularidades estabelecidas. Mas até nesse campo a eleição de 2018 pode ser marcada pelo reforço do status quo.

Borba lembra que a minirreforma eleitoral de 2015 representa uma das maiores mudanças em relação ao período de 1989-2014. A campanha, com 45 dias, ficou mais curta, assim como o tempo de propaganda no rádio e TV, que será de apenas 35 dias. O critério de distribuição do tempo de propaganda também mudou. A cota de um terço, que era dividido igualitariamente entre todas as candidaturas, passou a ser de 10%. "Isso favorece os partidos maiores, é uma força que congela ainda mais. Apesar das novas ferramentas, redes sociais, robôs, a TV ainda é o principal espaço onde o político vai conversar com o eleitor. A expectativa é que a polarização PT e PSDB acabe se reproduzindo", diz Borba.

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