segunda-feira, 16 de julho de 2018

Opinião do dia: Luiz Sérgio Henriques*

De fato, a correção política, decorrente da mistura global de pessoas e culturas, pode ser instrumento valioso de convivência ou derivar para a reivindicação de identidades exclusivas, em permanente conflito. Fácil demais explorar essa fragilidade, apresentando um imaginário mundo hierarquicamente ordenado em termos de raça, gênero e classe, que liquidaria a diversidade e o próprio conflito. A dificuldade é compatibilizar a retórica autoritária própria de tal estratégia com a grande sociedade aberta, tolerante e pluralista, em torno da qual todos nos poderíamos reunir.

Organizar a política na forma de mitos tem sido uma característica moderna, exponenciada numa época, como a nossa, que parece requerê-los com fúria e intensidade. Podem até ser inevitáveis em certa medida, mas, sejam quais forem as ideologias envolvidas, abandonarmo-nos a eles de modo imprevidente significa abrir as portas para o fanatismo que hoje costuma ser metodicamente organizado.
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*Tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das ‘Obras’ de Gramsci. “A má política dos mitos”, O Estado de S. Paulo,15/7/2018.

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