sexta-feira, 27 de julho de 2018

Frente partidária pode induzir à polarização tradicional

Por Raymundo Costa | Valor Econômico

BRASÍLIA - A adesão do "Blocão", agora rebatizado de Centro Democrático, dá um novo ânimo à candidatura de Geraldo Alckmin ao Planalto e - no limite - pode reviver a polarização PT-PSDB das eleições presidenciais brasileiras, desde 1994, que já era dada por morta e enterrada. Ao todo, dez partidos vão compor a coligação do tucano, o que deve lhe assegurar um tempo de cerca de seis minutos no rádio e na televisão. O maior de todos os candidatos.

Alckmin tem quase 50% do tempo de televisão, mas poucos votos identificados nas pesquisas. O PT não tem tanto tempo de TV (um minuto e trinta e dois segundos, se não agregar outros partidos à esquerda), mas tem os votos de Lula, que giram em torno dos 30%. Cientistas políticos, em geral, acreditam que o ex-presidente da República detém o poder de transferir algo em torno dos 12% desses votos, em todo o país.

O saldo das negociações para a composição das alianças é altamente favorável ao tucano, mas traz embutido também pequenos e grandes revezes.

Primeiro a coluna positiva: Segundo levantamento da consultoria LCA a união dos dez partidos deve reforçar substancialmente o poder de força da candidatura do tucano - que já detém a maior fatia do tempo de rádio e TV - nos Estados e municípios.

Juntos, PSDB, PSD, PTB, PPS, PV, DEM, PP, PR, SD e PRB têm acesso a 50% dos recursos do fundo eleitoral, detêm 55% das prefeituras de todo o país, 53% das cadeiras da Câmara dos Deputados e 44% do Senado. Sem contar os sete ministérios que ocupam no governo Temer. Tudo conta, sobretudo se a eleição voltar a ser polarizada como foi nas últimas seis vezes - e muito acirrada, como foi em 2014. PT e PSDB só não disputaram o segundo turno da eleição de 1989.

Desde então, a chamada terceira via só chegou perto de passar para o segundo turno na eleição de 2002, com Anthony Garotinho, e a de 2014, liderada em grande parte por Marina Silva, a candidata que substituiu Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo durante a campanha eleitoral. Este ano, a terceira via tem mais opções: além da própria Marina (Rede Sustentabilidade), tem Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL), o candidato que lidera as pesquisas, quando o nome de Lula não é citado.

Na prática, o tamanho da aliança constituída por Alckmin pode tirá-lo da vexatória situação em que se encontra nas pesquisas, mas não lhe garante ir para o segundo turno e muito menos ganhar a eleição. Em 2014 o senador Aécio Neves fez uma coligação também com dez partidos, conseguiu a virada sobre Marina Silva (Rede) mas perdeu na chegada. Um péssimo sinal para Alckmin foi a recusa do empresário Josué Gomes para ser vice. No mínimo indica falta de fé do empresário na candidatura.

Outra pesquisa, esta da Arko Advice, revela que entre 2006 e 2014 o PT perdeu votos, o PSDB estagnou e a terceira via cresceu mais de 15% dos votos. Hoje a soma dos votos de Marina, Ciro e Bolsonaro somam muito mais que aqueles declarados ao eventual candidato de Lula e ao candidato do PSDB, os dois com menos de 10%. A fortaleza erguida por Alckmin, ao menos na teoria, teria poder de fogo suficiente para desidratar os três e restabelecer o status quo anterior.

Alckmin ganhou capital político com a adesão dos dez partidos, mas a reunião para formalizar a criação do Centro Democrático evidenciou a incrível dificuldade dos atuais políticos para mediar soluções, que afinal é a tarefa de quem se dispõe a disputar um cargo eletivo. A questão do candidato a vice é emblemática. Havia um acordo tácito em torno do nome de Josué, dublê de político e empresário. Sem Josué, a escolha do vice de Alckmin já se transformou numa batalha entre aliados. Dificuldade que desde já aponta para a complexidade que será a gerência de um Congresso atomizado. Prova-o o SD já querendo impor a recriação do imposto sindical.

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