segunda-feira, 16 de julho de 2018

Luiz Carlos Mendonça de Barros: O fim de um ciclo político no Brasil (2)

- Valor Econômico

O sentimento hoje é de muito pessimismo em relação ao futuro e de revolta para com o sistema de partidos

Na minha coluna do mês de junho refleti sobre o que chamei de " O fim de um ciclo político no Brasil" depois de quase trinta anos em que a polarização entre o PSDB e o PT serviu como referência para a sociedade. Disse ainda que, apesar das diferenças ideológicas entre estes partidos, a gestão da política econômica de curto prazo em grande parte deste período seguiu os parâmetros definidos nos anos FHC. Apenas em 2014 este equilíbrio foi rompido e a política econômica passou a seguir os marcos históricos do PT.

Foram quase 18 anos de manutenção de um soft econômico, com tintas de uma racionalidade liberal e uma visão neoclássica na condução dos principais instrumentos de gestão de curto prazo. A grande diferença entre estes dois períodos estava na questão do papel do Estado na economia e na condução de reformas estruturais no interior do tecido econômico. Outra divergência profunda era o papel do consumo das famílias e do investimento privado como motores de longo prazo em uma economia de mercado.

Para o governo Lula era o aumento do consumo que deveria abrir espaço para o investimento privado, como é a posição clássica da esquerda em sua história. E em seu governo este princípio foi levado a ferro e fogo, sendo o aumento real do salário mínimo seu principal instrumento de ação. Ajudado pelo discurso racional do Ministério da Fazenda e pela postura conservadora do Banco Central - em um período em que o boom dos preços das principais commodities produzidas no Brasil impulsionava nosso saldo comercial - o aumento dos salários funcionou com eficiência em função do ainda elevado hiato do produto.

O resultado desta combinação fortuita foi uma expansão da atividade econômica muito acima de nossa média histórica, como mostram as tabela abaixo.

Mas como sempre acontece com este tipo de modelo de desenvolvimento, a expansão do consumo chegou a seu limite e a bolha criada se esgotou. As pressões de curto prazo se tornaram insuportáveis e o modelo entrou em colapso. Entre 2015 e 2016 o PIB caiu quase 9% e a recém-eleita presidente Dilma pagou o preço de seu erro.

Um governo de transição assumiu o Palácio do Planalto e recolocou a gestão de curto prazo da economia nos moldes que haviam prevalecido nos anos Lula. Além disto tentou aprovar no Congresso uma agenda de reformas estruturais que trariam mudanças na luta contra os déficits das contas fiscais, tanto o de natureza estrutural como conjuntural. Mas as condições políticas que se seguiram às denúncias da JBS impediram o sucesso do governo Temer e vamos chegar às eleições de 2018 em um quadro econômico muito difícil.

A tabela 1 mostra a taxa média de crescimento do PIB nos períodos: 1996 a 2002, 2002 a 2014 e 1996 a 2018. Incorporei também à tabela uma projeção até 2022, usando os números de hoje dos principais analistas econômicos.

Considerando apenas o crescimento do consumo, os números desse período são os da tabela 2.

Estes números são terríveis pois mostram que em um período de 22 anos, entre a estabilização do Plano Real em 1996 e o fim do mandato do presidente Temer será de apenas 2,4 % ao ano, ou seja, pouco mais de 1% aa per capita. Se considerarmos a natureza injusta da distribuição de renda no Brasil, para grande parte da população o crescimento per capita é ainda menor.

Não por outra razão, o sentimento do brasileiro hoje é de muito pessimismo em relação ao futuro e de uma certa revolta para com o sistema de partidos, principalmente àqueles identificados com este período como são o PT e o PSDB. Além disto, existe uma grande descrença em relação à chamada agenda de reformas pois ela está claramente associada ao baixíssimo crescimento das duas últimas décadas.

Para mim o maior risco que corremos hoje é o retorno ao populismo econômico pois a sociedade vai pressionar o sistema político para a volta do crescimento. Como a hiperinflação foi vencida, não existe mais, como nas eleições de 1994, um mobilizador claro da opinião pública. Certamente este será substituído por promessas de volta do crescimento a qualquer preço, sem que se aprofunde as restrições estruturais que existem hoje. Sinceramente não vejo espaço prioritário para uma agenda de reformas e novos sacrifícios na curta campanha eleitoral que teremos nos próximos meses.

Infelizmente jogamos fora a oportunidade de implementar reformas necessárias para transformar o ciclo de crescimento conjuntural que se abriu para nós em um período mais longo e estável de melhoria de vida da população.

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Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é presidente do Conselho da Foton Brasil. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.

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